A NEGRITUDE DE KAMALA HARRIS, AS NOVAS ILUSÕES E O PODER DE FACTO

No quadro da realidade das relações sociais de poder nos EUA, nas condições actuais do sistema político deste país, constitui a mais flagrante manifestação de ingenuidade acreditar que a ascensão de uma mulher negra à presidência do império norte-americano pressupõe necessariamente um sinal de progresso e de esperança.

ORLANDO VICTOR MUHONGO

Em alguma época da história da humanidade, terá provavelmente existido um mundo onde as pessoas eram consideradas apenas pessoas. Nada mais do que isto. Boas ou más, competentes ou incompetentes, do sexo masculino ou do sexo feminino. As pessoas eram vistas como pessoas e somente isto. 

Todavia, acredito que nenhum dos seres humanos viventes neste século terá conhecido esse mundo idílico (pelo menos até ao momento, que eu saiba).

O capitalismo inventou a classificação das pessoas em “raças” e desde então o mundo idílico ficou mais distante. Séculos se passaram e interesses mercantilistas manipularam especificidades culturais, identidades, ciência e religião com vista ao estabelecimento de um sistema de exploração económica e racial, que visa perpetuar a manutenção do status quo de uma pequena, porém poderosíssima, elite que exerce poder de influência à escala planetária.

A desistência do Presidente dos EUA Joe Biden à corrida para a reeleição em representação do Partido Democrata, anunciada no dia 21 de Julho de 2024, trouxe ao de cima não apenas um dilema em torno do sucessor ideal face ao confronto eleitoral com Donald Trump, mas também expôs o quanto determinadas figuras ou nomes de certas famílias exercem forte influência nas dinâmicas partidárias internas, até mesmo nos EUA, contrariando a falácia sobre “instituições fortes contra homens fortes”, apregoada por Obama em discurso dirigido aos africanos (entendimento que ficou historicamente registado como o único “contributo” prestado pelo primeiro afro-americano a presidir a ainda maior potência do mundo).

No final de contas, os arranjos internos no Partido Democrata, com vista à definição do putativo substituto de Biden para a corrida eleitoral, resultaram não apenas da preocupação com os cálculos financeiros dos dólares já arrecadados a favor da lista Biden/Kamala, mas também, e fundamentalmente, da influência exercida pela posição dos nomes Nancy Pelosy, os Clintons, os Obamas e inclusive os Soros. Ou seja, mais do que a decisão dos militantes do Partido Democrata (ou seus representantes legítimos), temos testemunhado quão determinante são o dinheiro e a opinião de certos nomes nos processos políticos no país, que é o “exemplo de democracia” recomendado e exportado para o mundo e arredores.    

O aspecto marcante, no entanto, foi, mais uma vez, a utilização, por parte do Partido Democrata, da raça e da pauta dogénero com vista a “vender” esperança aos norte-americanos e seus seguidores por todo o globo (tendo em conta odescalabro a nível das políticas sociais internas e a nível externo, o desastre que tem sido a derrota da OTAN na Ucrânia e o genocídio do povo palestino com a participação do Ocidente).

Diante de um opositor extremamente forte (no actual contexto político dos EUA), o recurso a Kamala Harris como candidata do Partido Democrata para as próximas eleições, a mesma figura que foi provavelmente “o vice-presidente” mais invisibilizado na história dos EUA, representa a utilização do impacto que o simbolismo da pessoa negra e da mulher pode exercer no subconsciente dos cidadãos norte-americanos e na imagem deste país no mundo.

Quem é negro?

Quando analisamos o fenótipo de Kamala Harris e o comparamos ao de um integrante da tribo Masai do Quénia, um Yoruba da Nigéria, um Mukongo de Angola, ou a um Zulu da África do Sul, muito facilmente a observação pode ser afectada por imposições herdadas do esclavagismo e que ainda exercem uma forte influência em praticamente todo o mundo.

Os EUA são provavelmente o país cuja história implantou as mais terríveis práticas de racialização da pessoa negra, práticas estas que atravessaram séculos e impuseram “padrões” de classificação profundamente discrimitórios e confusos.  

