Somente uma mudança profunda nas relações sociais e de poder entre o Sul e o Norte, por exemplo, poderá permitir corrigir distorções históricas resultantes de processos como esclavagismo, colonialismo, apartheid entre as várias formas de dominação que moldaram o mundo que temos hoje.
Muitas têm sido as notícias, nestes últimos dias, sobre os discursos de chefes de estado na Cúpula do Futuro e na 79.ª Sessão da Assembleia Geral da ONU. De entre os conceitos mais referidos nesses discursos, sobressai a ideia de que o processo de globalização precisa ser orientado na direcção da equidade e da solidariedade.
Como sou optimista, mas realista, embora acredite que haja muito boas intenções por parte dos oradores nas actividades em curso, eu permito-me fazer uma breve consideração sobre o que me parece estar em causa, de facto, e que nem sempre – quase nunca – é o que acaba sendo perseguido como objectivo.
Através de imagens – acredito no poder da imagem – espero contribuir para a percepção da diferença entre conceitos que, muitas vezes, são considerados sinónimos, e não o são. Por exemplo, igualdade não significa ‘justiça’ porque os pontos de partida são distintos. Ou seja, pela igualdade, todos recebem o mesmo tratamento na distribuição das oportunidades. Na perspectiva da ‘equidade’, os diferentes pontos de partida das pessoas são ponderados na distribuição de oportunidades. Ou seja, ‘equidade’ é dar a cada um o que precisa para terem todos as mesmas oportunidades.
Veja-se o exemplo, na gravura abaixo:
E o que é que isto tem a ver com a 79ª Sessão da ONU e os discursos que por lá vão sendo debitados? Enquanto a desigualdade de condições e de oportunidades entre os diferentes países que integram a ONU, por muitos discursos apelando à ‘igualdade’, não haverá mudanças significativas enquanto não se alterar a ordem mundial prevalecente. As desigualdades prevalecentes transformam as vidas dos cidadãos numa corrida em que a distância a vencer e os obstáculos a superar são muito diferentes de uns para os outros. As mulheres que o digam! Na igualdade de condições e de oportunidades, que muitos clamam, sempre existirão diversas dimensões de desigualdades devido aos pontos de partida distintos de cada um. Somente uma mudança profunda nas relações sociais e de poder entre o Sul e o Norte, por exemplo, poderá permitir corrigir distorções históricas resultantes de processos como esclavagismo, colonialismo, apartheid entre as várias formas de dominação que moldaram o mundo que temos hoje.
Para que haja uma mudança, de facto, precisamos também agregar a esta abordagem a ‘solidariedade’, não caridade. E temos uma razão concreta para tal. Para nos juntarmos e procurarmos agir juntos em defesa da Vida. É que precisamos de nos comprometer a construir um Pacto de Compromisso com o Futuro, como venho defendendo. Parece-me o caminho para salvarmos a vida de todos e de cada um. Recorrendo ao poder da imagem, de novo, selecionei duas que nos ajudam a ver a diferença entre o que temos/como estamos, e o que precisamos ser capazes de fazer:
Precisamos passar desta representação
Para esta:
Ou seja, se nós nos unimos, ninguém cai!
Seria realmente muito lindo que uma tal mudança ocorresse. Mas, isso implicaria que a maioria dos que hoje são detentores do poder, e aqueles que a ele aspiram embora estejam em posições desfavorecidas devido à desigualdade prevalecente, realizassem honestamente o seguinte exercício consigo próprios, e tivessem a coragem, depois, de dar sequência à acção de mudança que se impõe, começando em si, no seu país.
Você está pronto?
Você está pronto a esquecer o que fez pelos outros e lembrar de tudo o que os outros fizeram por você?
Você está pronto a ignorar o que o mundo lhe deve e pensar em tudo que você deve ao mundo?
Você está pronto a colocar seus direitos em último lugar, seus deveres no meio e oportunidades para fazer mais do que os seus deveres, primeiro?
Você está pronto a ver que seu irmão é tão real quanto você e faz um esforço para ir além do rosto dele e alcançar o seu coração?
Você está pronto a reconhecer que a única razão nobre para a sua existência não é tirar proveito ou vantagens da vida, mas o que você é capaz de dar à vida?
Você está pronto a dar, a se dar?
Você está pronto a fechar o seu livro de reclamações contra o mundo e olhar ao seu redor, muito perto de você, para um lugar onde você possa plantar algumas sementes de felicidade? http://www.jouscout.com
26 Setembro 2024