Falta de respeito aos profissionais da dança

A Companhia de Dança Contemporânea de Angola (CDC Angola), manifestou a sua indignação pela designação de “Palácio da Música e Teatro de Luanda” atribuída ao antigo Cine -Teatro Restauração, após ter sido a sede da Assembleia Nacional, propondo que se designe Centro Cultural de Luanda.

O descontentamento da CDC Angola surge como reação ao despacho presidencial com o nº 186/21 publicado em Diário da República Iª Série nº 208 de 4 de Novembro, em que o presidente da República, João Lourenço, autoriza a realização de despesa estimada em 88.390.000 USD https://kesongo.com/luanda-tera-palacio-de-musica-e-teatro/ para a empreitada de reabilitação e apetrechamento daquelas instalações, dando seguimento a um processo decidido na última reunião do Conselho de Ministros orientada por José Eduardo dos Santos, onde se decidiu reconverter aquele “espaço para espectáculos de teatro e de música, podendo igualmente as áreas adjacentes serem utilizadas para exposições de artes plásticas, conferências e outras manifestações de cultura”.

Sendo fundamental para nós, artistas, termos finalmente uma sala de espectáculos condigna, a CDC Angola começa por considerar em comunicado de imprensa que no foi endereçado, que “a notícia da reabilitação para devolução à sociedade do maior teatro que a cidade de Luanda alguma vez teve deverá ser, sem quaisquer dúvidas, um motivo de celebração”.

Todavia, argumenta que, “se, por um lado, a designação de “Palácio” há muito caiu em desuso, por nos remeter para um contexto de regimes políticos em decadência que instrumentalizavam as artes mantendo-as cativas da sua grandiosa máquina propagandística ditatorial, por outro, marginaliza, numa total falta de respeito e consideração, os artistas / profissionais da dança”.

A Companhia de Dança Contemporânea de Angola que é também membro do Conselho Internacional da Dança da UNESCO (CID), refere de igual modo no seu comunicado que, “o facto deste nome, atribuído há́ já́ alguns anos, permanecer num despacho actual, sem ter sido questionado, deixa-nos a todos apreensivos e livres para confirmar que se trata de mais um sintoma de que os assuntos ligados às artes estão, perigosamente, confiados a mãos com preocupantes debilidades neste domínio”.

Como argumento de sustentação, a CDC Angola clarifica que “nos seus diversos contextos, géneros e formas, tem contribuído para o surgimento e visibilidade de outras propostas estéticas e de outras linguagens artísticas que incluem e transcendem a música e o teatro”. Assim, “propõe uma reflexão sobre esta pluralidade de discursos criativos que vão desde a utilização das novas tecnologias digitais aos espectáculos multidisciplinares, que são igualmente excluídos nessa designação antiquada e discriminatória” que, como sugere, se deve “alterar, urgentemente”.

Do mesmo modo, a CDC Angola alerta que “além de encorajar a que se desista de olhar para a dança como uma actividade recreativa e de lazer, a mais antiga companhia de dança profissional angolana propõe que o antigo Cine – Teatro Restauração e ex-Assembleia Nacional se chame Centro Cultural e Luanda dignificando, de forma democrática, despretensiosa e integradora, quer a cidade quer todos os profissionais de todos os quadrantes artísticos, sem descriminações”.

Acreditando que Angola ainda valoriza os peritos com formação, conhecimento e experiência nas diversas áreas profissionais, esta instituição de dança angolana põe à disposição a idoneidade dos seus conhecimentos técnicos, bem como a sua reconhecida experiência em assuntos relacionados com salas de espectáculos, para acompanhar quer o projecto, quer a reabilitação deste novo espaço cultural, por forma a que não se incorra nos erros graves já cometidos (na sua maioria irreversíveis) relativamente ao Cine – Teatro Nacional e ao Teatro Avenida.

O comunicado de imprensa da CDC Angola refere que “orçamentar um local de trabalho para os artistas não é despesismo”, constituindo sim, “uma obrigação e um investimento estruturante para o progresso social que todos desejamos”.

“Nós, os humanos, somos parte material e parte espiritual, sendo que esta não se esgota na religião mas se prolonga na arte. Portanto, hospitais para médicos e enfermos, escolas para professores e alunos e teatros para todos os artistas e para o público” ressalta a CDC Angola em defesa dos desígnios de um movimento que, de facto, já foi mais respeitado e até acarinhado.

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