Implicações culturais e civilizacionais
Por Ngalula Mukuba
A história do islamismo em Angola tem início, precisamente, com a abertura ao multipartidarismo, no fim da longa guerra fratricida, por volta dos anos 1990. No tempo colonial, falar-se em islamismo, podia significar o mesmo que comprar uma passagem para uma viagem à lua. Predominantemente católicos, os portugueses que até limitavam, em certa medida, os movimentos das igrejas evangélicas, não digeriam o Corão, embora hoje exista implantação de muçulmanos em Portugal. Nos primeiros anos de independência, somente a religião Católica e derivações como a protestante, adventistas (sétimo dia) e testemunhas de Jeová, conseguiam navegar nos mares do monopartidarismo. Foi após a abertura ao multipartidarismo que surgiram seitas e igrejas por todo o canto e para todos os gostos, e o islamismo não ficou atrás. Penetrou por via de pequenos comerciantes que ocuparam espaço no meio dos mais desfavorecidos, criaram a sua mesquita e congregações, predominantemente nos bairros do Mártires e do Palanca; consolidaram-se e estenderam-se cada vez no território nacional, islamizando e agregando cidadãos a sua causa, como diz a sua recitação no Corão. Face essa nova realidade, deixamos para reflexão, a seguinte pergunta: até que ponto o islamismo é benéfico ou pode perigar a segurança do país? Por enquanto, tudo não passa de uma incógnita! Mas sendo os angolanos maioritariamente cristãos e animistas, e porque noutros lugares essa convivência não tem sido pacífica, até onde chegará a influência e o poder do islamismo em Angola?
Na abordagem deste segundo texto sobre o Islão em Angola, começaremos por fazer um breve comentário histórico, sobre as origens e a expansão da religião islâmica no mundo.
De acordo com vários historiadores, a religião muçulmana surgiu na Península Arábica, no séc. VII, pelas mãos de Maomé que teria sido inspirado pelo Espírito Santo, que lhe aparecia por intermédio do Anjo Gabriel. Mas, vejamos quem foi Maomé: segundo a obra sobre o Islão de Domenique Sourdel (publicações Europa – América), a personalidade daquele que viria a ser um dos profetas mais conhecidos a nível de todo o mundo, depois de Jesus Cristo, é absolutamente desconhecida antes da hégira, ou seja, da altura em que ele saiu de Meca, que viria a tornar-se a cidade mais sagrada do mundo muçulmano, para se refugiar em Yathrib (mais tarde denominada cidade de Medina) Arábia Saudita. Tudo o que se possa dizer a respeito de Maomé, é que ele teve uma infância pobre, perdeu os pais muito cedo e foi criado primeiro pelo avô e mais tarde por um tio. Segundo a história, com a idade de 25 anos Maomé foi trabalhar para uma viúva rica, chamada Khadija, que mais tarde veio a desposar, acabando assim a vida de pobre que levava. Depois de algum tempo de vida em comum, a viúva faleceu e Maomé desposou outras oito mulheres.
Logo que Maomé sentiu a sua vocação de profeta e de guia espiritual, começou a pregar aos seus vizinhos a submissão a Alá (Deus) e a obediência aos seus mandamentos. Reparando que não tinha o apoio necessário em Meca, sua cidade natal, abandonou, seguindo para Medina, outra importante cidade santa e histórica para o mundo muçulmano, numa viagem conhecida até agora por hégira, onde continuou com as suas prédicas que mais tarde seriam agrupadas numa obra com o nome de Corão (Qoram recitação).
Depois da morte de Maomé, em 632, sucederam-lhe Abu Bakr, Omar, Othman e Ali, este último considerado como o profeta descendente de Maomé, pelo lado dos muçulmanos xiitas, que foi barbaramente assassinado dividindo assim os muçulmanos em sunitas e xiitas.
EXPANSÃO DO ISLÃO. Com o mundo em expansão, os sucessores de Maomé entenderam que tinham que expandir a sua religião por todo mundo. Só que, por vezes, essa expansão não se fez de maneira pacífica. Pelo contrário, os muçulmanos, mouros, agarenos, sarracenos e outros nomes por que eram designados, tornaram-se conhecidos como guerreiros destemidos e extremamente aguerridos, que vergaram impérios. Não que fossem belicistas, mas as cruzadas levadas a cabo pelos países europeus, destinadas a libertar as regiões cómodas, lugares considerados santos dos muçulmanos, tiveram uma influência decisiva. Temperados por essas lutas onde se destacou um célebre político diplomata e chefe militar, Salla-Edin, conhecido no Ocidente por Saladino, os muçulmanos lançaram-se à conquista do mundo. Durante séculos dominaram a Península Ibérica, até serem derrotados em Poitiers, por Carlos Martel. Daí, retrocederam para Espanha e Portugal onde se mantiveram por muitos e longos anos, vindo mais tarde a ser expulsos pelos reis católicos de Espanha. Os que por lá permaneceram, foram convertidos à força. Mas a influência exercida durante séculos é ainda visível na linguagem, nos costumes, nalguma arquitectura, etc…
Na verdade, embora as guerras sejam um mal, delas resta sempre algo que se aproveita depois de uma série de batalhas. Antes das cruzadas e da invasão da Europa pelos muçulmanos, os europeus praticamente desconheciam vários ramos da ciência, ou não fossem os árabes muitos mais antigos, com uma história que já remontava há séculos. Assim, foi entre os árabes que os europeus descobriram o alfabeto, a geometria, a astronomia, a irrigação dos solos e muitas outras coisas, sendo também os árabes que introduziram, na Europa, plantas como a oliveira.
