
Ouvindo o programa “conversas essenciais”, no passado sábado 29.03.2025, foi bonito ouvir o veterano jornalista Graça Campos, retratar-se das palavras ofensivas que teria dirigido ao jovem activista Gangsta, no programa, no sábado anterior, 22.03.2025. Com o gesto, Graça Campos demonstrou uma certa nobreza, reconhecendo que usou palavras rudes que não tiveram razão de ser.
O que me leva a debruçar sobre este tema é o facto de (eu) estar directamente na origem deste choque, se assim, posso considerar, uma vez que a reacção de Gangsta surge na sequência da decisão da direcção Rádio Essencial retirar das suas plataformas digitais, a entrevista que eu havia concedido, no dia 18.03.2025, e, tendo a direcção da rádio assim decidido logo no dia a seguir, 19.03.2025, sem nenhuma explicação prévia. É claro que, a sociedade reagiu ao facto e o jovem Gangsta não foi o único a manifestar inquietação. Foram várias as pessoas que o fizeram pelas redes sociais, publicamente, emitindo as suas opiniões a respeito da decisão, e, também o seu repúdio. Obviamente, cada um fazendo o seu juízo sobre o sucedido – ou seja, o ocorrido durante a entrevista – e as prováveis razões que teriam feito (fizeram) com que a entrevista fosse, no dia seguinte, imediatamente banida das plataformas digitais da rádio.
Ao fim da tarde do dia 19.03.2025, a direcção da Rádio Essencial fez sair uma nota justificando os motivos pelos quais teve de retirar a entrevista das suas plataformas. Por estranho que pareça, o argumento apresentado na referida nota para a sua decisão, foi, alegadamente, “falta de provas irrefutáveis” para sustentar as minhas afirmações. Acontece que além de ser um frágil pretexto, era um esclarecimento absolutamente contrário, ao teor dos meus pronunciamentos, com o agravante de no fim da referida nota, a direcção rádio não se coibir de atacar a minha reputação e integridade moral e intelectual, insinuando, algum conflito pessoal entre mim e o senhor general Fernando Garcia Miala.
Escusado será dizer, como foi (é) possível ouvir, ao longo da entrevista que a minha narrativa cinge-se, num conjunto de violações às normas que regem e regulam o funcionamento do Serviço de Informações e Segurança do Estado (SINSE), não sendo, o único prejudicado. A diferença é que, eu decidi fazer um estudo e traçar o perfil psicológico do actual chefe do SINSE, Fernando Garcia Miala, com recurso à especialistas de outros ramos do saber e analisando factores objectivos, sendo certo que, as provas existentes e suficientemente palpáveis servem efetivamente para confrontar o que estabelecem os diplomas legais. Além de pessoas que podem testemunhar os factos.
No entanto, este já não é o cerne desta abordagem. O que aqui pretendo analisar é, em primeiro lugar, o facto de o veterano jornalista Graça Campos reagir de forma irascível, despejando todo o fel da sua insatisfação sobre o jovem Gangsta, por alegadamente, no seu entender, este jovem encabeçar uma “campanha” contra a direcção da rádio (não sendo puramente, verdade), e o acusando ainda de ser “sustentado pelo regime” sem que tivesse apresentado quaisquer provas para as suas afirmações.
Ironicamente, Graça Campos, faz uso do mesmo canal da rádio, em que, por um lado, sai em sua defesa justificando princípios éticos, morais, deontológicos e, quiçá, jurídico-legais, e, por outro, ofende e acusa alguém sem ter em conta os mesmos factores que vem defender. Como diz o ditado: é pela boca que o peixe morre.