Na sua célebre obra “Who is Black? on Nation´s Definition”, F. James Davis (1991) expõe a cruel e vergonhosa história da condição social e jurídica a que foram submetidas as pessoas de origem africana nos EUA. A “Regra da Gota Única” (The one-drop rule) considerava “negra” toda a pessoa que tivesse um único ascendente negro. Com base nesta classificação, uma pessoa era considerada um “negro Quadroon”, quando, na sua linhagem genealógica, descendia de três avós brancos e um negro africano. Por sua vez, um “negro Octoroon” era a pessoa que de oito bisavós, sete eram brancos e um “negro”. Nestas situações a pessoa parece mais branca do que propriamente negra. 

A referida “convenção”, baseada em práticas esclavagistas e que confunde “raça”, cultura e grupo étnico, foi usada como ferramenta para o sistema de segregação Jim Crow (leis de segregação racial promulgadas por estados cujas legislaturas eram dominadas pelo Partido Democrata, aplicadas entre 1877 e 1964), com influência sobre as interacções e abordagens sociais nos EUA dos dias actuais.

 “Como os negros (nos EUA) são definidos de acordo com a regra de uma gota, eles são uma categoria socialmente construída, na qual há ampla variação em traços raciais e, portanto, não um grupo racial no sentido científico” (Davis, 1991).

Legitimidade social e política

Nascida em Oakland, Califórnia, Kamala Harris é filha de pai jamaicano (Donald Harris) e de mãe indiana (Shyama Gopalan). O esposo de Kamala é Douglas Emhoff, um judeu pró-sionista que considerou antissemita a ocupação de universidades por parte de jovens norte-americanos que protestavam contra o envolvimento dos EUA no genocídio em Gaza. Grupos de judeus progressistas, como o Jewish Voice for Peace Action e o If Not Now, criticaram Douglas Emhoff, por considerarem que este confundia todas as críticas a Israel com antissemitismo.

Tendo crescido muito mais vinculada à cultura da família materna e visitado várias vezes a Índia acompanhada de sua mãe, Kamala Harris frequentava em Berkeley, Califórnia, onde viveu a infância, cultos num templo hindu, ao mesmo tempo que participava em serviços da igreja Baptista, frequentada maioritariamente por afro-americanos. Depois do falecimento da mãe, em 2009, Kamala e a irmã Maya visitaram a cidade indiana de Chennai, onde mergulharam as cinzas da progenitora no mar, tal como recomendam as tradições hindu.

As características multi-identitárias assumidas pela pessoa de Kamala Harris, se por um lado concentram “matéria-prima” para a projecção política no quadro multicultural intrínseco à sociedade norte-americana e no contexto dos lobbys típicos do sistema estadunidense, por outro, representam um elemento desagregador a nível da legitimidade social e étnica que, regra geral, o político nos EUA procura, com vista a arregimentar uma base de apoio que justifique a angariação dos milhões de dólares injectados por “doadores”, que, no final de contas, são os dedos que movem as cordas que comandam a marionete a que chamam “democracia” liberal.

Sendo mulher, Kamala Harris é algumas vezes apresentada como a primeira mulher negra a ser investida no cargo de vice-presidente dos EUA. Noutras ocasiões, é retratada como uma mulher afro-americana, mas também como uma mulher afro-americana e indo-americana (simultaneamente). 

A nível de diversos sectores da comunidade indo-americana, existe uma identificação com o percurso político de Kamala Harris, como é o caso de Anoushka Chander, cuja devoção pela trajectória de Kamala é uma questão pessoal, ou mesmo a imprensa indiana que a trata como extensão da identidade nacional do país asiático. Por seu turno, há no seio da comunidade afro-americana diversos questionamentos sobre a apresentação de Kamala como negra ou como afro-americana.

Desde o momento em que despontou para a carreira política, esta questão foi colocada a Kamala em diversas ocasiões. A sua resposta tem sido peremptória: Sou negra e tenho orgulho em ser negra. Nasci negra. Vou morrer negra. (…). Não vou dar desculpas a ninguém, porque eles não entendem.   

