Terão os assessores do Presidente desrespeitado a memória das vitimas do 27 de Maio pela campanha eleitoral?

Se o Executivo do partido no poder tivesse seriamente engajado com a verdade e com a reconciliação, teria constituído uma Comissão da Verdade e não se escudaria em pactos de silêncio e de um grande  elogio fúnebre do Presidente da República ao General Ludi Kissassunda.

Por Maria Luísa Abrantes

A partir de 2006, dois anos após o processo de paz de Angola, a 4 de Abril de 2004, dava gosto ser angolano. Em qualquer país do mundo eramos respeitados, porque o país estava em pleno desenvolvimento, a nossa moeda estava forte, os estrangeiros disputavam um emprego em Angola e os angolanos que andavam a sofrer pelo mundo regressavam e começaram a trabalhar no que podiam, dando o seu contributo no processo de reconstrução nacional. 

Era ver os voos para a China, Índia e Turquia, via Dubai e antes para Lisboa e Brasil, cheios de vendedor(a)es do mercado Roque Santeiro, de zungueiras e até camponeses, o que é fenômeno invulgar nos restantes países do mundo. 

Muitos bolseiros, filhos de gente anônima, entravam anualmente em boas universidades no exterior, e outros eram financiados pelos seus progenitores, que saíram da pobreza para a classe média. 

E hoje? Prefiro deixar a resposta em referendo para a maioria. 

Sinto-me completamente embaraçada, para não dizer envergonhada, porque os assessores do Presidente da República só o fazem cometer gafes grosseiras atrás de gafes. O pior, é que as gafes passam nos noticiários internacionais. 

O problema é que os nossos governantes confundem o significado de boas relações comerciais e protocolos de intenção, com a “amizade ” política e relações econômicas recíprocas. Mas isso daria um outro texto.

Desta vez não se trata de uma gafe, mas de uma “bomba”, para qualquer ser humano que tenha senso comum e que seja uma pessoa normal. Para quem acha que até é normal comer do contendor do lixo, não se espera muito. 

O Executivo angolano, tal como muitos intelectuais receavam, não se importou para ganhar tempo e obter  a simpatia da comunidade internacional e os votos da população, de com todo os desprezo pelas famílias das vítimas dos fuzilados do processo de 27 de Maio de 1977, entregar as ossadas sabe-se lá de quem, aos seus familiares. Acabou faltando ao respeito também aos cadáveres e às famílias pobres, cujos restos mortais foram profanados.

A 26 de Maio de 2021, escrevi um texto a esse respeito, no qual manifestava a minha tristeza e o meu total descontentamento, pelo facto de ter-me apercebido da manobra de diversão, de pura manipulação da opinião pública nacional e internacional pelo Executivo angolano. O mesmo visava desanuviar o ambiente tenso que pairava, pela deficiente gestão do país, desrespeito pelos direitos humanos e ganhar o pleito eleitoral de 2022, que mesmo assim foi ganho de “jure”, mas não de facto. 

Mais uma vez, a ansiedade de avançar e de conseguir resultados positivos sem trabalhar, pode possivelmente ter levado a acatar maus conselhos do Serviço de Segurança Interna, que sempre funcionou com métodos arcaicos.  

O Serviço de Inteligência Interna, pela limitação dos seus quadros de chefia, dá mostras de trabalhar com métodos ultrapassados, em vários casos  baseados na intriga e assassinatos, numa mescla de métodos de Kinkuso, (relembrando os tempos em que alguns deles eram da BJR, braço juvenil da FNLA) e o método do assassinato cobarde do tempo de Agostinho Neto (que mandava matar) , mas dizia que era diferente de Jonas Savimbi e de Holden Roberto. A única diferença entre Agostinho Neto, Jonas Savimbi e Holden Roberto , não era nenhuma, porque todos mandavam matar, embora Savimbi não tivesse receio de olhar nos olhos dos assassinados, ainda que fossem crianças. 

Estou ciente que me exponho mais uma vez, a receber telefonemas intimidatórios, blasfêmias e adivinhem por mim o que mais …, dos fanáticos e dos cobardes, ou doentes mentais, que veneram as três figuras que referi, mas estou preparada. 

Sei que entendem, que foram os três cidadãos que referi os pais da independência. Esquecemo-nos, todavia, que o início da luta armada pela independência de Angola, foi projecto do Cônego Manuel das Neves e de muitos intelectuais, apoiados por operários e camponeses, que quando tentavam pensar pela sua cabeça, foram fuzilados pelos seus movimentos de libertação e hoje são proibidos até de trabalhar, por dizerem a verdade. Porém, a derrocada final para que Portugal desse a independência recusada até o fim a Angola, foi,exclusivamente, da população residente em Luanda (de várias origens). 

Se o Executivo do partido no poder tivesse seriamente engajado com a verdade e com a reconciliação, teria constituído uma Comissão da Verdade e não se escudaria em pactos de silêncio e de um grande  elogio fúnebre do Presidente da República ao General Ludi Kissassunda. 

Os participantes directamente ou indirectamente no conhecido processo de 27 de Maio de 1977, chegaram a enviar-me o seguinte recado: “vamos pô-la em tribunal, porque nós vamos desmentir e as testemunhas vão dizer que não se lembram”. 

Tenham pelo menos vergonha, já que nunca tiveram carácter. 

Chega de impunidade de todos aqueles que participaram no processo do 27 de Maio de 1977 e que ainda estão vivos. 

Para os jovens que desconhecem a história recente relembro, que foi a população de luanda que lutou e que conseguiu a independência de angola, e colocou o MPLA (que já pouco representa a população) no poder, por pensar, ingenuamente, por desconhecimento,  que não era um movimento racista, tribalista e tão ditatorial. 

Os cidadão deste país só têm a governação que merece, porque a maioria  sofre calada e a minoria é bajuladora  oportunista e estará presente em “todas”, desde que lhe deixem. 

Aos últimos não importará o partido, desde que esteja no poder.

 

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