Enquanto isso, o jovem Gangsta saindo em defesa do seu bom nome, honra e dignidade e do seu direito de livre expressão contra uma agressão deliberada, não podendo aqui agora desvelar qual terá sido o critério de Graça Campos, para que o Gangsta fosse o alvo predilecto do seu ataque verbal à queima-roupa, ficou a lição que o jovem Gangsta deu a muitos de nós. Gangsta deu para muitos de nós, uma aula de civismo, educação, tolerância e respeito. Tratou o veterano jornalista Graça Campos por “ancião” (sinónimo de muito respeito), chamou-o de “Kota” (para alguém como o Kota Graça Campos que é ambundu de Malanje como eu, sabe o peso e o significado deste qualificativo), e dirigiu-se para ele, no vídeo que viralizou nas redes sociais, com “todo o respeito” para responder a um vil ataque de que tinha sido alvo pelo simples facto de fazer uso do seu direito de pensar e de se expressar. O jovem Gangsta demonstrou um altíssimo nível de civilidade. Demonstrou grandeza.
Em segundo lugar, como sociólogo conheço e acompanho bem, quase todos os sectores da nossa sociedade, principalmente, da nossa chamada “sociedade civil”, ou da nossa “classe intelectual”, como se quiser entender. Existem correntes e segmentos desta dita classe intelectual ou sociedade civil que pensa que tem o monopólio da palavra. Existem determinados grupos da nossa sociedade que pensam que só eles têm o direito natural de opinião; só eles devem criticar quem quer que seja, porque são eles que detêm a verdade sobre todas as coisas. Ou que este direito de livre pensamento e de expressão é um dom exclusivamente adquirido de uma única espécie que lhes foi divinamente atribuído.
Não me estou a referir a ninguém em concreto até porque qualquer um destes indivíduos está bem identificado. O que eu aqui gostaria de chamar à reflexão da sociedade, depois de ouvir o veterano jornalista Graça Campos desculpar-se de Gangsta, pelas palavras que lhe dirigiu, é que, penso que isto por si só, não seria o bastante. Adirecção da rádio essencial deveria agir com o mesmo radicalismo como agiu para banir a entrevista que concedi a esta estação emissora das suas plataformas e, por razões, menos justificáveis. Não só pelo que a sua própria nota diz, como pelo que se pode ouvir da entrevista.
Faço uso da palavra “radicalismo” com o propósito de distinguir aquilo que seria uma decisão curial, prudente e bem pensada e que, se adviesse da vontade pura e simples da direcção da rádio, por dever, de deontologia profissional, seria bem compreendia. Quer dizer, a sua nota se devia antecipar à decisão, explicando as razões que levariam (levaram) a que a entrevista fosse retirada, assim como, ter de se desculpar atempadamente dos ouvintes e do entrevistado, pelos constrangimentos.
Não tendo sido assim, a direcção da rádio, demonstra, por um lado, não só que usa uma bitola desproporcional, para afectar determinadas pessoas como foi o meu caso e agradar, supostamente, no caso, em concreto, o senhor general Fernando Garcia Miala, a pessoa visada na entrevista não sei com que intenção.
E, em segundo lugar, torna-se evidente que a decisão que supostamente foi do seu próprio livre arbítrio, não se tomou, propriamente, usando os critérios e os princípios que alegou defender.
Apesar do gesto de humildade que o jornalista Graça Campos demonstrou, ao se desculpar do jovem Gangsta, através das ondas da rádio essencial, fica subjacente, diante do antecedente e incidente que deu origem ao seu ataque, que foi a retirada das suas plataformas da entrevista que concedi a esta estação, que este gesto não passa de um subtil mecanismo para enganar a sociedade. Não é um sentimento genuíno. Sobretudo, diante do precedente que foi a retirada da entrevista do seu arquivo digital e da justificação nada convincente que deu para a opinião pública em geral. E ainda, diante do incompreensível ataque à minha reputação e idoneidade intelectual.
As palavras desculposas foram ditas, mas ao mesmo tempo, estão arquivadas as palavras ofensivas e acusatórias. Quer isto dizer que, a nota da direcção rádio essencial para justificar a retirada dos seus arquivos digitais, da entrevista que concedi, cai no saco da pós-verdade. Foi uma manobra dirigida, para atacar-me, directamente.