O facto de Kamala Harris não ter, na sua história de vida, a experiência social da larga maioria dos afro-americanos, inclusive por ser filha de imigrantes e sem relação directa com a herança das lutas pela emancipação dos escravos, um fardo histórico com reminiscências que ainda afectam os descendentes de escravizados nos EUA, são algumas das questões que têm suscitado questionamentos entre os afro-americanos, como por exemplo o movimento ADOS (Descendentes Americanos da Escravidão), em relação à pertença de Kamala a causas com as quais os negros americanos se debatem há vários séculos. 

Quando a questão da identificação de Kamala Harris, com a idiossincrasia da comunidade negra, é vista sob um prisma das especificidades históricas internas dos afro-americanos, mesmo sendo ela filha de um jamaicano, Yvette Carnell (cofundadora do movimento American Descendants of Slavery), destaca que “há uma diferença nas demandas de justiça para pessoas que são descendentes de escravos”, nos EUA, “e para aquelas que foram escravizadas na Jamaica”.   

Outro aspecto de extrema relevância é o facto da trajectória de Kamala Harris, enquanto procuradora geral da Califórnia, ser manchada por medidas e posições extremamente punitivas, o que conduziu ao crescimento exponencial da população carcerária daquele estado, tendo afectado principalmente a comunidade afro-americana, uma vez que esta é, há séculos, a principal vítima do sistema judicial nos EUA, na decorrência das injustiças sociais a que a população negra está votada. Trata-se de um sistema que promove um ciclo de condenação prévia de várias gerações de afro-americanos, empurradas para o crime e para o encarceramento em massa. 

Por mais que, posteriormente, Kamala tenha tentado exibir a imagem de progressista e tenha defendido outro tipo de abordagem em relação ao sistema judicial, o facto é que o rótulo de procuradora punitivista jamais a abandonou e determinados sectores da comunidade afro-americana o têm bem presente na memória. 

Além da complexidade derivada da característica multi-identitária de Kamala Harris, a ambiguidade não se restringe à sua desconexão da história e da realidade da comunidade afro-americana, da qual alguns sectores suspeitam de uma apropriação do simbolismo do seu éthos com vista ao alcance de fins políticos por parte da oligarquia branca.

Dados sobre a “taxa de pobreza nos EUA por raça e etnia” publicados por Statista Research Departament, aos 5 de Julho de 2024, revelam que, em 2022, 17,1% dos negros que viviam nos Estados Unidos viviam abaixo da linha da pobreza, em comparação com 8,6% dos brancos. Naquele ano, a taxa total de pobres nos EUA em todas as raças e etnias era de 11,5%.  

Kamala Harris cresceu e viveu em contextos sociais muito diferentes daqueles em que vive a larga maioria dos negros nos EUA. A este respeito, Yvette Carnell acrescenta que Kamala Harris não tem isso na sua linhagem. Ela está ancorada em dois pais ricos e imigrantes. Logo, por mais que exista um intenso esforço mediático no sentido de se exibir Kamala como mais uma representação da ascensão da comunidade negra dos EUA, existem conflitos reais e materiais na construção desta imagem, que não podem ser ignorados. 

Para além da ambiguidade étnica, fica evidenciado em Kamala Harris um conflito entre identidade e classe social. A clarificação destas questões constitui um elemento decisivo em contextos em que a conquista política emana de uma legitimidade social natural e não enquanto produto de construções artificiais financiadas por uma plutocracia.

Negritude: um conceito em crise? 

Num mundo em que a pessoa negra ainda luta por afirmação e dignificação, a polissemia da palavra negritude arrasta consigo armadilhas e frustrações. 

Muito além do elemento fenótipo, a negritude expressa uma cultura de lutas e reivindicação de liberdade, justiça e dignidade, presentes na história da emancipação dos povos negros e afrodescendentes. 

Quando enaltecemos a herança que nos foi legada por Aimé Césaire, Léopold Senghor, Léon Damas, Alioune Diop, Frantz Fanon, Patrice Lumumba, Amílcar Cabral, Thomas Sankara, Agostinho Neto e Samora Machel, estamos a referir-nos a um conjunto de ícones, cujo denominador comum “não é necessariamente uma cor de pele, mas o facto de se ligarem de uma forma ou de outra a grupos humanos que sofreram e muitas vezes ainda sofrem por serem marginalizados e oprimidos. (…). Negritude em primeiro grau pode definir-se, antes de mais, como tomada de consciência da diferença, como memória, como fidelidade e como solidariedade” (Césaire, 1981).

