Tunda Mu Njila: Assim não, Presidente!

LUZIA MONIZ

Angola está na bancarrota, sem dinheiro para pagar salários, a sua dívida classificada por agências de rating como lixo (CCC+), mas o chefe (do Estado, do Executivo, etc.) mantém-se em silêncio. Assim, não, Presidente!

O País precisa de saber do seu Presidente (e não de kilessas incapazes de auxiliar a favor de Angola) porquê, como e desde quando estão os “cofres vazios”, sem liquidez para pagar aos professores, médicos, enfermeiros, aos funcionários públicos em geral.

Precisa de ouvir da voz de quem foi empossado e jurou melhorar o País e, concomitantemente, a vida dos angolanos que soluções existem para tirar Angola desse precipício. Assustados e desesperados com a mais grave crise desde a independência, que supera de longe os momentos mais dramáticos da guerra contra o poderoso regime do Apartheid e seus protegidos, os angolanos têm o direito de saber da real situação política, económica e financeira do País, o maior produtor de petróleo a Sul do Sahara.

Precisam de perceber o que aconteceu ao excedente arrecadado com a subida do preço do barril de petróleo (atingiu os 120 dólares), consequência da crise energética mundial, provocada pela guerra na Ucrânia, quando, no Orçamento Geral do Estado (OGE), o preço de referência do crude rondava os 40 dólares.

Perante esta crise, o País não pode continuar a assistir ao mais alto magistrado da Nação a assobiar para o lado, entretido com trivialidades, como a renovação da tubagem de água para o banho quente presidencial ou novas frotas de carros de último grito. O Presidente não pode continuar a distrair a opinião pública com viagens inúteis, de resultados nulos, em luxuosos aviões com gigantescas e improdutivas comitivas, discursos ocos, como se de uma qualquer miss se tratasse.

Os angolanos estão em stress, tomados pela ansiedade perante a catadupa de informações sobre o seu presente e futuro imediato e longínquo que circulam nos media estrangeiros e nacionais de capitais privados, bem como nas redes sociais.

O País precisa de perceber se a despromoção de José Massano de governador do Banco Nacional de Angola (BNA) para auxiliar (ministro de Estado) para a coordenação económica é consequência dessa falta de liquidez.

No entanto, o País ouve o antigo vice-presidente da República, Bornito de Sousa, membro da cúpula do MPLA, criticar a actual governação, pedindo mudança de rumo e apontando alguns dos erros do Poder, nomeadamente o desinvestimento na Educação e o incumprimento da promessa constitucional de realização das autarquias como forma de descentralização e partilha do Poder.

O seu coadjutor dos últimos cinco anos fez uma espécie de meia culpa e identificou o fracasso desse período, mas do Presidente nem uma palavra sobre o País com quase metade da sua população na pobreza extrema, cerca de quatro milhões de crianças fora do sistema de ensino e com uma taxa de analfabetismo que, nos últimos anos, aumentou dos 25% para 34%, segundo diversos estudos internacionais.

A esse ritmo, Sr. Presidente, a geração dos seus netos corre o risco de herdar um País inviável com mais analfabetos que escolarizados e onde a crendice e a charlatanice vencem o conhecimento científico.

Enquanto o incompreensível silêncio do Presidente se mantém, Luzia Sebastião, juíza jubilada do Tribunal Constitucional e respeitada magistrada angolana, põe o dedo na ferida do País, afirmando que “se a crise atingiu o judiciário significa que o sistema político está falido”.

Consciente de que a justiça é o guardião das liberdades e pilar da construção da democracia, a magistrada manifesta-se contra a permanência de Joel Leonardo na presidência do Tribunal Supremo, situação que “tem a ver com política. Há algum interesse subjacente à sua permanência”, assevera, em entrevista ao semanário Valor Económico.

Tal como Luzia Sebastião, o País há muito percebeu que Joel Leonardo, com um cardápio de acusações e suspeições sobre si que faz de alguns corruptos profissionais meros aprendizes, só permanece agarrado ao lugar por causa do apoio e vontade do Presidente. Por outro lado, o País ouviu, mais uma vez, o seu auxiliar do Interior e outros altos dirigentes do seu MPLA naturalizarem a violência e repressão policiais que causaram oito mortos entre os manifestantes que protestavam contra o aumento dos preços dos combustíveis.

