“Ninguém atira pedra em árvore que não dá frutos”

Provavelmente, a maior parte de todos nós já ouviu ou leu algures esse provérbio. Trago-o à liça, para tentar esmiuçar as razões porque nos últimos tempos se têm dirigido tantos ataques de ódio ao novo líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, no quadro de uma estratégia do partido no poder que, por não considerar os prós e contras, a moral, a ética, o civismo, o decoro e o respeito a que qualquer político está obrigado e deve observar, conduziu a nossa política interna para níveis tão sujos e mal cheirosos que, eventualmente, só são superados pelas montanhas de lixo que sufocam todos os cantos de Luanda.

Nunca antes se desceu tanto em termos de falta de imaginação na política e na vida das instituições públicas. Transformaram o País num circo onde qualquer patife tem espaço para exibir-se ou testar as suas teorias estupidificadas; onde quem não alinha volta a ser tratado como inimigo do Estado.

Será que devemos aceitar esse retrocesso como normal? É claro que não, porque a política é um exercício nobre, uma importante área de prestação de serviço à causa patriótica pública; é arte, é ciência de governar, de dirigir. Não serve imbecis, e o seu objecto fundamental não é o monopólio nem a subjugação. Não é um palco para exibição de criminosos de consciência ou de outra índole, ou onde uma escumalha com ataques fabricados aprisiona a sociedade tornando-a refém.

Apesar da repressão que esteve sempre presente, raros foram nesses 19 anos que se seguiram ao calar das armas, os momentos em que observamos tantos actos ‘políticos’ ridículos como nesses quase quatro anos de ‘nova’ gestão do Sistema, o que nos faz questionar a real competência de quem dirige este barco encalhado e desencontrado com a Nação, que prometeu não ser igual ou sequer parecido ao antecessor, mas desilude a cada etapa. E diante de tantos retrocessos que o País vive, seria até uma atitude de elevado sentimento patriótico se os militantes do MPLA tivessem a coragem e a frontalidade de analisar, se não representa perigo continuarmos nessa rota até 2027, à pretexto de que essa via é a mais certa. Seria bom se, efectivamente, tivessem a capacidade de entender que o que está agora em causa, não é só se o próprio MPLA merece mais um voto de confiança do eleitorado, mas se a aposta no mais do mesmo não será também e só, apenas a continuidade de um status quo que não corrigirá nem mudará nada, porque falta comprometimento com a Nação. Ou ainda, se essa continuidade não provocará rombos tão grandes no casco que acabarão por afundar a “arca” que para além do MPLA e dos seus militantes, também transporta todos nós.

A justificação para o que está mal não tem sustentação na dinâmica introduzida pela nova direcção da UNITA nem no seu passado. Já lá vai o tempo. Nem esse factor deve ser interpretado como um perigo para a estabilidade agora, porque se percebe que essa ascendência incomoda quem não quer ser arredado do poder. Considero extremamente positivo para o nosso processo democrático que, desta vez, a “árvore” plantada pelo principal partido da oposição, esteja a produzir bons frutos distanciados da filosofia da guerra que foi, definitivamente enterrada. Se essa nova versão e visão estão a incomodar e a tirar o sono a alguém, então é porque em termos de estratégia política e de inteligência, a liderança da UNITA está no caminho certo. E é disso que a Nação tinha necessidade para que se estabeleça o equilíbrio no exercício político e na protecção dos interesses da Nação.

Hoje, já podemos perceber que ainda que a alternância não ocorra já no final das eleições que se avizinham, as sementes lançadas para que ela ocorra estão a germinar, adubadas pelas consequências do empobrecimento, da fome, da miséria, do desemprego, da falta de esperança que tomou conta da maior parte da população em consequência do longo ciclo de (des)governo de quem comanda a Nação. E a culpa (se assim se pode considerar) é do MPLA. Agora, já podemos prever que no futuro nada mais será igual e que o tempo se encarregará de nos conduzir à alternância política inevitável, desejável e saudável.

Em todo esse processo, é ponto assente que a saída para o MPLA não é o assassinato político de Adalberto e da UNITA, até porque nascerão mais mil, dois mil, um milhão ou vinte milhões de Adalbertos e Chivukuvukus. É disso que Angola necessita e definitivamente, é preciso clarificar que Angola não é pertença do MPLA ou da elite que o dirige, e que os angolanos, em circunstâncias iguais, devem ter a liberdade de pensar e de fazer opções.

