A IDADE NÃO É ATESTADO DE (IN)COMPETÊNCIA E DE (IN)CAPACIDADE

POR MARIA LUISA ABRANTES

A capacidade de liderança pode ou não ser nata. Os “xaxeiros” têm uma capacidade nata desde crianças, tal como os falsos profetas iletrados, os falsos kimbadeiros, os falsos feiticeiros, que adivinham tudo, menos o número da sorte grande, etc.. O verdadeiro líder cimenta a sua liderança na sua visão, no seu poder para traçar estratégias, ouvir e liderar equipas e, conseguir, sobretudo, tomar decisões difíceis, visando a prossecução dos objectivos preconizados em tempo oportuno. 

Para um líder em formação, muitas das decisões para optimizar a organização e gestão das tarefas incumbidas, têm em conta a Lei dos Grandes  Números (estatística e probabilidade), a teoria dos jogos (antecipação da resposta à consequência da previsão da mesma, e não apenas à resposta imediata, etc.). 

Em França, Gabriel Attal foi nomeado na terça-feira (9/2/2024) como novo Primeiro Ministro, com 34 anos de idade. E já começaram as comparações incomparáveis, porque cada um dos cidadãos de qualquer país tem as suas características pessoais e culturais, forjadas, não apenas pela sua formação académica, mas pelo seu “habitat” (meio em que vivem e convivem). 

Há que ter em conta para além da formação e/ou do nível académico (o ensino francês é excelente, enquanto o ensino angolano é péssimo), as características distintivas de cada indivíduo, onde sobressaem os pressupostos do seu carácter, nomeadamente: ser pontual, capacidade para trabalhar sob pressão (não estar constantemente cansado(a), não passar vários dias em óbitos, não ter horas fixas para as refeições), ter interesse na experimentação, pesquisar e estudar diariamente, ter disponibilidade, não apenas para viajar para o exterior, mas também para trabalhar e viajar no interior do país, ou se necessário, trabalhar aos sábados, domingos e feriados. 

O actual Primeiro Ministro francês, antes de exercer o cargo de porta voz da Presidência da República e de Ministro da Educação, demonstrou ser não apenas um bom mobilizador de massas, mas um jovem com opinião (visão), investigador e comunicador responsável, tendo sido porta voz do Movimento República em Marcha, que levou o Presidente Emmanuel Macron ao poder.  O Presidente Macron também foi eleito para tão elevado cargo muito jovem, aos 39 anos, e teve a maturidade suficiente para estar já casado há 10 anos com a Primeira Dama Brigitte Macron, que na altura tinha 63 anos (24 anos mais velha do que ele, e hoje a caminho dos 71 anos de idade). 

Se não é todos os dias que são eleitos ou nomeados líderes que se destacam com pouca idade, também não é tão frequente jovens casarem-se com pessoas com mais de 24 anos (há o registo de mais casos ao contrário, mas por puro machismo que dispensa a responsabilidade). 

Desde que  exista meritocracia, cada vez será mais frequente assistirmos à lideranças desde mais tenra idade, quando acompanhadas de maturidade e de responsabilidade,  porque hoje em dia,  com a Inteligência Artificial (AI) e o poder do Marketing, estão na linha da frente de qualquer actividade. Para liderar diversas áreas de trabalho, a Inteligência Artificial é o única ferramenta suficiente e necessária, por ter abrangência global e um imediato e mais amplo impacto no mercado, não só por economia de tempo, mas também por economia de custos. 

Todavia, não obstante as violentas manifestações dos trabalhadores franceses que exigiam a redução da idade de reforma, o Presidente Macron não cedeu. A idade mínima de reforma em França é de 64 anos, a partir de 2023, desde que tenham contribuído com o montante convencionado para o efeito. A reforma, sem a antecipação, continua a ser aos 67 anos. Até aí, a idade mínima para a reforma poderia acontecer a partir dos 58/60 anos. 

São muitos desses trabalhadores, até os 67 anos e mais idosos, os assessores e consultores do executivo francês. 

Mas, em França não são consultores estrangeiros que elaboram os pareceres e todas as alterações à legislação. São cidadãos franceses de todas as idades.

Quem manda em França, são os franceses, não são os estrangeiros. Por outro lado, não só em França como nos países desenvolvidos e emergentes, os jovens não começam a trabalhar só depois de saírem da Universidade. A maioria dos estudantes estuda e trabalha em qualquer profissão, para obterem experiência de vida. Os que não trabalham durante o ano lectivo, fazem-no durante o período de férias, não raras vezes com a cooperação das escolas. Nesse país, um estudante de ensino médio sabe escrever sem erros, fazer contas básicas e inicia a pesquisa desde tenra idade na escola elementar.  

Em Angola, onde tenho sido docente, gestora e consultora, os jovens licenciados, mestrados e alguns dos ditos líderes, não sabem escrever e muito menos conjugar verbos. A jovem comentadora da TPA mais famosa diz “eles DISCOTEM, etc.”. Desde a independência no nosso país, sempre se nomearam jovens para os cargos mais elevados nos poderes Executivo, Legislativo e, infelizmente, no Judicial, por razões diversas, nomeadamente :

– Não havia melhor (1975 a 1977); 

– Não podiam ser fraccionistas (1977 a 1985);

– Tinha-se em conta a representatividade tribal (1990 a 2017);

– Tem de se ter em atenção a filiação partidária ao partido no poder, MPLA (2017 a 2024).

Em 1975, os ministros membros do Executivo nomeados pelo Presidente Agostinho Neto, tinham em média menos de 33 anos. Por exemplo, Nito Alves tinha 30 anos, José Eduardo dos Santos, Saidy Mingas, Tutu Lopes Teixeira, tinham 33 anos, e Carlos Fernandes tinha menos. O Presidente José Eduardo dos Santos nomeou ministros recém saídos da Universidade, na casa dos 20, 23 e 24 anos, tendo sido o mais novo de entre eles Alves Primo, como Ministro do Comércio Externo. O mesmo tem feito o Presidente João Lourenço. 

Antes não havia mais quadros, mas o Estado angolano já  financiou a formação de milhares de bolseiros académicos e trabalhadores no exterior. 

A pergunta que não se quer calar é: 

– O critério das nomeações de jovens tem sido a meritocracia? 

O Chefe do Executivo já respondeu em entrevista, para quem quis ouvir e foi claro. Eu resumo: Sem cartão de militante do MPLA não!

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