APOSTAR NA GUERRA PARA A MANUTENÇÃO DO PODER – ALGUÉM QUER SEGUIR O (MAU) EXEMPLO DE BENJAMIN NATHANYAU?

Nenhum julgamento mediático, em Luanda ou no Huambo, poderá resgatar a confiança desperdiçada por quem teima em menosprezar a honra, a dignidade e a maturidade do Povo Heróico e Generoso. Haverá entre nós alguém interessado em seguir a estratégia de Nathanyau de “fabricar” uma guerra para a manutenção do poder? Não acredito.

JOSÉ NETO ALVES FERNANDES

Quando faltam apenas 15 dias para a aprovação (ou chumbo) do novo OGE-2025 no Knesset, o parlamento do Estado de Israel, e estando a braços com um crescendo de manifestações de protesto, o Primeiro Ministro Benjamin Nathanyau, na vã tentativa de aliviar a pressão do eleitorado, optou pela via mais fácil e mais sangrenta. Mandou bombardear a Faixa de Gaza e arredores, provocando quase 500 mortos, na sua maioria mulheres e crianças inocentes. Faz parte do plano de extermínio do povo da Palestina para dar lugar à obscena Riviera do Médio Oriente. Dias antes, o premier israelita exonerou o chefe do Shin Bet, o Serviço de Inteligência Interna, que estava a investigar alguns dignitários do Estado Hebreu envolvidos do “Qatargate”, um encândalo de proporções astronómicas sobre dinheiros obscuros provenientes do Emirado do Qatar. Estão enolvidos nesse esquema de corrupção alguns aliados indefectíveis de Bibi Nathanyau, um chefe de governo confrontado, também ele, com vários processos judiciais.

Já em Angola, um país especificamente específico, decorre um julgamento “sui géneris” em que sete (7) indivíduos sem qualquer experiência militar relevante são acusados de “tentativa de atentado” terrorista contra o Palácio da Cidade Alta, residência oficial do Presidente da República, a embaixada dos Estados Unidos da América, a Refinaria de Luanda e a Assembleia Nacional, além de outros objectivos estratégicos na capital do Planalto Central. 

Os arguidos colocaram-se (ou foram colocados?) publicamente na condição de réus confessos, tendo revelado a identidade dos seus supostos mandantes, assim como alguns detalhes do alegado plano terrorista que tinha por objectivo “detonar” a visita do ex-Presidente norte-americano a Angola. 

O advogado de defesa atirou a toalha ao tapete, condenando os seus constituintes de forma aparentemente premeditada, com recurso ao expediente da delação premiada, por considerar que, mais do que condenar “os sete magníficos”, o ideal será punir severamente e irradiar definitivamente da cena política angolana os autores morais da intentona. E quem são eles? Nada mais, nada menos que dois dos  principais protagonistas da arena política nacional, nomeadamente, Adalberto Costa Júnior, Presidente da UNITA, e Liberty Chiyaka, líder do grupo parlamentar do maior partido na oposição, ou seja, a UNITA. E tem mais. Kami Pena, general reformado e antigo operacional dos serviços de Inteligência das forças militares da… UNITA, ao tempo de Jonas Savimbi. Quer dizer que dois dirigentes políticos com assento parlamentar e um especialista militar do partido que protagonizou uma das guerras mais sofisticadas do continente africano decidiram contratar, em tempo de paz efectiva, sete amadores infelizes (ou infelizes amadores) para atentar contra o líder (em fim de carreira) da maior potência do planeta. 

A posição da UNITA, lamentavelmente reactiva e inconsistente, será tema para outras conversas. Mas a semelhança entre os promotores (?) do julgamento do Huambo e os assessores do Primeiro Ministro israelita é muito simples. Todos eles estão totalmente desprovidos de soluções para as crises em que se encontram os dois países, tendo em conta que a popularidade dos respectivos líderes está quase a atingir o zero. Tanto em Angola como no Estado de Israel, os escândalos de vária ordem somam e seguem, adensando a indignação dos cidadãos que se sentem traídos por políticos sem palavra e sem memória, incapazes de se recordarem das mais elementares promessas eleitorais.

No Estado de Israel, o ataque do Hamas, desencadeado a 7 de Outubro de 2023, constituiu inicialmente um traço de união. Hoje por hoje, as manobras de Nathanyau que aposta na guerra para a manutenção do poder, insistindo na ofensiva genocida contra o povo da Palestina, têm sido alvo de ondas crescentes de contestação por parte de diferentes sectores da comunidade hebraica.

Aqui em Angola, o combate à corrupção, que foi o maior trunfo eleitoral do Presidente João Lourenço, tem sido encarado como um embuste que propicia novos actos de corrupção a todos os níveis, sendo consequência indesmentível do actual clima de indignação generalizada, na medida em que os escândalos financeiros multiplicam-se dia após dia, contrastando com a fome e a miséria que fazem morada em milhões de agregados familiares completamente desagregados por culpa de uma governação insensível e sem visão, que prioriza a promiscuidade entre a política e negociatas rasteiras, promovendo a ostentação de riquezas imorais.

Neste capítulo, a grande diferença entre Angola e Israel também é visível à vista desarmada. Em Telavive, foi a televisão pública que divulgou, em primeira mão, as evidências de que alguns altos funcionários públicos próximos ao Primeiro Ministro teriam sido “agraciados” com milhões de dólares canalizados por via de um esquema engendrado a partir do Qatar. Os analistas e comentadores das televisões não tiveram meias medidas para questionar em “breaking news” as razões da repentina exoneração do director do Shin Bet, o SINSE de lá. 

Já cá em Angola, parece que ninguém percebe que as inconsistentes tentativas de manipulação da opinião pública constituem sérias ameaças à segurança nacional, tendo em conta que a estratégia de amordaçar a comunicação social e afunilar as liberdades fundamentais tem acentuado o esvaziamento da credibilidade das instituições, culminando com a erosão da autoridade do estado. Assim se explica o facto de haver cada vez mais rapazes e raparigas sem medo, empenhados nos mais requintados expedientes de malbaratamento de dinheiros públicos.

É aqui que se agigantam as diferenças estruturais e conceituais entre Israel e Angola. Enquanto por estas bandas, 50 anos depois da independência, ninguém entende que o contrabando de combustíveis, a expatriação ilegal de divisas e a nomeação de crápulas sem escrúpulos para cargos importantes nos centros de decisão, constituem sérios atentados contra a segurança nacional, lá nas terras do Rei Davi ninguém concebe que um governante queira alguma vez converter o poder concedido pelo Povo em instrumento para a ostentação de fortunas colossais. 

É por isso que nenhum julgamento mediático, em Luanda ou no Huambo, poderá resgatar a confiança desperdiçada por quem teima em menosprezar a honra, a dignidade e a maturidade do Povo Heróico e Generoso. Haverá entre nós alguém interessado em seguir a estratégia de Nathanyau de “fabricar” uma guerra para a manutenção do poder? Não acredito.

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