Os heróis vivos da Batalha do Cuito Cuanavale

Os verdadeiros heróis vivos pela libertação da África Austral, que começou por Angola e Moçambique, não se escondiam em baixo das camas, nem das escadas, enquanto os combatentes valentes morriam, ou ficaram mutilados. 

Maria Luísa Abrantes

Em Angola só se veneram as estátuas, porque os mortos já os esqueceram, sendo o maior exemplo o do Arquiteto da Paz, José Eduardo dos Santos. Paradoxalmente, os generais de Gabinete, também esqueceram-se completamente dos combatentes de verdade, que hoje deambulam pelas ruas como indigentes, a mendigar de mão estendida, em todas as províncias de Cabinda ao Cunene. 

Os verdadeiros heróis vivos, os antigos VERDADEIROS combatentes da pátria e não os de ocasião, (que se intitulam da mesma forma, só porque estiveram a residir fora do país, ou são seus descendentes), estão duplamente fragilizados, porque já estão na 3ª idade. Esses mereciam maior atenção, proteção e respeito . 

Os que estão inscritos como antigos combatentes, e não estão todos, sobrevivem com cerca de 50 kwanzas por dia. Isso faz-se?

A maioria dos senhores jornalistas, tal como os pseudo jornalistas, sobretudo os que têm portais, não denúncia essa falta de respeito pelos direitos humanos dos antigos combatentes indigentes, porque eles não têm dinheiro para pagar a encomenda das notícias, nem têm influência para chegar ao poder e arranjarem-lhes no futuro próximo um “tacho”, ou benesses. 

Defende-se o direito à habitação a alguns ocupantes de má fé de terras públicas e privadas, mas porque não defendemos o direito à habitação condigna IMEDIATA dos verdadeiros heróis, veteranos da Pátria indigentes e, para esses, GRATUITA? 

Até quando o monopólio da IMOGESTIN, imobiliária de pessoas ligadas ao poder, vai continuar a enriquecer, ganhando acima de 300%, vendendo casas do Estado que nem legaliza?

Esses heróis, hoje mendigos, que dormem na rua, ou entravam voluntariamente no exército, ou eram apanhados nas rusgas, mas nunca sabiam quando os deixariam sair. Entravam com tenra idade, após a independência a partir dos 17 anos de idade. Antes da independência não havia idade. Havia crianças transformadas em soldados. Que o diga o Dr. Sérgio Raimundo, que entrou aos 12 anos de idade. 

Os verdadeiros heróis vivos pela libertação da África Austral, que começou por Angola e Moçambique, não se escondiam em baixo das camas, nem das escadas, enquanto os combatentes valentes morriam, ou ficaram mutilados. 

Hoje, os heróis vivos como já não servem, porque nunca foram bajuladores, foram descartados e atirados para indigência. 

Não podemos aceitar, por cobardia, que os nossos verdadeiros heróis continuem a morrer amargurados, magoados, famintos, envergonhados, alegando que não tiveram emprego porque saíram do exército depois da idade de recomeçar, ou porque são analfabetos, porque temos vários  analfabetos bajuladores que chegaram a “Generais” a viverem bem, incluindo os que comprovadamente participaram em actos hediondos. 

Respeitemos os nossos heróis vivos agora. Não depois de serem transformados em estátuas de pedra.

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