O MPLA já fez a cabeça d(o)a Inteligência Artificial?

Perguntei se esse mal que tem sido causado pela gestão do “colono negro” que tomou Angola depois que o “colono branco” se foi, não terminará, e se até que ocorra a alternância (um dia vai ocorrer mesmo) – que é fundamental para a consolidação do Estado Democrático e de Direito – deveremos manter-nos calmos, sentados à espera da chegada de um messias? Concordei com a resposta mas…

Por Ramiro Aleixo

Entrei na onda e dei comigo num aplicativo de Inteligência Artificial. E para satisfazer a minha curiosidade sobre ess(a)e tal de Inteligência, formulei a seguinte pergunta: 

– “O que acha do MPLA?”

Surpreso, recebi a resposta em menos de 10 segundos:

“Como modelo de linguagem, eu não tenho opiniões pessoais nem políticas sobre organizações ou partidos políticos específicos. O MPLA, ou Movimento Popular de Libertação de Angola, é um partido político que exerce influência em Angola. A minha função é fornecer informações e responder a perguntas com base em factos e dados disponíveis. Posso ajudá-lo a encontrar informações sobre a história, objectivos e realizações do MPLA, se isso for do seu interesse”.

Pensei então para os meus botões e disse: “Agora vou te apanhar… Espera só”! – E disparei…:

– “Então pode dizer-me quais são os objectivos da gestão do MPLA”?

A resposta veio logo de seguida, e fiquei de “boca para a nuca”porque pareceu-me que o(a) tal de Inteligência Artificial também vive neste ‘quintal da mãe Joana’ e foi agraciado com um ‘top da gama’:

“O MPLA, como partido político que lidera o governo de Angola desde a independência do país em 1975, tem como objectivos a promoção do desenvolvimento económico e social do país, a preservação da unidade e da integridade territorial de Angola, a defesa dos direitos humanos e da democracia, bem como a consolidação do Estado de Direito e a luta contra a corrupção.

Ao longo dos anos, o MPLA tem implementado várias políticas e programas em busca desses objectivos. Alguns exemplos incluem o Plano Nacional de Desenvolvimento de Angola, que visa promover o crescimento económico e reduzir a pobreza, e a implementação de reformas na justiça e na administração pública para melhorar a governança do país”.


Não contive a gargalhada, e voltei a perguntar a(o) tal de Inteligência Artificial:

– “Mas, já agora diga-me sff, quando é que o MPLA deixará de ser poder em Angola”?

Eis a resposta que recebi:

“Como modelo de linguagem, eu não posso prever o futuro ou afirmar com certeza o que pode ou não acontecer. O poder político em Angola é decidido por eleições democráticas, que são realizadas regularmente no país. O MPLA é um dos partidos políticos que tem maior presença e influência em Angola, tendo sido eleito para liderar o governo em todas as eleições desde a independência do país em 1975.

No entanto, é importante notar que em qualquer democracia, o poder político pode mudar de mãos a qualquer momento, dependendo da vontade dos eleitores e do desempenho dos partidos políticos no poder. O MPLA pode continuar a ser um partido forte e influente em Angola, mas a sua permanência no poder dependerá da vontade dos eleitores e da forma como os desafios do país são enfrentados”.


Decidi não prosseguir com esse ‘interrogatório’ em busca de respostas que para o nosso quadro político são complicadas, porque alguém se encarregará de deturpá-las. Mas, retive a parte final: “… a sua permanência no poder dependerá da vontade dos eleitores e da forma como os desafios do país são enfrentados”. Até o(a) tal de Inteligência Artificial sabe disso e o presidente do MPLA, particularmente, parece não saber. Enfim…

E porquê que retive esse argumento? Porque a(o) tal de Inteligência Artificial não sabe (ou se sabe omitiu) que quem organiza as eleições em Angola é o Governo (do MPLA), controladas por uma Comissão Nacional Eleitoral dirigida por uma figura proposta (ou melhor, imposta) com influência, do MPLA, o mesmo partido que também concorre às eleições e governa. E em caso de reclamações das demais forças participantes, tem as instituições da Justiça que analisam e decidem os recursos, que também estão sob sua alçada. E se dúvidas persistirem, há ainda o recurso ao exército e a polícia, controlados, todos sabem que, pelo MPLA. 

Concluí assim que, nem maduro e a cair de podre, o MPLA por via do voto deixará a ‘árvore das patacas’; que mesmo com todos os níveis de impopularidade em alta, será necessário mais do que a vontade do eleitor para dar uma boa ‘trombada’ nesse MPLA. Porque acredito, igualmente, que essa vontade de mudança só terá resultados, se iniciar no interior do próprio MPLA, já que detém e controla todos os poderes. E que essa viragem não acontecerá, na certa, antes das próximas eleições, porque eles não estão interessados. Porque, até ao momento, não há da parte da direcção desse partido, mesmo com tanto ‘sangue’ novo injectado (incluindo de tenra idade) no seu Comité Central, nenhum reconhecimento de que os últimos resultados eleitorais podem significar o início de qualquer coisa que (chamemos-lhe sentimento de revolta), progressivamente, pode levá-los ao tapete.

