A nossa história pós-independência foi conduzida por uma intestina luta pelo poder. Os planos deste caos foram sempre feitos em surdina. Perderam-se os horizontes que nos deviam conduzir ao futuro. A governação nunca conseguiu olhar para além da manutenção do poder. Da guerra à democracia. Sempre o mesmo fio condutor. A preservação da espécie partidária. Nunca importando nem os custos para o país, nem as vidas de um povo que só pedia dignidade.
Transformaram o país num sítio de dor. Transbordaram a arrogância. Entornaram os cofres em nome do acessório e da salvaguarda do bem-estar pessoal de uma minoria sem mérito. Ficaram reféns da mesmice. Do absurdo. Das palmas envenenadas. Das passeatas deprimentes que insistem em aplaudir o que está mal. O Estado é confundido com o Líder. Misturam-se. Como uma constante ameaça. As ordens superiores. A manipulação em todos os sentidos.
A estratégia é repetida até à exaustão. As mesmas pessoas. As mesmas ideias. Não há lugar para a genialidade. Para o novo. Para o que faz sentido. O prioritário. O país para todos. As teclas estão gastas e desafinadas. O corpo desarticulado. Cada um faz o seu caminho. O plano é fraco. O Estado desmembra-se todos os dias. Um Dejá Vu.
Temos excesso de passado. Precisamos urgentemente de FUTURO. Um futuro que inclua as pessoas. Que seja eficiente. Que proteja a infância. Que garanta a sustentabilidade alimentar em detrimento do luxo da micha. Três refeições por dia para cada angolano. Uma Nova Escola. Que faça decolar o país para um patamar estratégico e eficaz. Que nos tire do pesadelo económico em que nos encontramos.
A auscultação e o debate público foram amordaçados. Substituídos por pessoas que não nos representam. Prestadores de serviços militantes. Afastar a realidade do debate público não torna invisível os graves problemas que Angola tem. É uma fuga para a frente. Uma fuga perigosa. Uma fuga que tem um elevado preço que mais cedo do que espera o povo irá cobrar sem medo.
O criminoso sacrifício exigido ao povo, causado pela defesa de uma ideologia doente, conduziu Angola para um beco. Há muitos anos que estamos ancorados num lugar sombrio. Precisamos de novos partidos que não sejam bocas de aluguer. Que não estejam em cima do muro de forma confortável. Uma má despesa pública. Precisamos de uma Justiça que não se vergue. Que se cumpra. Apenas em nome da Lei. Precisamos de construir um novo começo. Livre de armadilhas. Sem intriga. Pelo povo e para o povo. Um novo tempo que garanta o respeito pela dignidade da Constituição.
Novas pessoas. Novas ideias. Planos convictos. Estratégias aglutinadoras. Vozes que congreguem. A evidência da ciência. Nova liderança. Já não podemos esperar. O futuro não acontece. Tem de ser construído. Isto demora. Angola já não tem tempo, nem nenhuma margem para o erro.
*No Novo Jornal (15. 09.2024)