Ouviu com perplexidade o louvor aos matadores pelo cumprimento da “nobre missão” de eliminar aqueles que se opõem com estrondo às políticas do seu Executivo. Essa repressão, em linha com o autoritarismo reinante, típico de regimes totalitários, contribuiu para piorar a sua imagem interna e externamente.

Angola ficou, também, estupefacta ao ler/ouvir a notícia sobre a ridícula intenção do seu Presidente de usar os parcos recursos financeiros do Estado para convencer a CNN a criar ou transformar um dos seus canais numa espécie de TPA5 ou 6, para satisfação do Poder angolano que não consegue domar a CNN-Portugal e fazer dela seu instrumento de propaganda.

Igualmente ficou espantada quando tomou conhecimento da vossa vontade de, através de nova lei, pôr membros do Comité Central do Partido a fazer jornalismo, a exemplo da Coreia do Norte. Se a TPA, segundo dados divulgados pelo economista Carlos Rosado do Carvalho, custa mais de 18 milhões de dólares/ano, quase seis vezes mais que os Caminhos de Ferro de Benguela, infra-estrutura determinante para o desenvolvimento e integração nacional e regional, é fácil concluir que, para o abortado negócio propagandístico com a CNN, o Executivo se preparava para esbanjar dezenas de milhões de dólares.

Há abortos positivos! Depois do fracasso do projecto Cafú , uma obra eleitoral, que supostamente levaria água a regiões afectadas pela seca no Sul de Angola, o País quer saber do Presidente, único titular do Poder executivo, o que fará para que os angolanos dessa região deixem de ser vítimas de um problema que se arrasta há décadas.

Assim, não, Sr. Presidente!Menos de um ano depois da realização das últimas “eleições”, o sufoco dos angolanos é de tal forma que a delinquência, o suicídio e a fuga para o estrangeiro, numa migração, grosso modo, irregular, surgem como únicas saídas para jovens da geração dos seus filhos, a mais preparada de sempre. Só em 2022, mais de sete centenas de angolanos se suicidaram!

Nesse rol de novos emigrantes, constam secretários e conselheiros presidenciais, membros do Comité Central, do Executivo, deputados e, paradoxalmente, administradores dos capturados meios de comunicação social que têm a milagrosa missão de melhorar a imagem do Presidente.

Gente que transferiu as suas famílias para a Europa em busca de segurança, de qualidade e dignidade de vida que a governação angolana não oferece. Entretanto, assustando ainda mais os angolanos, o Sr. Presidente e seus apoiantes, tomados por comportamentos pavlovianos, vão alimentando o tabu de um hipotético terceiro mandato como se o seu desempenho fosse uma mais-valia para o País.

Não, Sr. Presidente!

Olhe para o que se passa em países como o Senegal, onde se cogita um III mandato, e não tome os angolanos por boelos. Não acrescente instabilidade política à instabilidade económico-financeiro-social. Diga clara e frontalmente que não tem quaisquer interesse, disposição e possibilidade de lutar por mais um mandato.

O País continua a acompanhar o desprezível comportamento de deputados que, preocupados apenas com os seus privilégios pessoais, assistem, impávidos e serenos, a Angola afundar, esperando, muito provavelmente (qual Fénix qual quê!?), sair das catacumbas quando tudo se encaminhar para a mudança.

Sem tacticismos, como conhecedoras das dificuldades reais do dia-a-dia dos angolanos, as zungueiras marcharam contra as arbitrariedades de governantes que, a partir do mundo imaginário em que vivem, fazem da perseguição a essas mulheres o leitmotiv da sua missão política.

Perante isso, o País precisa de saber se o Presidente manterá o actual e arruinado rumo político, económico e social, denunciado por Bornito de Sousa, Luzia Sebastião, jornalistas, activistas, zungueiras, sindicalistas, militares, sobas, políticos e intelectuais, incluindo do partido presidencial que, de caxexe, uns, e abertamente, outros, vão pedindo a renúncia do Presidente e a realização de eleições antecipadas. Ou, se, pelo contrário, num acto de contrição, anunciará a mudança de rumo, arrepiando caminho, porque, Sr. Presidente, assim, como está, não!

In Novo Jornal

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