Um sinal sério dessa intenção, seria começarmos a falar e a discutir ainda este ano, sobre a alteração da Lei Constitucional, por um modelo de eleição directa do Presidente da República, da redistribuição de parte dos seus poderes, eventualmente com a figura de um primeiro-ministro também eleito, e com os auxiliares do Poder Executivo, como clama a sociedade. E pela efectiva separação dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Mas, temos consciência que se o MPLA avança com essa proposta de alteração da Constituição, abrindo as eleições para a participação de outros actores da sociedade, também pode estar a cavar a sua própria sepultura. Ainda que, não em favor de uma das forças de oposição, principalmente do seu principal adversário, a UNITA, mas de uma figura com identidade da maioria dos angolanos, que tenha a capacidade de despartidarizar o Estado, assegurar melhor gestão e encaminhamento dos fundos públicos, comprometimento com a Nação, distanciado de egos e do narcisismo que tem alimentado a crispação e essa ‘caça às bruxas’, dissimulada num ajuste de contas que não tranquiliza a Nação. 

Mas, não se observa essa intenção da parte da direcção desse partido e menos ainda esse desejo. E por alguma razão (ou algum propósito), criam sempre empecilhos para adiar a implementação das autarquias. Não será porque têm a percepção de que começariam por funcionar como uma espécie de desconcentração efectiva de poder, mas, também de perca de influência na gestão política, económica e social.

No entanto, todas essas voltas que está a dar para embaraçar a democratização do Estado, podem ser prejudiciais também para o próprio MPLA, porque adia a solução de questões básicas do funcionamento das instituições no atendimento de até pequenas necessidades da sociedade; eleva o sentimento de saturação e de revolta, porque o ambiente de dificuldades até no acesso ao mínimo desgasta, aprofunda as assimetrias e não é benéfica até para a implementação dos programas gizados pelo próprio Governo, que perspectivam o desenvolvimento económico e melhor ambiente social. Vivemos numa grande confusão e desorganização, que só beneficia mesmo quem detém o poder.

Mas, ainda assim, não prevejo que seja para já, que o MPLA será ‘derrubado’ pelo voto. Dói saber isso? É claro que dói! Contudo, para mim, essa é a dura verdade que deve ser encarada com realismo, porque a nossa realidade política atesta que a mudança ou a alternância política, não depende do voto, mas sim de procedimentos, alguns deles com a chancela da Assembleia Nacional, que ocorrem antes da votação e do tratamento que se dá depois ao voto logo após ao acto. E enquanto essa estrutura (que assenta no MPLA/Governo) não for alterada, toda acção desenvolvida será quase que o mesmo que dar uma grande volta, para irmos ter ao mesmo.

“Então até lá, o que devemos fazer”? Perguntei finalmente a(o) tal de Inteligência Artificial, se esse mal que tem sido causado pela gestão do “colono negro” que tomou Angola depois que o “colono branco” se foi, não terminará, e se até que ocorra a alternância (um dia vai ocorrer mesmo), que é fundamental para a consolidação do Estado Democrático e de Direito, deveremos manter-nos calmos, sentados à espera da chegada de um messias? Concordei com a resposta:

“Em vez de se focar em culpar um grupo específico de pessoas, é importante reconhecer as injustiças e os danos causados à população angolana como um todo e trabalhar juntos para superar as desigualdades e garantir a justiça e o desenvolvimento sustentável para todas as pessoas”.

Só que, não sei como se faz isso em Angola, quando uns se colocam no pedestal e se têm como os donos e senhores de tudo, e consideram todos os outros como escumalha e as suas contribuições não fazem sentido, porque “tudo vai bem” e a atestar, até ganharam as eleições com maioria. Como se faz isso com um poder anti povo, que não respeita as minorias, que não permite reivindicações nem manifestações e quando fogem ao seu controlo, organiza outras contra com todo o suporte da sua máquina repressiva e de comunicação, porque ‘cafricou’ os órgãos públicos?

Fica complicado! Tão complicado, que dentro do MPLA, quando João Lourenço vai já no seu segundo mandato, não se conhece uma segunda figura, nem se o próprio retirará o coelho da cartola para numa eventual alteração (ou revisão) da Constituição, impor-nos a sua continuidade. Não sei se para fazer concretamente o quê, mas política é isso mesmo: uma grande casa com as portas escancaradas. E se para isso for necessária uma “geringonça” à moda do nosso sarrabulho, não tenhamos dúvida que o Sistema partido/Estado se encarregará dos arranjos até porque voluntários não faltam e até já estão perfeitamente identificados. Bastará acertar apenas os milhões, que até sairão da contribuição de todos nós, ainda que não o desejemos. Ou duvidam?

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