POR UM PAÍS PARA TODOS: É URGENTE DEFENDER O ÓBVIO

O óbvio são as pessoas e o seu bem-estar social. O óbvio é o respeito pelos seus direitos elementares e inalienáveis. O óbvio é a paz no prato. Longe dos contentores. Da esmola. Da indigência. É a alimentação segura, garantida. Que nutre. Que acrescenta vida. Combate doenças. Protege a família. A morte da fome. A responsabilidade institucional de garantir que ninguém fica para trás. A assistência social funcional e universal. 

ALEXANDRA SIMEÃO* 

O óbvio é não ficarem 3 milhões de crianças sem escola, todos os anos. É uma escola que faça sentido e tenha rigor. Com professores competentes e bem remunerados. Uma escola onde os seus livros mostrem a verdade histórica e não a verdade militante que se apropria e subverte a realidade. Onde o pensamento crítico seja encorajado. Onde aprender seja um prazer. Uma escola que construa cidadania, valores, dignidade e preserve a nossa cultura. Que dê cor e sentido à vida das crianças. Que as faça sonhar. Que seja capaz de educar crianças para que sejam adultos íntegros, generosos, conscientes e éticos. 

Óbvio, 48 anos depois, é uma cama no hospital da aldeia com lençóis, refeições e água corrente, com médicos, enfermeiros, técnicos que tenham asseguradas as condições de vida e de trabalho. Com aparelhos indispensáveis para honrar a vida. O Direito à saúde universal e gratuito. É o respeito pela vida. Pela dignidade dos angolanos. Pela sua segurança. Pelo futuro.

Óbvio é o povo de Cabinda viver com dignidade pois é lá que está o cofre do Estado. Óbvio é o povo do Sul ser atendido sem ter de atravessar a fronteira a pé para beber água na Namíbia. É vermos os seropositivos, os diabéticos, os hipertensos, terem medicamentos gratuitos, sem interrupção. É cuidar da hipertensão antes que ela coloque o doente numa cama de hemodiálise cujo custo é elevadíssimo. É não ter uma justiça superior teleguiada pelo palácio. É não aceitar que existam corruptos úteis e corruptos descartáveis. 

Defender o óbvio é defender a renovação. A capacidade de perceber que o passado já não tem futuro político. O nosso passado foi comprometido por todas as cabalas. Aquele Maio que eliminou milhares de pessoas, uma ferida que continua aberta. A guerra pelo poder. A mentira. A morte da felicidade do povo independente. A corrupção. O passado não será capaz de se renovar. De ser inovador. Os exemplos maus tornaram-se segunda pele. No nosso caso está provado que não se muda a essência porque se mudou de bancada ou de líder. Não se a faz diferença mantendo-se no mesmo registo que provou ser ineficaz aplaudindo o que está errado apenas por obediência ao cargo. 

Este presente cheio de dor, despido, sem escolaridade, descalço, sem tecto e faminto para a maioria dos angolanos está a ser sacrificado e derrotado todos os dias. O MPLA ainda acredita que o futuro se constrói no futuro. Nunca percebeu que o futuro é como a tamareira. Leva muitos anos a dar o primeiro fruto. Não aprendeu a plantar. Não sabe esperar pela colheita. Continua defensor do imediatismo. Do improviso. Da ensurdecedora e deprimente de promoção da imagem do líder. 

A meio do segundo mandato e afundados numa governação sem visão, na falência, sem lógica, sem rigor no investimento público e sem ciência é visível e preocupante a falta de prioridade para o que é óbvio. Este mandato de aspirações faraónicas está assente na crença de que uma milionária publicidade resolve as todas as dores da insuficiência. Todos os dias somos surpreendidos com o despropósito do discurso. O hilariante termo de comparação. O desviar da culpa. A dissonância cognitiva. O não faz sentido. O desgastado que é resgatado. O mesmo caminho. A mesma lógica distorcida e ineficaz. 

Nestes longos anos de abandono as pessoas nunca foram tidas em conta. Nem na guerra. Nem na paz. 

A convicção de que o povo se vira tornou-se a regra. O Poder descomplicou a urgência. O povo pode esperar. Sempre esperou. Morre e nasce em silêncio. São muitos. Ingratos que não dão valor ao esforço do Governo, dizem eles. Os eleitos pelo povo, abandonam o povo a cada eleição. O luxo, a vaidade e a distância atropelam a coerência. Definham a sua luta por um país para todos. Perdem a serventia. Perdem o povo. 

É urgente defender tudo o que é óbvio e que seja imperativo para trazer futuro para esta equação. Temos de acreditar que é possível construir uma nova ANGOLA com dignidade. Angola é do povo. Não é dos partidos. 

*Novo Jornal edição de 15.02.2024

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