O ISLÃO HOJE. Falar do islão hoje é o mesmo que associá-lo ao terrorismo, as guerras fratricidas entre vários grupos étnicos dos petrodólares, da monarquia saudita ao poderoso grupo Wahaab, uma espécie de reserva moral da identidade muçulmana sunita. Por essas razões o islão não é visto com bons olhos, principalmente nos países de influência católica. Nalguns países é simplesmente tolerado, mas no Médio Oriente, é praticamente obrigatório.
O islamismo associa-se, muitas vezes, a actos de terrorismo praticados por alguns grupos fanáticos. Nos últimos tempos, por exemplo, em certos meios, a convivência entre cristãos e muçulmanos nem sempre é saudável. Reparem no caso concreto da Nigéria de há cerca de uma década para cá. Num rompante, surgiu, surpreendentemente, o grupo fundamentalista islâmico negro Boko Haram, que está implantado predominantemente no Norte desse país, nos estados maioritariamente muçulmanos, onde promoveram uma forma de luta aberta e sem quartel ao Governo Federal da Nigéria. Por sua via, assistiu-se a violentos confrontos entre cristãos e muçulmanos, maioritariamente nos estados do Norte, que se saldou em centenas de mortos e danos incalculáveis, com vilas, aldeias e igrejas pilhadas, objectos de cristãos saqueados, corpos carbonizados, enfim… imagens horríveis que chocaram o mundo, e que constituem provas do tamanho da intolerância e do choque na convivência pacífica entre as duas grandes comunidades religiosas. O cerne da questão, é que esse grupo de cariz muçulmano pretende submeter a minoria cristã naquela região aos princípios e práticas do Islão. Tal atitude teve uma reacção em cadeia em todas as cidades. Mas, ainda assim, o Islão não deixa de fazer prosélitos.
No nosso país, o islamismo é um fenómeno relativamente recente. O teor deste texto começa a ter verdadeiramente interesse, por se tratar de uma abordagem de um dos conflitos religiosos da actualidade mundial, cuja comunidade, uma parte dela, está já presente e enraizada entre nós: desde paquistaneses xiitas, libaneses sunitas e xiitas indianos muçulmanos, sauditas, mauritanianos, nigerinos, senegaleses, malianos e muito mais nacionalidades desta confissão religiosa monoteísta. Tais elementos destes países dispõem de certa folga financeira, o que facilita a sua penetração e afirmação no mercado interno, sobretudo na periferia dos principais centros urbanos e dominarem-no. Parte do dinheiro ganho, é também transferido para os países de origem (questão que os economistas podem analisar com mais profundidade).
A primeira grande mesquita em Luanda surgiu com o patrocínio de um influente político de nacionalidade maliana, o falecido Alioun Blondi Mbeye, que foi representante do secretário-geral das Nações Unidas em Angola e mediador no processo da paz, no período da guerra fratricida, fruto do seu carisma junto das autoridades e o contexto daquela altura. A comunidade muçulmana viu assim, realizar-se um dos seus sonhos: a autorização da construção da sua grande e principal mesquita (igreja) em Angola, cujo propósito é, também, a difusão, propagação e agregação de mais fiéis no território nacional. E começou a surtir o efeito multiplicador que se esperava! Logo, bom número de angolanos começou a aderir em grande escala, ganhando na comunidade local nomeações e títulos estranhos à nossa cultura, que conta com a união marital com jovens angolanas submetidas.
Segundo Bonvine, sociólogo italiano, a identidade cultural é mais perigosa do que a identidade política, porque é da identidade cultural que se tem em conta e traçam-se as políticas de um Estado. Assim, amanhã, Angola poderá ver-se forçada a alterar a sua Constituição, por se debater também no seu território, com a existência de duas grandes comunidades religiosas monoteístas e antagónicas. Face esta convivência, consequência da imigração ou, como muitos consideram, de uma ‘invasão silenciosa’ devidamente engendrada, Angola terá boa parte dos seus cidadãos praticantes dessa religião em grande escala que ganha, na comunidade local, nomeações e títulos estranhos a nossa cultura: expressões como imã, imbambes, mufti, referem títulos de origem muçulmana que designam autoridade.
