NESTE 27 DE MAIO DE 2025

Desmond Tutu lembrou-nos que “A reconciliação verdadeira nunca é barata, porque ela é baseada no perdão, que é caro. O perdão, por sua vez, depende do arrependimento, que é baseado no reconhecimento de que se fez algo de errado, e por isso, depende da revelação da verdade. Você não pode perdoar o que desconhece”.

CESALTINA ABREU

Colocar em prática esse processo implica a coexistência simultânea e assumida de vontades, de todos os envolvidos, para:

  1. Procurar e ajudar a descobrir a verdade dos factos, das ocorrências, dos acidentes, dos crimes, dos silenciamentos, das violações, dos desaparecimentos;
  2. Reconstituir e reconhecer os actos praticados / os factos ocorridos e as suas consequências;
  3. Assumir publicamente a responsabilidade pelos actos praticados / factos ocorridos e as suas consequências, e expressar arrependimento de forma consistente e credível; pedir perdão às vítimas, seus familiares e próximos, e à sociedade, publicamente;
  4. Promover, nesse processo, a construção colectiva de uma visão para o futuro, de modo que as causas que estiveram na origem dos actos / factos ocorridos não voltem a acontecer;
  5. Tecer um Pacto de Conciliação Nacional para orientar o país em direcção ao futuro, cujos alicerces assentem, na verdade, encontrada, no reconhecimento declarado, no arrependimento manifesto, e no perdão solicitado e concedido.

Defendo, há anos, a necessidade de um Pacto Social para Angola (2003) e de um Pacto de Compromisso com o Futuro (2018)(1). Nessas ocasiões, argumentei que Angola precisa de um projecto nacional visando a concretização do ideal revolucionário da agenda da luta anticolonial, através de um processo de mudança social orientado para a democratização política e social, e o desenvolvimento multidimensional, incluindo as componentes cultural e ambiental, ampliando a cidadania a todos os angolanos e construindo a Angolanidade que nos falta, ancorada no reconhecimento da diversidade que nos caracteriza e nas diferenças que nos constituem. A construção desta identidade nacional – através das mesmas instâncias e/ou plataformas de

diálogo para a Conciliação acima referida -, com a criatividade e a coragem inovadora de procurar o seu próprio caminho, promoverá uma coalizão social crescentemente mais ampla, capaz de conduzir à negociação do Pacto Social (ou Contrato Social, se preferirem), como o primeiro passo para um verdadeiro processo de (re)conciliação nacional, a partir da discussão crítica das causas não só da prolongada guerra civil, mas também dos trágicos acontecimentos que marcaram com luto, com dor, com indignação, com vergonha, diferentes etapas da nossa existência como país, e que exigem reparação, justiça, e o compromisso de não permitir que se repitam!

É preciso pensar a Paz como um bem público, colectivo, de todos, e criar as condições para que todos não só contribuam para a sua construção, em processo, como beneficiem dos dividendos!

1 Abreu, Cesaltina. 2003, coordenação de uma pesquisa para o A-Ip (Instituto de Pesquisa Económica e Social) para servir de suporte ao relatório de Desenvolvimento Humano de Angola de 2004. Abreu, Cesaltina. 2018. “‘Que’ Ciências Sociais para ‘que’ Desenvolvimento”? VIII Colóquio da Faculdade de Ciências Sociais da UAN

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