A SAGA DO CHEFE (4). TRAPALHADAS TIRÂNICAS DO PRESIDENTE DO FUTEBOL CLUBE DA IMPALA

VEGETANDO POR AÍ…

“Se não podes ser uma ponte para unir as pessoas, não sejas uma parede para as separar!” 

Anónimo

RAMIRO ALEIXO

Quando digo que o Chefe não percebe patavina de governação e está a anos-luz de ser comparado a um líder, no mínimo parecido com o Chefe que o indicou (e isso irrita-o), há quem fica aborrecido e diz que uso substâncias proibidas, aquelas que eles próprios ‘importam’ e comercializam. Mas factos são factos e está aí mais um exemplo, protagonizado pelo Chefe, na última reunião do Comité Central do Futebol  Clube da Impala. Acabou por dar nova calinada, rebaixando a Nação, o seu Clube, a instituição que representa e o desempenho dos demais actores da nossa política, ao nível daquele presidente e daquela equipa de bairro, que até enche estádios, mas não passa daí. 

Iluminado por todos os holofotes, o Chefe fez, ao vivo e a cores, uma actuação em que manifestou profundo desconhecimento dos estatutos do Futebol Clube da Impala, ensaiando uma estratégia para enrolar os demais sócios, com o objectivo de continuar a segurar o leme do poder, que ainda não foi bem-sucedida. Ou seja: o Chefe pretende trocar o poder pelo poder. No entanto, ficaram patentes mais dúvidas, para além das que já existiam, sobre a competência do Chefe e da equipa técnica que o assessora, feita parecer uma cambada de ignorantes ou de preguiçosos que não lê e se lê, não sabe interpretar o conteúdo de documentos importantes, como são a Constituição e os estatutos do Clube que ganha há quase meio século mas não convence. 

Atente-se para as orientações deixadas pelo Chefe aos membros do Comité Central do Clube, como se todos eles fossem também iletrados ignorantes (ou são e nós não sabemos?):

“Não se vislumbram eleições gerais no país para breve, por não ser o tempo estabelecido pela Constituição, igualmente não se vislumbram eleições no partido, por não ter chegado o momento estabelecido pelos nossos estatutos”.

Mas quem não sabe disso, se a Constituição não sofreu alteração neste domínio, nem os estatutos referidos, porque nem ao nível da Assembleia Nacional, nem do Futebol Clube da Impala, houve qualquer discussão aproposito? Ou, a ‘boda’ já está preparada a porta fechada? Mas, prosseguindo, disse o Chefe:

“A política é um jogo e como em qualquer jogo ou competição só vencem as equipas cujos jogadores ou atletas se submetem à organização e disciplina do colectivo e respeitam as regras do jogo e a orientação da equipa técnica. Ninguém começa o jogo sem ouvir o apito do árbitro, ninguém inicia a corrida de atletismo sem ouvir o tiro de partida, sob pena de ser desqualificado e prejudicar a equipa”.

Que comparação mais descabida sobre preparação, sobre eleições, sobre pretenções de candidaturas, sobre o funcionamento de uma equipa ou sobre a realização de um jogo! Só mesmo, se as regras do jogo forem impostas pelo Chefe do Futebol Clube da Impala, que se diz amante de xadrez, mas ninguém o viu, em sete anos, diante de um tabuleiro, porque em matéria de desporto, a parte mais visível é a de um ciclista que só pedala para emagrecer ou manter a forma física, competindo, com calções chuchuados, à frente de um grupo de seguranças proibidos, apenas neste caso, de estar na frente. Não causa pois espanto, o estado de desarrumação e desestruturação em que se encontra o país, em risco de continuar a ser sacrificado para atender a satisfação do ego do Chefe e dos previlégios de uns tantos. Porque preparação antecipada, a concepção, a previsão, a análise, a pesquisa incluindo sobre os adversários, constituem ante-câmaras do sucesso. Não seguir essa metodologia, significa impirismo e nos tempos que correm, é fatal. 

E concluiu, novamente misturando assuntos do Futebol Clube da Impala com outros, do Estado, que para o caso, não deviam ter a mesma ligação (ou sequência):

“Estamos em plena competição, não podendo deixar-nos distrair por agendas que em nada ajudam a mantermos o foco na necessidade de cumprirmos com o programa de desenvolvimento nacional, com a necessidade da diversificação da nossa economia, de aumentarmos a produção nacional para garantir maior oferta de bens e de serviços, de aumentar as exportações e a oferta de postos de trabalho”.

