QUAL A IMPORTÂNCIA DE ÁFRICA PARA TRUMP?

“Make America great again” 

MARIA LUÍSA ABRANTES 

No dia passado dia 20 de Janeiro, durante a investidura, o Presidente Donald Trump, na qualidade de 47.º Presidente americano, reiterou os seus slogans “make America great again” (tornar América novamente grandiosa) e “Americans first” (americanos primeiro). Essas frases já tinham sido citadas durante o seu discurso de vitória das eleições presidenciais, e repetiu durante o Fórum Econômico de Davos 2025. 

Para tal, defendeu como estratégia, nomeadamente, o corte de impostos internamente; o aumento das taxas aduaneiras para os produtos importados, em 10% (China e Rússia) a 25% (Canadá e México); o apoio a tecnologias relacionadas com a Inteligência Artificial; a deportação de imigrantes ilegais (incluindo a recusa de cidadania à nascença dos seus filhos); o aumento da produção petrolífera e negociações com a Arábia Saudita, Rússia e Ucrânia, visando não só o término da guerra entre os dois últimos países, mas também a redução do preço do petróleo. 

À semelhança do que sucedeu no discurso de vitória eleitoral, no discurso de tomada de posse, chamou muito a atenção o facto de Trump ter repetido, que iria mudar o nome do Golfo do México, para Golfo da América e que iria recuperar o Canal do Panamá (cuja concessão foi atribuída aos EUA de 1904 a 1999). 

Porém, não é novidade a apetência quer de Presidentes americanos republicanos, quer democratas, para o controle de posições estratégicas geopolíticas (bases militares) e para avançar por outros territórios, por motivos expansionistas, tal como aconteceu no passado. Temos como exemplos o Estado de Luisiana (comprado aos franceses por 15 milhões de dólares); o Estado da Califórnia (“comprado” aos mexicanos por 25 milhões de dólares); os Estados de Novo México e Arizona (anexados pela força ao México e posteriormente “comprados” por 10 milhões de dólares); o Estado Texas (anexado ao México); Havaí (invadido e ocupado); o Alasca (comprado aos russos por 7.200.00,00 dólares); Porto Rico (Tratado de Paris). 

Relativamente a União Europeia, o Presidente Trump ameaçou aumentar as tarifas alfandegárias às suas exportações para os EUA, caso os países europeus não aumentassem as suas compras de petróleo e gás. Como se não bastasse já ter havido a imposição da Administração Biden, em vetar a compra dos mesmos produtos que seriam mais baratos à Rússia, pela imposição de sanções a este país e a quem o fizesse. 

Trump, porém, não fez qualquer referência a África em nenhum dos seus três primeiros discursos oficiais (dois no dia da tomada de posse e um durante o Fórum de Davos). Seria porque a África não é considerada importante para os Estados Unidos? 

– O facto de Trump não citar África, poderia ser considerado um acto de inação, visando provocar o mesmo efeito psicológico, que uma ameaça de tomada pela força do Canal do Panamá.  Não significaria ignorar o continente, mas tão somente inferiorizar os seus líderes, já dominados porque estão conscientes das suas limitações e apego ao poder, para se servir e não para servirem os cidadãos dos países que lideram. Receiam sanções pessoais, após o término das suas funções caso não sejam subservientes.

O efeito psicológico é frequentemente utilizado pelos líderes grandes potências, em momentos críticos de dificuldade econômica, para criar turbulência nos mercados bolsistas e elevar o valor da sua moeda. O problema, é que, o efeito psicológico é de curta duração e por essa razão, só os países organizados, detentores de planos estratégicos bem delineados e com previsão de resultados alternativos, poderiam reagir de imediato, podendo alterar o cenário econômico do mercado de imediato. 

Por exemplo, a China é o maior exportador mundial para maioria dos países do mundo (mais de 150 países, com saldo comercial de 5,9 trilhões de dólares em 2024). A China é o principal exportador para os Estados Unidos, mas também importa desse país, pelo que a aplicação de tarifas aduaneiras elevadas pela Administração Trump, seria alvo de medidas de reciprocidade. Esse teria sido o motivo que provavelmente levou-o a recuar com o aumento das tarifas alfandegárias, no seu primeiro mandato. 

Os outros dois principais exportadores dos EUA, são o México e o Canadá, mas estão distantes em volume, qualidade e diversidade da China. A deslocalização das fábricas sobretudo da China para os EUA, acarretaria custos insuportáveis, porque a mão de obra nesse país varia de Estado para Estado e é cara.  

A União Europeia só no seu todo, faria frente à China, porque para além do mercado europeu e um pouco do mercado americano, tem o continente africano para onde escoar os seus produtos. Contudo, a China tem-se mostrado um sério concorrente, porque financia quer a Europa, onde tem a concessão de vários portos e aeroportos (Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Grécia, Itália, Países Baixos, Portugal); quer a América Latina onde tem também 10 portos em 7 países e vem apostando massivamente no continente africano, não fazendo imposições de ordem política como condição. Em resumo, Xi Jinping estaria em melhor condição para fazer frente as negociações com Trump, do que Ursula von der Leyen (Presidente da UE). 