A negritude tem no seu substrato a luta do oprimido contra o opressor. O opressor segue sendo o colonialismo, o capitalismo selvagem, o imperialismo, o neoliberalismo, as desigualdades e a injustiça social. A nível dos EUA, foram e têm sido muitos os afrodescendentes envolvidos fielmente na causa, como o caso de grandes mulheres como Maya Ngelou, Rosa Parks e Angela Davis. De igual modo, a América conheceu o espírito da negritude em homens como Web Du Bois, Martin Luther King Jr., e muitos outros. Aliás, foi em solo jamaicano (terra do pai de Kamala Harris), quenasceu Marcus Garvey, uma das artérias que mais bombeou o grito e a revolta da pessoa negra. 

Deste modo, com respeito à polissemia da palavra, recuso-me a incorporar o conceito de negritude como representação de toda e qualquer pessoa, em virtude apenas do fenótipo dela. Sendo divergente das práticas e atrocidades cometidas pelo império norte-americano, não me vejo obrigado a cunhar Barack Obama, Kamala Harris, Lloyd Austin, ou Karine Jean-Pierre como integrantes da negritude, pelo simples facto de serem pessoas negras, principalmente porque estão ao serviço de uma estrutura que atenta contra tudo pelo qual se bateram os pais fundadores do movimento da Negritude.    

De facto, a negritude não é, na sua essência, da ordem da biologia. Com toda a evidência, para lá da biologia imediata, faz referência a algo mais profundo, mais exactamente a uma soma de experiências vividas que acabaram por definir e caracterizar uma das formas da humanidade destinada ao que a história lhe reservou (…). Historicamente, a negritude foi uma forma de revolta, em primeiro lugar, contra o sistema mundial da cultura tal como este foi constituído durante os últimos séculos (…)”. (Césaire, 1981)       

As novas ilusões e o verdadeiro poder

O capitalismo, no seu todo, assim como o sistema político dos EUA, tem dado sinais de decadência. As sucessivas crises financeiras e sociais têm abalado a falsa imagem paradisíaca que, durante décadas, Hollywood e a cultura POP difundiram em todo o mundo sobre o sonho americano. Mas, esta realidade da falência estrutural da sociedade norte-americana não é recente. É um processo paulatino e irreversível. É neste contexto que tem surgido a necessidade de reinvenção do sistema, também com recurso à semiótica e à exploração do simbolismo das identidades no sentido de serem vendidas novas ilusões. 

Na decorrência de uma sequência de factos verificados em 2007, associados às engrenagens do sistema financeiro dos EUA, ocorreu a falência do banco Lehman Brothers e, em efeito cascata, outras instituições financeiras foram arrastadas no que ficou conhecido como crise do subprime. Com vista a evitar o que seria uma catástrofe total, o governo norte-americano teve de renacionalizar as agências de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac. Os neoliberais tiveram de violar alguns dos seus dogmas, que são a intervenção estatal e a nacionalização, no sentido de evitarem o colapso total. 

Milhares de cidadãos e empresas dentro e fora dos EUA foram afectados pela crise financeira de 2007-2008. A suposta infalibilidade da mão invisível do mercado e do sistema capitalista em geral ficou seriamente comprometida. As pessoas estavam desesperadas. A atmosfera financeira, principalmente nas sociedades ocidentais, era desoladora. 

Foi neste contexto que teve lugar a campanha eleitoral de Barack Obama. A simples ideia de que um afro-americano podia tornar-se presidente do país mais poderoso do mundo foi, sem sombras de dúvidas, uma das jogadas mais bem elaboradas em termos de psicologia social de massas. 

Enquanto Obama governava com a áurea de esperança da humanidade e ostentava o Prémio Nobel da Paz, o seu governo desestabilizava países, lançava bombas e matava pessoas no Norte de África e no Médio Oriente. No entanto, para muitos, as consequências trágicas dos actos perpetrados pelo seu gabinete pouco ou nada importam. O facto é que Barack Obama foi o primeiro presidente negro dos EUA e continua a ser uma pessoa com “prestígio”. 