Os seis equívocos do Chefe

O tema virou ‘meme’ da semana nas redes sociais. Mais uma ‘bandeira’ do Chefe, a juntar à tantas outras, no decorrer desses sete anos. Aliás, cada discurso do Chefe transforma-se, quase sempre, num pesadelo para a sociedade e até para os demais membros da direcção do Futebol Clube da Impala. E nivelando essa sua intervenção com a de terça-feira na Assembleia Nacional para dar conta do Estado da Nação, prevê-se mais um exercício sofrível de descrição de um país, que para o Chefe é um paraíso, mas para o cidadão comum, o inferno.

Uma das mais esclarecedoras respostas, tem como autor António Venâncio, um pré-candidato à liderança do MPLA, que demonstra melhor domínio do conteúdo dos estatutos que o Chefe e discernimento político. Classificou, por via das redes sociais (face o bloqueio que lhe é imposto nos órgãos públicos) que o discurso do Chefe está repleto de equívocos, apontando seis exemplos. Começou por concordar que, “constitucionalmente, cabe ao Presidente da República, da sua voz e consultas feitas, convocar as eleições gerais”. Mas, discorda relativamente à convocatória para as eleições internas (no Futebol Clube da Impala), por serem da competência “do Comité Central”, porque assim estabelecem os estatutos.

Sobre o que considera o segundo equívoco do Chefe, António Venâncio refere que “no âmbito dos direitos constitucionais civis e políticos dos cidadãos, estes têm direito de eleger e serem eleitos, e qualquer um pode aspirar ao mais alto cargo do país ou do partido em que milita, se entender que reúne os requisitos exigíveis e as condições do país justifiquem a pretensão”. Nós, os militantes do MPLA, alerta Venâncio, “também gozamos destes direitos”.

António Venâncio refere, ainda, que “a decisão para esta pretensão é individual, e não depende do presidente da organização nem de qualquer dos seus organismos. Trata-se de uma decisão de consciência e unipessoal, que uma vez publicamente declarada, se dá o nome de pré-candidatura. O declarante é então designado “pré-candidato”.

Não havendo arbitragem, senão a própria consciência do militante, prossegue António Venâncio, “o cidadão, livre, reunirá todas as condições administrativas, técnicas e numéricas para que, em tempo determinado pelos estatutos, apresente a sua decisão em candidatar-se junto da Comissão criada para o efeito”. No nosso glorioso, conclui Venâncio, “nós damos o nome de Sub-comissão de Candidaturas, subdivisão da comissão eleitoral”. Mas também aqui, ao contrário do que dizem (e quem disse foi o Chefe), António Venâncio deixa claro, que “a candidatura não depende do presidente do partido; depende da decisão da Sub-comissão, após verificados os requisitos estatutários exigíveis. Este processo (de apresentação dos documentos de candidatura) terá lugar depois da convocação do congresso (2026). Mas isto não impede que o pré-candidato inicie as suas tarefas preparatórias o quanto antes, o mais cedo possível”.

Como quinto equívoco do Chefe (do Futebol Clube da Impala) Venâncio elucida que “uma vez apurados os candidatos, 15 dias depois inicia a campanha eleitoral interna entre candidatos, que só termina 45 dias antes do Congresso”. E também aqui, refere António Venâncio, “o presidente do partido nada determina”, porque se trata de “uma concorrência livre e democrática”, o que parece não ocorrerá, a julgar pelas declarações do Chefe, que se assemelham a uma orientação directa endossada aos que se sentaram ao lado e atrás de si. Que, logicamente, como tem sido prática, vão executar sem questionar. Aliás, o tal discurso já deve ter sido adoptado como matéria de estudo, por cerca de 600 membros da direcção e mais de cinco milhões de sócios e simpatizantes, que, em princípio, não têm nenhuma semelhança com jumentos ou avestruzes. Mas por vezes portam-se como se fossem.

Por último, António Venâncio dá conta que “o sinal (apito) de partida para pré-candidatos não é dado por ninguém: só depende do militante decidir iniciar o seu processo com os camaradas que o apoiam”. O sinal de partida para a definitiva apresentação da candidatura (depois deste reunir 5000 subscrições), reafirma, “não é dado pelo presidente do partido”, mas sim por via de “convocatória do CC”.