– África é sim importante, não apenas para os Estados Unidos, como também é de extrema importância para os vários países dos diferentes continentes. Não só porque é um mercado de cerca de 1,4 bilhões de consumidores, mas porque é um continente praticamente virgem. Infelizmente os seus líderes têm pouca noção da enorme força política que reside na negociação dos seus 55 votos no seio das Nações Unidas. Este número é superior ao conjunto dos países europeus (50). Se somarmos a China, Índia e Estados Unidos de América, França, Japão, Brasil, (totalizaria 54), ainda assim teria 1 voto a mais, independentemente da força do poderoso veto de 5 países (China, Estados Unidos, Reino Unido e Rússia). 

África tem a segunda maior floresta natural do mundo, a floresta do Maiombe, encontrando-se a sua maior extensão em Angola, na província de Cabinda; tem no seu subsolo os 45 minerais mais importantes para o comércio mundial, (a RDC tem todos os 45 minérios, sendo o mais rico do mundo e Angola possui 35); tem enormes extensões de terras aráveis desabitadas e reservas naturais, com espécies animais raras. África possui a segunda região do mundo com espécies piscícolas mais raras do mundo, que vai da Baía de Benguela em Angola, até à Baía de Welvis Bay, na Namíbia. Tem 9% das rede hidrográfica do mundo (o país mais rico do mundo é o Brasil, com 12%, sendo apenas um país, enquanto os EUA enfrentam escassez e exploram com exaustão as águas subterrâneas). África contará sempre para o Ocidente, para exploração a preços irrisórios das suas “commodities” sem valor acrescentado e para importar bens e serviços, com financiamento acrescido de juros exorbitantes. 

O problema de África está na mentalidade dos seus líderes, que são limitados e dos seus cidadãos na maioria iliteratos, por culpa dos primeiros. Quem não respeita os cidadãos dos seus países, não pode ter a sua opinião respeitada, nem é um convidado conveniente para todas as ocasiões, porque não sabe o que dizer com propriedade. Torna-se inconveniente, mas sobretudo desnecessário, porque pode ser teleguiado à distância. 

Quando Trump disse “Americans first”, para aquecer a economia, de imediato anunciou cortes nos impostos, privilegiando quem deve dar emprego a população, que são as empresas e não o Estado. Não obstante a política americana defenda o liberalismo econômico, rejeitando o intervencionismo directo do Estado, há muito pragmatismo. Em momentos de estabilização econômica, para mitigar os efeitos nos resultados das empresas e das famílias, cortam impostos, ainda que para suprir essa lacuna tenham de aumentar a divida externa para equilibrar a receita. O efeito é o aumento imediato do emprego e por essa via, o alargamento da base fiscal para equilibrar a balança de pagamentos e a circulação mais célere da moeda. 

Durante o primeiro mandato de Trump, as quatro primeiras taxas de juro foram cortadas em 0,25%, duas das quais em menos de um mês e a última, foi entre 1% a 1,25%. 

Os países africanos fazem o contrário, de tal forma, que o salário máximo é inferior ao salário mínimo dos países mais pobres do Ocidente. Em vez do salário acompanhar a inflação, ele diminui no sentido inverso. Em Angola, deste 2018, o salário sem qualquer explicação desvalorizou 1.000% e o custo de vida aumentou no sentido inverso mais do que esse valor. O desemprego atingiu níveis inadmissíveis (Angola tem uma taxa de desemprego superior a 40%, incluindo os trabalhadores informais) e as populações digladiam-se por causa de restos de alimentos, que retiram dos contentores do lixo. 

Em Angola, os serviços públicos são tão desorganizados, quase informais sendo os piores, os relacionados com as Finanças Públicas (paga-se impostos em excesso por defeito, paga-se IMI dos prédios propriedade da  IMOGESTIM, paga-se para não pagar multa); na Justiça (tira-se o BI e o Passaporte em casa ou numa cubata); na Ordem Pública  (paga-se para reduzir a multa, ou não ir preso); na Saúde (paga-se para os enfermeiros utilizarem os medicamentos do próprio hospital, maltratam os pacientes que os acordam quando estão de serviço e os médicos ficam em casa e pedem para lhes telefonarem) e na Educação (paga-se para ter vaga, para passar e para obtenção de certificados ou diplomas). 

Quando Trump foi eleito pela primeira vez, a US/Africa Business Center da Câmara do Comércio Americana enviou um memorando ao Presidente Trump, pedindo que pelo menos ouvisse os ministros dos Negócios Estrangeiros dos países africanos. Trump acedeu e foi organizado um fórum entre o secretário de Estado americano (ministro dos Negócios Estrangeiros) e os seus homólogos africanos. Angola também enviou o seu representante, na altura Manuel Augusto. O ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto não abriu a boca e teve bastante tempo.  Eu estava presente e senti-me extremamente envergonhada, porque fui uma das mentoras. A saída de Manuel Augusto, os jornalistas angolanos que ele levou na comitiva cercaram-no no corredor, e qual foi o meu espanto, quando vi que Manuel Augusto fartou-se de falar. 

O facto de o Presidente Trump não ter em conta os líderes africanos, porque não os respeitam, não é sua culpa. A culpa é unicamente dos próprios africanos. Uma coisa é certa: nos Estados Unidos de América, existe independência e divisão de poderes. Em cerca de 48 horas (23/1/2025), o Juiz Federal dos Estados Unidos, John Coughenour, suspendeu a Ordem Executiva do Presidente Trump, por ser inconstitucional, que proibia o registo de filhos de imigrantes indocumentados nascidos nesse país, embora a decisão admita recurso como é normal. Seria possível impugnar um Decreto Presidencial e em tão curto espaço de tempo em Angola?

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