ELEVAÇÃO DE MAIS MULHERES NOS TRÊS PODERES NA VISÃO DE PAULA FERREIRA

“Apenas vemos quantidade e enquanto esta quantidade não produzir qualidade, significa que a manipulação e a submissão são factos a serem considerados”.

A nossa abordagem em torno de quatro questões colocadas à quatro mulheres, sobre o desempenho das que no nosso novo/velho poder foram elevadas para o exercício de elevados cargos ao nível dos três poderes (Executivo, Legislativa e Judicial) e também da esfera política, que logicamente não se encerra aqui, conclui com as respostas que recebemos de Paula Ferreira, uma benguelense de gema.

De nome próprio Maria Paula de Alexandre Ferreira, “Paula Ferreira” é natural do Dombe Grande (município da Baía Farta), mas foi como bancária, sector ao qual estive ligada por 39 anos consecutivos, escritora e activista social em prol da defesa dos benguelenses com engajamento que passou pela Associação das Acácias Rubras, que se destacou nesta sociedade e não só, mas também com acções no âmbito da valorização da mulher e, sobretudo, da juventude e da criança, bem como noutras que por cerca de três décadas uniram o(a)s ombakistas em torno dos seus princípios, valores e anseios.

Também com passagem pelo Ensino, Paula Ferreira publicou, em 2004 a sua primeira obra literária intitulada“O Coração tem como o Mar as suas Tempestades”, que agrega um conjunto de poemas que “ilustram o seu potencial e a sua forma peculiar de colocar no papel o que lhe vai na alma”, sequenciada com uma segunda, lançada há cerca de dois anos, com o título “Sentimentos de mim, de ti e de todos nós”, com 55 poemas, um dos quais, nos impele para a seguinte “Reflexão”:

Ó gente que só sabeis incriminar

Vós que nada fazeis para gente ajudar

Porque será que vós tanta gente culpais

Sem perceberem que com gente chocais…

É com essa cidadã, que espalha a sua ternura, o seu contagiante sorriso e fala leve como uma pena, exalando o perfume das flores que cultiva e com quem as quais conversa, que concluímos essa ronda sobre uma temática que reputamos de elevada importância que não se esgota aqui. 

Resta-nos agradecer Mihaela WebbaCesaltina Abreu, a Ana Clara Guerra Marques e a Paula Ferreirapela disponibilidade e por terem demonstrado que o diálogo (como este promovido por um homem) é saudável para a nação e é sim possível. Não há que ter medo.

Seguem-se assim, as perguntas que formulamos e as respostas de Paula Ferreira:   

O que ganhou a nossa política e a governação de forma geral, com a integração de mais mulheres, ao abrigo do princípio do equilíbrio do género?

Não consigo visualizar nada de melhorias com o equilíbrio do género na nossa política de uma forma geral. A nível de números (quantidade), em si, penso já ser um dado adquirido e visível sem quaisquer dúvidas.  Há que reconhecer algumas iniciativas dirigidas nesse sentido. Mas, a nível de poder e da tomada de decisão, a mulher não se faz sentir. Não noto mudanças. A sua visibilidade é irreal. Acredito que existam algumas iniciativas com projectos inovadores, mas que não entram em produção, por não serem abrangidas na tomada de decisões, no acesso aos recursos, na avaliação, acompanhamento e no controlo da execução.

Há, de facto, uma abordagem diferente em torno dos diversos assuntos, particularmente de âmbito social, tendo em conta o sentimento maternal e afectivo que caracteriza a mulher, como fonte geradora de vida?

Deveria haver sim uma abordagem diferente. Sem dúvida que já há alguns sinais de evidências do papel da mulher na sociedade, exigindo o respeito pelo direito de poder exercer os seus próprios direitos. Mas não vemos sinais, pela concretização da justiça e progresso social que o país necessita. É um processo com poucos avanços e muitos recuos, tendo por isso muito por caminhar. Há que dar o passo em frente, para se poder anular o pensamento de que a mulher entra para a política para diminuir a qualidade da política. Creio na existência de factores de desigualdade económico e social que, de certa forma, agrava este desequilíbrio de uma forma considerável, sem deixar de ter em conta a responsabilidade.

Sente que com esse equilíbrio e até pelo facto de se ter uma mulher como vice-presidente da República, outra como presidente da Assembleia Nacional, para além de no Tribunal Constitucional, em diferentes departamentos e daquelas na liderança ou co-liderança de partidos a abordagem dos assuntos melhorou, se comparado com anos anteriores de predominância masculina?

Aqui está o maior problema. Como já me referi apenas vemos quantidade e enquanto esta quantidade não produzir qualidade, significa que a manipulação e a submissão são factos a serem considerados. A predominância masculina continua a ser uma realidade. Eu não quero acreditar que todas estas mulheres que se encontram no topo, não possam fazer melhor para o seu próprio país, por falta de competência. A falta de movimentos sociais, a alteração das próprias mentalidades, o problema socioeconómico da mulher e sem tocar no próprio conceito da História que quase que limita os traços de personalidade associados ao estereótipo feminino, em nada abonam na designação da igualdade. A inclusão de mulheres a nível governamental deverá ser um caminho aberto para uma sociedade livre, para um desenvolvimento sustentável, multiplicando o crescimento socioeconómico do país e seu respectivo progresso, o que até à presente data nada se sente nos vários domínios onde estrategicamente estão mulheres no topo.

O que esperava mais delas (se é que esperava) como intervenção política, administrativa, cultural, desportiva e social?

A intervenção da mulher na sociedade em si, não deve ser apenas um biblot que se coloca numa estante qualquer e fica à mercê de quem lá o coloca. A luta pela emancipação da mulher, obriga com que ela se organize e aumente a sua responsabilidade perante si e perante as restantes. Sinceramente, eu esperava muito mais, principalmente nas áreas da saúde, educação, do desporto com destaque para o escolar e social, onde qualquer coisa que se faça emite visibilidade de imediato. E não precisa de grandes projectos para o efeito. É só ter vontade e alguma disponibilidade financeira.

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