Vale lembrar que o título do meu livro é: “Angola na Era da Pós-Verdade” – ora, o conceito de pós-verdade, para muitos não é familiar, além de que tem uma interpretação extensiva e daí também a razão de ser hoje, uma ameaça para as sociedades modernas. A pós-verdade é a todos os títulos um ataque à verdade sempre no sentido de fazer com que a falsa verdade prospere.
Tanto para quem já teve a oportunidade de ler o livro, cabendo-lhe, todo o direito e dever de ser crítico em relação ao seu conteúdo, como para aqueles que ainda não leram o livro – convém aqui esclarecer que o livro não é narrativa do perfil psicológico do senhor general Fernando Miala. A figura do senhor general Fernando Miala surge, de forma inesperada, atendendo a sua própria conduta e a ameaça que representa para a estabilidade política do país.
A pós-verdade é uma falsa verdade. Ou seja, uma mentira usada como verdade, para que na ausência da verdade, ou se antecipando à veracidade dos factos, a mentira prevaleça como verdade. É esta a abordagem que é trazida neste livro como reflexão, atendendo a actuação da classe política que governa Angola, desde a sua independência proclamada a 11 de Novembro de 1975.
Não compete aqui agora fazer uma resenha do livro, mas dizer que o livro traz temas diversos, merecedores de uma análise crítica.
Isto serve, para dizer que, após o convite para a entrevista na rádio essencial a que acedi com muito gosto e continuo a expressar a minha gratidão, não dependeria e não dependeu de mim a bateria de perguntas que me foi dirigida pelo jovem jornalista, Avelino Domingos. A mim coube apenas dar as respostas que achava cabíveis. Significa que, competiu não só a ele enquanto profissional de jornalismo, mas a equipa da edição do programa, pensar no que seria mais importante abordar, ao longo de uma hora e meia de conversa, para um manancial de mais de 400 páginas de informação que é o meu livro.
Portanto, a abordagem sobre e em torno do perfil psicológico do senhor general Fernando Miala, não foi uma escolha do entrevistado. Mas, as referências que dele fiz durante a entrevista e muito mais o que tenho dito, que é o que está no livro, é, assumidamente, de minha autoria.
Ora, vejamos, depois deste incidente e mais uma vez, indo ao encontro do conceito de pós-verdade, devo dizer que os últimos dias têm sido férteis em aprendizagem. Por isso é que, muitas vezes se fazem referências de que “há males que vêm para bem”. Depois de a direcção da rádio essencial decidir banir a entrevista (que concedi à referida estação emissora), e, naturalmente, atendendo o impacto demolidor, quer, que a entrevista causou, como a suspeição que a decisão da rádio veio ainda mais fomentar, o meu amigo médico psiquiatra forense de nacionalidade brasileira de quem vendo fazendo referência, sem nome, por questões de deontologia que também já expliquei – tem vindo a acompanhar a situação algo de perto, para se inteirar da sua evolução. Como também, mostrando-se apreensivo, quanto aos alarmes e às preocupações da sociedade de uma maneira geral com a minha segurança física, ao contrário do que se devia esperar que seria a urgente intervenção dos órgãos competentes do Estado.
É inacreditável pensar que, num país, onde a percepção geral é de que aqueles que assumem posições de comando são assassinos hediondos; num país onde as instituições estão sequestradas e se mostram impotentes perante o poder de um indivíduo, o partido que governa almeje ganhar eleições com o voto popular.
Não é crível que quem vota conscientemente, ou que cidadãos conscienciosos votem em criminosos assumidos de jure e de facto. Se tivermos de acreditar que é isso que acontece, então, temos todos de nos perguntar a nós mesmos se somos efectivamente pessoas normais.