Nesta minha primeira abordagem de 2021 sobre os factores que influenciam a nossa política doméstica versus/disputa para as eleições, uma vez mais enalteço o papel tranquilo desempenhado por Isaías Samakuva. Apesar de ensombrado pela imagem ainda fresca do fundador da UNITA quando assumiu a presidência, bem como, desgastado pela pressão da ala mais radical que por vezes minou o seu estilo de gestão, conseguiu reunir e colar os cacos de todas as falanges. Soube lidar com as contestações internas acrescidas pelas dificuldades impostas pelo sufoco do MPLA na condição de partido/Estado. E passou o testemunho para uma nova geração que amadureceu, é aguerrida e está a imprimir maior dinâmica e intervenção na nossa arena política. E um dos resultados mais visíveis é que já não é a UNITA quem anda à reboque da agenda do MPLA.

Facilmente se confirma que, quem está seriamente preocupado com o desempenho da nova liderança da UNITA, é o MPLA. A forma como tenta ofuscar a imagem e o desempenho do seu líder, Adalberto do Costa Júnior, a mordaça montada ao nível dos órgãos de comunicação públicos é a confirmação de que há, efectivamente, uma estratégia criminosa delineada ao mais alto nível, que utiliza todos os meios e armas do Estado para impedir que a oposição assuma, por direito, o seu protagonismo. E a razão é apenas uma: nunca antes o MPLA esteve tão enfraquecido, vulnerável e acossado. A sua direcção, acomodada nos benefícios promíscuos da relação com o Estado, tem perfeita consciência que a acontecer a alternância, poderá ser o começo do seu próprio fim, tendo em conta a sua responsabilidade criminosa directa, na má gestão dos recursos públicos e do estado de miséria que corrói toda a nossa sócio-estrutura. Mas tudo isso acontece porque continua a ter dificuldade em entender que a sua saída não é a defesa ou a continuidade do Sistema asfixiante que não protege o partido, mas sim as suas lideranças e a elite predadora.

O MPLA transmite uma imagem de que não entendeu ainda a evolução da própria sociedade, por si só mais exigente e com um pensamento mais apaziguador e aglutinador, mais aberto, plural e realista, distanciado daquela que circula pelos corredores do “Kremlin” virado para o seu próprio umbigo, com suporte numa massa militante que também ela, não se abre para novos horizontes onde a defesa e a concretização dos seus próprios anseios não está na observância da disciplina partidária, no seu próprio empobrecimento, mas na capacidade de realização desse partido para servir a Nação em vez de propósitos da liderança. Também não entendeu, que diante dessa realidade, o facto de se ter a maior massa militante por si só, não é garantia de voto seguro porque também eles e as suas famílias são vítimas do mesmo Sistema.

É todo esse imbróglio do nosso grande puzzle político, económico, financeiro e social que faz com que a UNITA tenha agora a seu favor, mais elementos de base do que em 2017 em que apesar das dúvidas, a diferença de votos foi de 34,4% em relação ao MPLA (26,7% – 61,1%). Hoje, a descrença nacional em relação ao programa de governação sufragado e não cumprido, não favorece nem faz do MPLA um partido sério.

Independentemente das razões objectivas que terão justificado decisões de carácter financeiro e económico tão ríspidas, a UNITA pode e deve agora tirar maior proveito do descontentamento de boa parte de uma bolsa de mais de cinco milhões de angolanos pertencentes à uma classe média que já esteve consolidada, com poder de compra, que constituía um enorme mercado de consumo representando um agente de mudança social e económico, que está empobrecida. E só essa faixa pode representar quase metade dos cerca de 10 milhões de eleitores de 2017. Por que razão devem votar no MPLA?

Outro extracto social profundamente afectado pelas políticas da governação, é o feminino que, de acordo com o Censo de 2014, já representava cerca de 52% (13.289.983) de uma população de 25.789.024 habitantes. A jogada ensaiada por JLO no congresso da OMA em que anunciou o aumento da taxa de representatividade das mulheres no exercício de cargos públicos para 50%, não terá influência directa na melhoria da condição de vida da maior parte delas, apesar de serem as que mais sentem o impacto do empobrecimento das famílias e das dificuldades acrescidas na luta pela sobrevivência. Calcula-se que tenha ocorrido uma subida numérica nos índices de cobertura da população angolana para cerca de 30 milhões, e esse dado pode até significar que o grupo das mulheres tenha conhecido um acréscimo substancial.

Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) em 2014 já indicavam que do total nacional de 52% de mulheres, 62,4% reside no espaço urbano e apenas 37.6% no espaço rural. Mas é no meio urbano (habitado pelos 62,4%) onde se têm verificado as maiores manifestações de revolta contra as medidas adoptadas pelo Executivo (que é do MPLA), porque 36% (dos 52%) é responsável pelo sustento dos agregados familiares. Como é evidente, face o descontentamento acentuado, também essa pode ser outra bolsa de votos a pender para o lado da UNITA.

Mas, o extrato social que poderá determinar efectivamente a mudança, é dos jovens. Eles representam cerca de 47% dos eventuais 30 milhões de habitantes agora, e estão distribuídos quer pela classe média quer pelo grupo de mulheres que sustentam os seus lares e famílias, quer entre os que são os mais afectados pelo encerramento de empresas e pela falta de emprego. É demasiado expressivo, e ignorá-lo pode representar o suicídio para qualquer formação política.

Segundo dados divulgados pelo INE, em 2017 46% dos jovens entre os 15 e os 19 estavam desempregados, e em quatro anos essa taxa subiu vertiginosamente, até porque, de acordo com a mesma entidade, em consequência da crise económica e financeira que afecta Angola desde finais de 2014, mais de 1.600 empresas estavam à beira da falência e 576 haviam fechado as portas. Informação complementar divulgada pela ministra da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, Teresa Dias, em Novembro de 2020, referia que no terceiro trimestre desse ano a taxa de desemprego em Angola aumentou para os 34%. E de acordo com dados contabilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) “neste período a população desempregada, estimada em 5,2 milhões de pessoas com 15 ou mais anos, aumentou 470.898 pessoas em relação ao trimestre anterior, somando mais 937.540 pessoas comparativamente ao trimestre homólogo”.

Na verdade, como refere uma contribuição do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Abril de 2020, com o título “Covid-19: Impactos Económicos e Sociais em Angola” elaborado por Alves da Rocha, Carlos Vaz, Francisco Paulo, Precioso Domingos, Regina Santos e Teúrio Marcelo, “a situação das famílias já era precária” antes mesmo do início da Pandemia “na ordem dos 41% e 51.1% de pobreza monetária ou multidimensional”. E a atribuição de apoios de 8.500 Kwanzas/mês para algumas famílias mais carenciadas, em pouco ou nada se reflectiu como melhoria já que, em percentagem muito superior, os preços dos produtos da cesta básica sobem diariamente. Daí que, numa decisão cirúrgica, o Governo anunciou a sua intervenção na regulação dos preços.

Já nessa altura, refere ainda essa “contribuição para o debate” do CEIC da UCA, “os agregados familiares vivem (viviam) sob a ameaça do aumento dos custos dos bens básicos, devido à disrupção que se vive na cadeia de fornecimentos, à redução do rendimento familiar, aos potenciais despedimentos e cortes salariais, bem como, por causa do menor consumo da sua produção de bens e serviços, sobretudo no mercado informal”.

A “contribuição do CEIC” refere que, “se para a maioria das economias do mundo o Covid-19 é a causa da sua crise económica e social actual, o mesmo não é válido para Angola”, considerando a Pandemia como “crise sobre crise para Angola”. E numa analogia bem muwangolé, os autores consideraram que pelo “nível de fragilidade”, a economia angolana “é como se os Palancas Negras estivessem apurados para o mundial de futebol com apenas dez jogadores, sem um guarda-redes”.

E como que para recordar as causas (e a identificar os culpados), os autores sustentaram que “do ponto de vista moral o Governo perde força pela memória, ainda bastante recente, que a sociedade tem de como uma pequena elite devorou o boom económico que era suposto beneficiar o País como um todo” … E citam exemplos:

“A situação financeira actual é critica, a pobreza se aprofunda, mas os governantes continuam a usar o dinheiro dos contribuintes para se atribuírem frotas de carros de luxo, casas, subsídios indecorosos, entre outras más práticas. A corrupção continua. (…) É um grande equívoco o Governo propor-se a ajudar quando deve governar! Não se pode ser Governo e doador ao mesmo tempo, ainda que pela via do partido que suporta o Governo”.