“O apito final para a corrida ao cargo, também não parte do presidente do MPLA cessante. Vem da comissão eleitoral e é decidida, finalmente, pelos distintos delegados ao Congresso pelo sistema de maioria de votos. O candidato vencedor é depois reconfirmado “Cabeça de Lista” por deliberação do Comité Central, e este receberá o apoio das estruturas do partido para concorrer em 2027 à presidência da República contra os demais candidatos dos partidos políticos no âmbito da lei dos partidos e das eleições gerais” — conclui António Venâncio, que, provavelmente, já deu conta que o Chefe tem aversão a expressões como “cessante, sucessão ou substituição”. Porque o Chefe não quer sair. Quer ficar, porque tem medo de não viajar mais naquele avião que Angola comprou para ele por 300 milhões de dólares. E se sair do casarão da Alta Cidade, quer continuar lá.

Embora não tenha sido possível confirmar, circula também já nas redes sociais, uma suposta resposta de outro pré-concorrente à presidência do Futebol Clube da Impala, o general Higino Carneiro, que terá dito que “enquanto o jogo não começa, os jogadores devem estar preparados”.

Com esses posicionamentos, que podem inferir os de uma corrente mais extensa no seio do MPLA que ainda se acobarda, se esconde, que tem medo, percebe-se que o Chefe, neste momento, assemelha-se a um camião avariado no meio de uma auto-estrada. Não tem carga na bateria, não apresenta ideias novas e unificadoras, e quando entra em jogo, actua como um defesa sarrafeiro porque tem medo de ser trucidado por outros camiões que circulam na mesma via. Por isso considera todos os que pensam diferente, como os maus do seu filme de terror. Falta-lhe inteligência, astúcia e disponibilidade para negociar, mesmo intramuros, até mesmo no caso de questões delicadas que podem influenciar a sua acomodação se deste parto nascer um nado-morto. Está a transformar-se num produto tóxico para o próprio Futebol Clube da Impala. Provavelmente, precisa de um pequeno empurrão, para perceber que já não é bem-visto nem quisto. E demasiado preocupado com a sua agenda externa, não tem sequer conhecimento que existe uma lei das associações que obriga à realização de eleições por cada ciclo directivo, extensivas as agremiações desportivas. Aliás, nesses quase 50 anos de independência, as associações, as federações e os clubes, constituem dos poucos exemplos de alternância, de mudança e de exercício democrático, que há muito devia ser replicado nos diferentes escalões das fileiras do Futebol Clube da Impala. E beber dessa experiência, não lhe ficaria mal. 

Mas, acreditem, pessoalmente até gosto de ver o filme. E já paguei para estar na primeira fila, com pipocas, para assistir à continuação, porque do outro lado do Índico, recebemos o sinal de que um tal candidato Chapo, de um clube que é fotocópia do de cá (e veio beber da experiência), está a levar chapadas de um adversário que, ironia da história, tem o nome do primeiro Chefe deles: (Eduardo) Mondlane. Oxalá possamos viver a mesma experiência daqui a dois anos. Porque o país merece melhor, ainda que, proveniente do próprio MPLA. Porque esse Chefe já não faz tem-têm, mas como é demasiado ‘trungungueiro’, também não sai de cima. Só que, o Chefe esquece-se de um pormenor importante: nesse jogo político, o empate não serve. Só a vitória interessa. Contudo, essa parece uma missão impossível porque desde familiares a (ex)amigos a maioria torce para o fim da banga do Chefe e da Chefa, embora pensem que impondo-nos a sua presença e gestão, estão a fazer-nos um grande favor.

Termino, como comecei mais esta introspeção vegetativa: “Se não podes ser uma ponte para unir as pessoas, não sejas uma parede para as separar!”. Não amarre mais o Futebol Clube da Impala nem a Nação, caro Chefe. Vá para a reforma em paz, leve na bagagem a colheita do que semeou e compre um livro sobre os conceitos da ética (sugiro o de Aristóteles “Ética a Nicômaco” – Editora Principis). Provavelmente, será uma pessoa mais cordata na próxima encarnação porque nesta, já não lhe resta tempo. Por outro lado, pau que nasce torto, ainda se endireita. Mas o mau carácter nunca. E o pior é que quem está ao seu lado, não ajuda. 

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