NA POLÍTICA NÃO HÁ ALMOÇOS À BORLA

Mas, esse (re)encontro, o primeiro após a reeleição de João Lourenço, pode (e deve) ser ainda entendido, como o lançamento da primeira pedra para a construção de uma segunda ponte de entendimento entre os dois, que estará concluída lá mais para frente, provavelmente em 2026.

RAMIRO ALEIXO

Sem pretender especular, porque não faz o meu estilo, oxalá que para bem da nossa política, da harmonia e da tranquilidade nacional, deste encontro solicitado por Isaías Samakuva ao Presidente da República João Lourenço, saia bom entendimento entre dois angolanos bons filhos desta pátria (até prova em contrário) para alavancar a nossa irmandade, dignificação da nossa política e não para acirrar novos focos de tensão e de instabilidade. É que, para mim (somente para mim mesmo) fica difícil entender porque razão o Presidente da República não recebe, pelo menos com alguma frequência como é desejável e saudável, o líder do maior partido da oposição para ouvir o seu pensamento sobre questões do país, mas recebe, com alguma rapidez e com deferência quem ele sucedeu, por duas vezes até, no quadro de imperativos impostos pelo poder (dirigido pelo Presidente) para dificultar a sua participação nas eleições. 

Também não me esqueço do pronunciamento do Presidente João Lourenço no seu primeiro mandato, no acto de posse de Isaías Samakuva como membro do Conselho da República, em 25 de Outubro de 2021, quando este substituiu, temporariamente, Adalberto Costa Júnior na presidência da UNITA: “Espero que desta vez, venha para ficar” (?!?!…).

Mas, ainda assim, apesar da sua vontade indisfarçável de ver o seu adversário pelas costas, pelo que têm sido colocadas todas as barreiras ao seu exercício, os militantes desse partido souberam colocar Samakuva no merecido armário do passado e renovaram a confiança no “mulato”, que continua a ser a espinha encravada na garganta do poder do MPLA. Luanda que o diga! Foi KO e não é verdade que resultou da abstenção dos seus militantes. Foi mesmo, porque a maioria dos eleitores está saturado da má governação. E até hoje continua a não ser certeza que o MPLA, a ter ganho mesmo, tenha sido com maioria.

De acordo com o comunicado de imprensa emitido pela Presidência da República no final da audiência solicitada por Isaías Samakuva, uma das questões abordadas foi o processo de legalização da Fundação Jonas Savimbi, encalhado algures numa instituição pública. Provavelmente, por intervenção da família, tendo em conta também neste caso, as barreiras colocadas a Adalberto, que o impedem de ser o porta-voz mais alto da UNITA junta da Presidência da República. Mas, o que ficou patente é que, até num caso perfeitamente normal como este, que em princípio diz respeito a um órgão do Ministério da Justiça, teve que ser levado ao Presidente da República. Isso acontece porque quem dirige esse departamento sabe que pode ter a vida complicada se tomar essa decisão, mesmo com base no respeito e unilateralidade da lei, que em princípio deve ser a mesma que permitiu a criação da Fundação Agostinho Neto, da Fundação Eduardo dos Santos e mais recentemente, do ex-vice-Presidente Bornito de Sousa. O recurso ao Presidente da República e a sua chancela iliba o auxiliar do Titular do Poder Executivo da prática de um eventual ‘crime’ contra os interesses do partido (que se confunde com o Estado).

Mas, esse (re)encontro, o primeiro após a reeleição de João Lourenço, pode (e deve) ser ainda entendido, como o lançamento da primeira pedra para a construção de uma segunda ponte de entendimento entre os dois, que estará concluída lá mais para frente, provavelmente em 2026. Em “política não há portas fechadas”. Percebem onde pretendo chegar? Ou melhor: percebem o alcance daquela mensagem “Espero que desta vez, venha para ficar” (?!?!…).

Quem é do meu tempo, lembrar-se-à certamente deste provérbio a que recorro com alguma frequência: “Num ano, ou morre o rei, ou morre o macaco ou eu morro”. É que, gostaria, muito sinceramente, que Isaías Samakuva gozasse mesmo a sua reforma política preservando a imagem polida de diplomata que construiu, e não de mais um prego no caixão onde está a ser enterrado o projecto de construção de um Estado Democrático e de Direito. Mas, o jogo político é isso mesmo. Não vale tudo, mas é o jogo. E ele fica complicado, quando para lá da ética é suplantado por outros valores. Aqueles valores… que não passam por Vera Dalves.

Atenção: não estou a acusar ninguém de nada, nem faço uso de liamba ou de qualquer outra droga! Estou apenas e só, a deixar fluir a liberdade do meu pensamento. E para ele, não haverá algemas que possam amordaçá-lo. E mesmo não sendo vidente, já vejo trabalho a triplicar para o tal “mulato”. Mas só pensei…

Ossos do ofício.

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