Diante desse quadro, com a sociedade amordaçada, com uma gestão política que não nos permite discernir qualquer mudança no Sistema político, que parece ter regredido apesar da entrada de novos actores, que mudanças efectivas se podem esperar desse MPLA para que o País possa sair dessa crise política, social e económica? E será que a UNITA terá competência para ultrapassar a fasquia de 26,7% de votos trucidando o MPLA que abocanhou 61.1% dos votos, mercê da sua vitória nas 18 províncias?

É possível que tenha sim, porque o contexto agora é outro e parece-nos que, a determinado nível bem alargado da sociedade, começa a tomar corpo a perspectiva de que, mesmo não sendo quem a maioria deseja, a UNITA e Adalberto da Costa Júnior podem constituir-se no parceiro sazonal ideal de que a Nação tem imperiosa necessidade de utilizar, para arredar o MPLA do poder e então dar-se verdadeiramente corpo ao projecto de alteração constitucional, para expurgar as amarras que sufocam o funcionamento democratizado e transparente do Estado. Mas, é preciso que todas essas bolsas referenciadas tenham em devida conta que mudança não se faz com abstenção. Em 2017 ela representou 23,41% do total de 9,5 milhões de votantes, equivalente a 2.134.057 e adicionados aos votos deslocalizados que se perderam, pode ter residido aqui uma das justificações da vitória de 61,1% do MPLA que ainda assim teve menos 16 deputados (150), ou a derrota da UNITA com 26,7% apesar de ter ganho mais 19 deputados (51).

Para diferentes sectores, está claro que a permanência do MPLA no poder continuará a ser uma mordaça para o País, porque esse partido açambarcou as instituições do Estado e transformou Angola numa zunga, numa lixeira e com os níveis de pobreza e de miséria cada vez mais acentuados. A forma como exerce o poder não passa de uma atitude de expressão dos egos e arrogâncias dos seus líderes. E os mais recentes sinais da dificuldade de lidar com a diferença e com a democratização, foram as imposições das lideranças feitas na OMA e no seu comité provincial de Luanda. Para muitos observadores atentos à nossa política, essas decisões foram mensagens bem direccionadas para dentro do MPLA, com o propósito de salvaguardar já uma candidatura única ao nível da presidência (para sua própria reeleição), uma doença crónica das lideranças do MPLA: amarram a organização aos seus desejos despóticos, e transformam os militantes em seus servidores. E a Nação é vista como a extensão de um quintal transformado em propriedade de um partido, de uma elite e de um líder que, apesar do discurso diferente dirigido à Nação, na retranca amordaça a democratização e a transparência, roubando do cidadão não só a força do voto decisório, mas, inclusive, o direito e a liberdade constitucionais de ser informado com verdade e isenção.

Para encerrar esta minha primeira reflexão de 2021, melhor não poderia ter encontrado nas redes sociais para classificar este momento que vivemos: “Por mais que a abelha explique a mosca que a flor é melhor que lixo, não vai adiantar”. Interpretando e trocando por miúdos: “Assim, vamos mais explicar o quê ao MPLA e aos seus militantes, para perceberem que o País não está bom? Ou acham mesmo que está?”

Será que essa máxima (de um anónimo) se aplica ao nosso caso, já que, habituamo-nos tanto ao mal, que parece por vezes que perdemos a capacidade de perceber que mudar, de facto, só depende de nós mesmos e que para além desta, temos alternativas que podem conduzir a Nação para a solução dos nossos problemas? Colhe mesmo na mente do cidadão na posse completa das suas faculdades mentais, que quem afunda este País, tem soluções para salvá-lo?

Quem como eu se fez à estrada desde que os camaradas chegaram no longínquo 8 de Novembro de 1974, até pode conservar, lá no fundo, alguma expectativa. Mas, apenas por teimosa influência sentimental, porque acreditar mesmo, já não é racional. Porque tudo tem princípio, meio e fim… e cumpre ciclos. O do MPLA também deve ser encerrado para salvação de Angola porque, redondamente, já não serve o futuro. Não entendeu nem entenderá que a chave ‘mágica’ do sucesso político é governar bem! Não existe outra fórmula.

18.04.2021

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

PROCURAR