O número de angolanos convertidos por essa religião começa a ser motivo de preocupação. Uma das particularidades do Islão, é o facto de intervir energicamente em todos os aspectos da vida do homem, tanto na vida privada como familiar, na actividade social, na política, na cultura, no sistema judicial. Com a intervenção desse grupo e das suas práticas, essas instituições correm o risco de se subordinarem às leis religiosas e o exemplo mais acabado desta inquietação provem da Líbia pós Kadhafi, onde as novas autoridades integrantes do Conselho Nacional de Transição (CNT) prometeram impor a Sharia. Mustapha Abdul-Jalil, importante membro daquele conselho, disse “que é importante a implantação da Sharia, na Líbia, que significa caminho para respeitar a lei de Deus”, mais sem qualquer respeito pelos valores dos indivíduos (direitos humanos) o que a acontecer, ‘legitimará’ actos de lapidação (apedrejamento), ablação (extirpação de membros) e outras práticas como execuções públicas e torturas, uma violação total dos direitos humanos e que constituem um atentado a nossa soberania, como está definido na Constituição nos artigos que seguem:
Artigo 10º (Estado laico)
1. A República de Angola é um Estado laico, havendo separação entre o Estado e as igrejas.
2. O Estado reconhece e respeita as diferentes confissões religiosas, as quais são livres na sua organização e no exercício das suas actividades, desde que as mesmas se conformem à Constituição e às leis da República de Angola.
3. O Estado protege as igrejas e as confissões religiosas, bem como os seus lugares e objecto de culto, desde que não atentem contra a Constituição e a ordem pública e se conformem com a Constituição e a lei.
Tais princípios não são compatíveis se o Islão não se despir de tais preceitos contidos no seu livro sagrado, o Corão. Um destes princípios, a Jihad (guerra santa) “é a batalha por meio da qual se atinge um dos objectivos do islamismo”, como diz o livro santo dos muçulmanos: “Matai os idolatras onde quer que os aches, capturai-os, cercai-os e usai de emboscada contra eles… quando no campo de batalha enfrentardes os que descreem, golpeai-os no pescoço, combatei os que não creem no último dia, os que não proíbem o que Deus e o seu mensageiro (Maomé) proibiram… até que paguem, humilhados, o tributo… e combatei-os até que não haja mais idolatras e que a religião pertence exclusivamente a Alá (Deus)”.
Estas recitações estão contidas no Corão, na sura (versículos) 9:5; 47 9:29; 8:39. Podemos reparar que os idolatras, aqui, são os cristãos (Angola), o país cristão animista mais antigo da África, com forte presença religiosa convicta. Podemos reparar que os idolatras aqui, são os cristãos (Angola) que acreditam na Trindade (sura 4:171; 5:72-73) que, para os islâmicos, é considerado idolatria. Atente-se para o grande perigo que constitui essa religião na relação com as demais!
Face o interesse desta minha pesquisa, mantivemos conversa com um importante chefe da mesquita, em Luanda, situado no bairro dos Mártires onde reside um elevado número de angolanos convertidos, dentre os quais oficiais da Polícia Nacional e do Exército, funcionários públicos e jovens a quem fizeram crer que não se deveria olhar profundamente para essas recitações, mas quando confrontados optaram pela fuga, a pretexto de que tinham questões importantes a fazer! Os nossos compatriotas foram os primeiros a tomar iniciativa de abandonar o local por, certamente, não lhes interessar aquele nível de conversa com um intruso e responder ‘perguntas impertinentes’. Posso afirmar aqui que, após profunda análise desta religião monoteísta, que o Islão é uma religião bastante inquietante, e para os mais radicais, constitui um perigo justificado pelo conteúdo do seu livro sagrado, o Corão, que tem recitações que atentam contra a segurança de um Estado como Angola e de todos os países que seguem o modelo liberal e laico.
Esta prova vem-nos dos próprios países muçulmanos e um exemplo que perdura à décadas é o do Líbano: é um pequeno país muçulmano onde coabita no seu território uma forte comunidade cristã, cujos membros são muitas vezes perseguidos e mortos! Muitos deles abandonaram o país, em consequência dessa intolerância e instabilidade político/religiosa. Na Argélia, nos primórdios da sua independência, devido à afinidade rácica e cultural, coabitavam naquele território uma vasta comunidade cristã detentora de imóveis, igrejas congregações, etc… O governo argelino confiscou esses bens, converteu-os em bibliotecas, mostrando claramente que não tolerava a existência de outra religião no seu território. Nas ilhas Molucas, na Indonésia, a maioria dos habitantes locais é cristã e aquela região foi palco constante de violentos confrontos entre cristãos e muçulmanos. Tudo isso deve deixar os angolanos apreensivos, face o real propósito da presença muçulmana (ou da tal invasão silenciosa) porque a grande questão não é a religião, mas sim, qual será a resposta e o comprometimento dos cidadãos nacionais convertidos à essa religião.
NR: Leia, comente AQUI, partilhe e participe no debate livre de ideias em prol de uma Angola inclusiva. Contribua para o aprofundamento do exercício de cidadania.
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