O ACTUAL CONFLITO NA PALESTINA EXORCIZA OS DEMÓNIOS COLONIAIS

LUÍS BERNARDINO*

A retaliação bíblica de “olho por olho, dente por dente” tem redundado nos últimos decénios de confrontação entre israelitas e palestinianos na prática, por parte de Israel, da variante de dez (ou cem ou mil?) olhos palestinianos por um olho israelita. Os números na fronteira do Líbano em 2006 (com destruições  no terreno que levariam anos a repor), em Gaza em 2014 e em 2021 (com igual destruição),  assim como o que se passa no dia a dia na Cisjordânia (onde os fanáticos sionistas já deliberadamente inviabilizaram a criação de dois Estados em favor dum grande Israel) dão conta da morte de milhares de palestinianos (muitas crianças ) contra a perda  de israelitas cujo número se pode contar com os dedos da mão.  O facto que desta vez as mortes em Israel se cifrarem excepcionalmente em cerca de 1400 (desta vez, sim, o mais de milhar de mortos mereceu simpatia e motivou grandes gestos de repulsa relativamente aos seus autores…) não nos deixa infelizmente dúvidas de que a carnificina que punirá os palestinianos não cessará antes da retaliação sobre dezenas de milhar de vítimas. Tal é a dialéctica racista do colonialismo sionista, que hierarquiza o valor das mortes, consoante se trata dum “indígena” ou dum “colono”.

Este racismo, que constituiu uma constante  do domínio colonial através da História, mantém-se infelizmente como um traço ideológico nas sociedades  Ocidentais, mesmo que encoberta a frio pelo politicamente correcto nas sociedades pós-coloniais. Mas em dramas como o presentemente vivido no Médio Oriente, veio ao de cima, não só nos  centros de poder da América e da Europa (para quem conta muito, também,  a geoestratégia), como nos meios  de informação que controlam a opinião pública desse países, o claro favoritismo, teórico e, hélas, prático que lhes merecem  os colonialismos, ainda que tardios, as análises eurocentristas de como se deve organizar (ou desorganizar?) o Mundo, a indiferença  racista  perante os direitos e o sofrimento de populações com que  não se identificam, a  aprovação da ampliada violência de guerra “civilizada” dos aliados do Ocidente e o silenciamento da  humilhação, sofrimento e morte de milhares de pessoas. 

Do que tenho lido e visto nos meios de informação portugueses, não obstante as raras e corajosas excepções que me merecem o maior apreço, parece-me que a grande central internacional de imagens e informações que está montada para selectivamente mostrar o Mundo da forma maniqueísta que convém à Pax Americana, está condicionando fortemente as sensibilidades e opiniões e, infelizmente, a trazer ao de cima a matriz colonial e racista ainda vigente.

18.10.2023

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