No dia 27.03.2025, em mais uma longa conversa que tivemos (eu e o amigo médico psiquiatra brasileiro), antes que ele se pusesse a debitar algum do seu conhecimento face à uma situação que mais uma vez, eu não me sinto em condições de perceber, atendendo às minhas limitações cognitivas e, porque, realmente, não me parece caber em nenhuma mente minimamente sã, e tendo eu, lhe dito que escreveria mais um texto com as referências do seu parecer especializado – atentamente – foi ele que chamou a minha atenção: “vê lá, Miguel, se não estará você a incorrer na pós-verdade. Além de não ser ético, deontológica e cientificamente recomendável, escrever textos promovendo frequentemente opiniões no anonimato como se fossem de uma figura fantasma, isso também é susceptível de retirar alguma credibilidade, não só, ao texto, mas ao próprio autor”, disse, questionando, ao mesmo tempo: “será que vale a pena correr esse risco?”
Por instante, tive de reflectir sobre a sua pertinente chamada de atenção, para depois reagir, dizendo-lhe, que se se pensar que eu tenho toda esta capacidade de criar enredos, factos irreais, personagens, usar conceitos de áreas nas quais não tenho domínio, podendo estar, ou não errados, como também, bem ou mal enquadrados, querendo ou não, estarei muito próximo de ser um génio (risos). Posso até ser um génio da pós-verdade, para fazer jus ao próprio livro, mas o livro parece ter mais de verdade do que de pós-verdade. Não sendo assim, já estaria a ser alvo de vários ataques.
É verdade que tenho recebido informações de que os arautos do denegrimento da imagem e do assassínio de carácter se têm perfilado, lançando, várias tentativas de ataques, mas não para desacreditar o livro e sim, para desencorajar que as pessoas leiam. O meu amigo tem toda a razão de pensar assim, não propriamente, pelo risco de se pensar que eu estaria a fomentar a pós-verdade, mas sim, de se usar a pós-verdade, para se atacar a verdade como tem sido habitual.
Tenho plena certeza de que, não se atrevem a tanto, não só para que o tema não seja abordado com acuidade, porque, para o senhor general Fernando Miala, vale a pena mantê-lo abafado, mas também, porque sabem eles de antemão que a minha integridade moral e ética, modéstia à parte, é inquestionável. Além de mais, conheço bem a táctica do senhor general Fernando Miala de atacar o governo ou determinadas figuras do governo e do MPLA. Por um lado, isto faz parte do seu plano de destruição do MPLA e do Presidente João Lourenço, mas por outro, usa estas vozes supostamente críticas que ele protege e que, para ele trabalham, para ludibriar o próprio Chefe, com a falsa ideia de se permitir a liberdade de expressão. Não tenho dúvidas de que existem, supostas vozes críticas ao governo e ao próprio Presidente da República, pagas pelo senhor general Fernando Miala, para corporizar o seu plano pessoal e a sua agenda macabra.
Contudo, apesar de se fazerem comentários quase em surdina e até dirigidos para certas pessoas, para as desencorajar a comprar o livro, isto é um sinal de que o livro está a causar o impacto que dele se espera, no curto, médio e longo prazo. O tempo se encarregará de o valorizar cada vez mais. Desde o início este foi o objectivo e a minha perspectiva enquanto autor.
Há pouco mais de dois meses depois de ouvir depoimentos de colegas, pus-me a reportar, ao meu amigo, o sucedido com estes, mostrando-lhe, mais uma vez a conduta do senhor Fernando Garcia Miala que, evidenciando estar plenamente consciente dos seus actos criminosos, entende que não deve deles se redimir, para não demonstrar fraqueza. Assim como existe também entre os seus colaboradores aqueles que certamente o aconselham e encorajam a se manter irredutível nas posições que assume e decisões que toma à margem da lei; o que para mim, não deixa de ser inquietante e bastante questionável a base deste raciocínio.