A apresentação de uma mulher negra como candidata à presidência dos EUA é um apelo de duplo significado. Por um lado, a ideia já desenvolvida em relação ao simbolismo do negro, por outro, o significado que representa a imagem da mulher. Porém, em ambas as vertentes estamos diante de projecções enganadoras, caso se acredite que o simples facto de se ter uma mulher residindo na Casa Branca pressupõe que o país norte-americano assumirá medidas mais humanas, tanto em relação a política interna, como na política externa.

No dia 20 de Outubro de 2011, quando as tropas invasoras da OTAN assassinaram o líder líbio Muammar al-Gaddafi, a então secretária de estado do governo Obama, Hillary Clinton, em celebração ao assassinato de Gaddafi, disse: “We came, we saw, he died”. Esta mesma senhora, mãe e mulher, tal como comprova a notícia da Fox de 2016, o WikiLeaks teria feito menção, numa publicação que dava conta da citação numa “reunião do Departamento de Estado dos EUA em 2010, na qual Hillary Clinton perguntou se Assange poderia ser morto num ataque de drone”.

Anos antes, em 2003, servia como conselheira de Segurança no governo de George W. Bush a Sra. Condoleezza Rice. A comunidade afro-americana viu-se envergonhada, não só pelo facto de Condoleezza ter apoiado e, de certa forma, “participado” no ataque dos EUA contra o Iraque, como também por ela não se ter preocupado com as causas da comunidade negra norte-americana, ao ponto de ter sido apelidada por alguns de “traidora da raça”.    

Existem, com certeza, muitas mulheres no mundo, que no exercício de funções políticas e/ou de liderança fazem a diferença positiva naquilo que pode ser considerado como esforços tendentes à construção de um mundo mais justo, humano e harmonioso. Evidentemente, muitas delas são mulheres negras. Porém, no quadro da realidade das relações sociais de poder nos EUA, nas condições actuais do sistema político deste país, constitui a mais flagrante manifestação de ingenuidade acreditar que a ascensão de uma mulher negra à presidência do império norte-americano pressupõe necessariamente um sinal de progresso e de esperança.

Pouco importa o quanto a compreensão sobre o genótipo e o fenótipo possa explicar a variação do tom de pele de um ser humano. Tampouco interessa o grau de identificação de um indivíduo com as causas e princípios da negritude. No contexto norte-americano, o que importa são as vantagens que as elites que manejam as estruturas do topo do sistema global podem obter com o jogo das raças.     

Assim como no caso de Condoleezza Rice e de Hillary Clinton, o envolvimento de Kamala Harris no estágio mais elevado da engrenagem política dos EUA apenas trará à luz duas verdades irrefutáveis: o transbordar da vertente mais perversa da natureza desta pessoa, ou a total submissão e servidão da mesma às exigências anti-humanas que alimentam o complexo militar-industrial norte-americano, o conglomerado de lobbies, as multinacionais, os magnatas, Wall Street, os grandes doadores que determinam a viabilidade de um candidato eleitoral, ou seja, o Deep State. São estes quem,efectivamente, governa os EUA, pois, no sistema social e político norte-americano é a eles que, na prática, um presidente da república se subordina.          

A exploração da história dos negros, os séculos de injustiça a que têm sido submetidos, assim como a utilização da luta pela emancipação que estes povos têm travado dentro e fora de África, visa a projecção de uma imagem de progresso em sociedades dominadas por oligarquias supremacistas brancas. Deste modo, a utilização do simbolismo do homem negro ou da mulher negra “empoderados”, busca somente jogar com as identidades no sentido de se produzir uma reinvenção social que beneficie os grupos que exercem o poder de facto na sociedade norte-americana (e no mundo).

Luanda, 24 de Julho de 2024

One Comment
  1. Uma análise execelente que traduz o profundo conhecimento do autor quer sob o ponto de vista etno-histórico como da realidade politica doméstica e internacional norteamericana.

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