Dia da Mãe, da importância do reconhecimento à exploração mercantil

Precisamos tentar concretizar, traduzir em acções, a importância das relações familiares, de amizade, de trabalho, de vizinhança, de algum outro tipo, no nosso quotidiano, para tornar a nossa vida mais leve, mais fácil de ser levada adiante, porque amor, amizade, solidariedade, reciprocidade, fazem toda a diferença no enfrentamento das dificuldades do dia a dia. 

POR CESALTINA ABREU

Hoje, 1º domingo de Maio, celebra-se em muitos países o Dia da Mãe.

Praticamente todas as sociedades têm maneiras, ainda que diversas, de prestar homenagem à “maternidade”, à criação das crianças (o Futuro) e aos cuidados com a família. Através de vários rituais e cultos de adoração às divindades que representam “A Mãe”,ao longo dos tempos, as sociedades instituem e realizam actividades dedicadas a essas divindades. Na Grécia era a deusa Reia, mãe dos deuses, e em Roma era Cibele, a deusa mãe, também conhecida por Magna Mater

No século XVII, surgiu o Mothering Day na Inglaterra para que os operários pudessem ter um dia de folga para visitarem as suas mães1. 

No início do Século XX, nos Estados Unidos, a celebração instituiu-se devido aos esforços de Anna Jarvis (1864-1948), uma jovem norte-americana que perdeu a sua mãe, a activista Ann Maria Reeves Jarvis, em 1905 na Guerra Civil2

A Mãe, Ann Maria Reeves Jarvis fundou, em 1858, o Mothers Day Work Clubs, que realizava campanhas em prol das mães trabalhadoras e contra a mortalidade infantil. Em 1865 organizou o Mother’s Friendship Days (dias de amizade para as mães) para melhorar as condições dos feridos na Guerra de Secessão que assolou os Estados Unidos nesse período. 

Depois do seu falecimento, Anna que se tinha tornado activista dando continuidade ao trabalho da mãe, iniciou na sua cidade (Grafton, Filadélfia) uma campanha para destacar a importância da figura materna na sociedade, com a intenção de instituir um dia de celebração das Mães. A campanha rapidamente se espalhou pelos Estados Unidos da América, acabando por ser instituída, em 1914, pelo Congresso dos Estados Unidos e ratificada pelo então Presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, como o Dia das Mães, a celebrar-se no 2º domingo de Maio.

Ann Marie Reeves Jarvis (esquerda) e a filha, Anna Marie Jarvis (direita)

Contudo, Anna Jarvis ficou bastante desapontada ao perceber a mercantilização da data, dado que o seu principal objectivo era criar uma oportunidade para reunir mães e filhos, e celebrar a presença materna, e não promover uma alta temporada de negócios em torno da celebração da figura materna. Nas palavras dela: Não criei o dia das mães para ter lucro, enfatizando a sua indignação perante esse fenómeno comercial. 

E com a mesma garra com que tinha procurado oficializar o Dia Das Mães, em homenagem a todas as mães, iniciou uma acção visando a abolição da data pela qual tanto havia lutado, devido à maneira como foi usada pelo comércio após ter-se tonado popular. 

Eu considero importante celebrar as datas que são significantes para cada um de nós e para aqueles que nos rodeiam, que nos são mais próximos. No calendário pendurado na parede, inserido na agenda ou consultado numa página da internet, todos os dias são iguais. Cabe-nos torná-los distintos, conferir-lhes significados, dar-lhes sentidos. 

Por isso, considero importante a existência de datas celebradas internacionalmente (ou pelo menos com essa intenção), como os dias internacionais, porque eles representam uma maneira de lembrar aos cidadãos, aos meios de comunicação social e, especialmente, aos governos, a razão de uma dada data, a sua importância e, em geral, o que é preciso fazer, em termos de políticas, para que o seu objectivo seja alcançado. Mais do que dias de celebração, são dias de luta! 

Mas confesso que penso, e sinto, como creio que Anna Jarvis terá pensado e se sentido, perante a comercialização de uma data que se propunha reunir as Mães e os seus Filhos, só! Outra característica ‘moderna, actual’ destas celebrações também me desagrada: o cinismo e a hipocrisia associados às “homenagens datadas” com frases feitas, mensagens despersonalizadas, esvaziadas de sentido, e, acima de tudo, de sentimento. 

Todos os dias devem ser Dias das Mães, dos Pais, dos Filhos, dos Avós, da Família, do Ambiente, da Comunidade, do Amor, da Amizade, etc. Precisamos tentar concretizar, traduzir em acções, a importância das relações familiares, de amizade, de trabalho, de vizinhança, de algum outro tipo, no nosso quotidiano, para tornar a nossa vida mais leve, mais fácil de ser levada adiante, porque amor, amizade, solidariedade, reciprocidade, fazem toda a diferença no enfrentamento das dificuldades do dia a dia. 

Um Bom Dia das Mães para Mães, Filhos, e ‘Famílias’! 

1 “Mother’s Day Proclamation, by Julia Ward Howe, 1870. wagingpeace.org. 2007. Consultado em 13 de Maio de 2012;

2 Rice, Susan Tracey; Robert Haven Schauffler (1915). Mother’s day: its history, origin, celebration, spirit and significance as related in prose and verse. [S.l.: s.n.] pp. 3–5. Consultado em 13 de Maio de 2012 

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