Quer dizer, para ele e para o seu séquito, o crime compensa, porque, nada lhe acontecerá. Jamais será incomodado por algum órgão de justiça, ao passo que, recuando da decisão para anular os crimes que cometeu, no seu entender e do seu bando, levaria a que os funcionários perdessem o medo, porque respeito, funcionário algum, alguma vez teve por ele e pelos seus apaniguados serviçais. É este o nível de pensamento desta gente reles. Mais do que fazer o bem e o bem-fazer, criam um ambiente de medo e mal-estar, no seio da instituição. Não estando à altura de raciocinar logicamente. Pensam que é este clima de tensão, de incivilidade e de desrespeito inescrupuloso das normas que regem o funcionamento da organização que os torna tão desprezíveis – como há muito passaram a ser vistos, pela generalidade dos funcionários, que os engrandece.
Mas, infelizmente, para a tristeza da maioria, a insana conduta que assumem e que os caracteriza, não lhes causa nenhum remorso, nem vergonha. A ética e a moral não lhes diz nada. São simplesmente dominados pela crueldade. Moldados pelo sadismo. Guiados pelos seus instintos depravados.
Sinceramente, é este posicionamento que está fora da minha fraca capacidade de entendimento. Daí que, por mais que me esforce para tentar encaixar na minha cachola, tal comportamento, não me sinto capaz de atinar. Embora desta conversa com o renomado Professor, médico psiquiatra, já me tenha chamado à atenção para o risco de se pensar que sou eu um disseminador nato da pós-verdade, usando figuras fantasmas e fantasias teóricas, mas ainda assim, nada melhor do que pôr este meu génio, fazendo o papel de um renomado médico ou se colocando na pessoa de um fictício médico psiquiatra (risos): “vocês viveram um longo período de guerra fratricida e esta é a guerra mais difícil que pode assolar uma sociedade. Os traumas de um conflito armado desta natureza são avassaladores, vão muito além do ódio que a situação de violência indiscriminada, por si só, acaba por gerar. De uma maneira geral quase todas as pessoas bastante envolvidas em conflitos destes carecem de uma terapia psiquiátrica multidisciplinar”.
Como explica: “a minha experiência em trabalhos com indivíduos com traumas desta natureza, demonstrou-me que são tipos incapazes de uma administração fora de um ambiente de violência. Este tipo de conduta é típica de indivíduos que carregam múltiplos traumas. E a situação torna-se ainda mais difícil quando o mesmo grupo de pessoas traumatizadas se apoia umas às outras. Há uma tendência de reforço da insegurança e da falta de confiança dos seus próprios actos. Dos seus próprios medos. Por isso, não se espante. São indivíduos com um medo mórbido das suas próprias fraquezas”.
O especialista diz ainda que “é importante ter presente que a fraqueza, como tal, não reside no facto de se recuar de uma decisão errada, mas sim, na própria fraqueza que o leva (os leva) a tomar tal decisão para demonstrar um poder elevado que mais do que gerar uma sensação de temor das pessoas ao redor, é um estímulo, para a sua própria insegurança. Geralmente, são indivíduos incapazes de se ater às regras e normas de uma sociedade e incapazes de manter uma relação harmoniosa e saudável”.
Este especialista humildemente reconhece, como refere: “eu estou a falar em termos muito empíricos porque não conheço a realidade de Angola, nem conheço com certeza a conduta destas pessoas a que se tem referido e, sobretudo, nem contacto com elas tenho para que a partir de um juízo de admissibilidade possa chegar a um juízo de certeza. Neste sentido, só me posso referir em termos muito vagos, olhando para a realidade de um país que viveu cerca de 27 anos de conflito, onde a força da violência era imposta como um imperativo de primeira ordem contra força da razão. Este modelo de actuação levará anos para ser ultrapassado. Principalmente, se o próprio Estado, o Governo, não levar a cabo um processo de cura dirigida a muitos dos principais decisores das políticas de Estado”, referiu.
Diz ainda: “imagino que em Angola, muitos dos seus dirigentes de hoje já o são há mais de 20 anos. Ou seja, eram dirigentes já no período em que o país estava em guerra, logo, não é possível deles esperar uma mudança de postura na sua forma de actuação, numa realidade diferente do passado. O comportamento que me parece descrever destas pessoas – como disse, assim, de modo muito superficial, insere-se no quadro patológico que descrevemos tanto em psiquiatria como em psicologia – como psicastenia. Além da afecção traumática resultante dos anos de conflito devemos também levar em consideração determinados estados depressivos e ainda a decadência moral que de modo geral acabou por afectar a sociedade como um todo.”
Ora, quanto a mim, este parece um exercício bastante salutar, para que os nossos especialistas neste domínio científico da psiquiatria e eventualmente da psicanálise e psicologia em concreto pudessem apresentar as suas abordagens discordando ou concordando com o referido especialista brasileiro, sendo estes, melhores conhecedores da nossa realidade.
Tal como este mesmo médico brasileiro acaba por reconhecer, dizendo, “não conheço estudos de especialistas angolanos nestas matérias, mas pelo pouquíssimo que temos partilhado (e, você tem feito questão de publicar e difundir, colocando no anonimato o profusor das ideias, e, que devo reconhecer e assumir que não é producente), gostaria de ver até que ponto as minhas alocuções possam ser refutadas com sólidos argumento de quem melhor conhece a realidade de Angola. Porque senão, desse jeito, embora escondido (risos), acabo falando muito vazio”, rebate.
Refere também que “o que já partilhamos é apenas um pequeníssimo fragmento de uma realidade complexa que muito tem para se explorar. Por exemplo, no seu livro, se refere ao senhor general Fernando Miala, como um “recalcitrado” do sistema prisional com base na teoria do sociólogo norte-americano Robert King Merton, no que as funções latentes dos sistemas sociais dizem respeito -, mas para mim, é muito mais do que isto, na medida em que -, o que me parece estar a acontecer com o comportamento do senhor general Fernando Miala (que eu não conheço), mas falo com fundamento na teoria e nos dados que me deu a observar, é que, a sua reabilitação que deveria servir como uma espécie de terapia para se reconciliar cognitivamente, parece vir no sentido de aprofundar um sentimento de vingança, de revanchismo puro e duro circunscrito à psicalgia. Ou seja, em que o elemento psicopático torna-se proeminente. O que é de extrema perigosidade, sobretudo, quando a sociedade parece ter a sensação (certeza) de que as suas acções são caucionadas pelas instâncias do Estado que deveriam zelar pelo exercício da justiça com equidade e equidistância”.
“Portanto, apesar das minhas imensas dúvidas e limitações, por desconhecer a realidade de Angola, desconhecer os sujeitos que devem merecer atenção e, até certo ponto, ter de formular hipóteses cegamente, em termos de fundamentação teórica e sem ir muito a fundo, mas falando numa linguagem que seja acessível para todos, sou levado a não descartar a possibilidade de um trauma social decorrente dos longos de guerra que o país viveu e que acaba reforçado, não só por falta de atenção do Estado, para uma terapia geral, submetendo, os decisores políticos a exames e sessões de cura especializada nestes domínios da psique, como também o facto de as mesmas pessoas acometidas pelos mesmos traumas resultantes do imperativo do poder da violência se continuarem a auxiliar mutuamente, faz com que este seja um mecanismo e factor de reforço de comportamentos anómalos e maníacos”.
Assim sendo, parece estar aqui lançado o repto, para que os estudiosos angolanos destas matérias possam dar o seu contributo, para ajudarem-nos a perceber o que temos de conduta de muitos dirigentes angolanos, as possíveis causas e as consequências que bem conhecemos, assim como nos ajudem também a imobilizar certas condutas que transcendem o nosso fraco nível e capacidade de compreensão e que são extremamente prejudiciais para o país.