A força da razão, nem sempre justifica a tomada de decisão. Infelizmente, os governantes angolanos são facilmente levados por emoções quando tratam de questões de Estado.
Não me surpreendeu a notícia que dá conta de que a Administração americana tenha levantado as sanções contra bancos russos para transações relacionadas a energia e petróleo, num período difícil para a economia em que se aproximam as eleições e qualquer aumento dos preços, pode ter influência negativa para a campanha de reeleição do Presidente Joe Biden.
Como tenho dito e escrito em várias ocasiões, as relações de cooperação entre países, giram em torno dos interesses econômicos e não da política.
Todavia, se por um lado, os preços do petróleo e de outras commodities podem subir ou baixar, não apenas pela oferta (escassez ou abundância), ou procura dos produtos, também podem subir ou descer pelos efeitos psicológicos do que hipoteticamente poderia vir a acontecer, ou do que quem quer dominar o mercado possa fazer crer.
De recordar que, apesar da conflitualidade em muitos domínios, os americanos mantém parcerias com os russos, por exemplo na exploração do espaço, como sempre mantiveram cooperação médica na área de saúde com o regime cubano, que envia médicos para colaborar em certas pesquisas nos Estados Unidos, a troco de equipamento médico usado, apesar do embargo que o Presidente Barack Obama quis levantar.
Certa vez, em 1987, durante uma reunião da ONUDI, em Viena, em que estive presente na qualidade de Secretária Geral Nacional para esse órgão, assisti ao primeiro acto que comprovou o que aprendi cientificamente mais tarde. Durante a aprovação de uma verba ínfima para apoiar o sector da saúde em África, os representantes da África, da Ásia, da América Latina e da Europa (Ocidental e do Leste) concordaram com a atribuição da referida verba, menos o dos Estados Unidos, cujo representante pediu a interrupção da reunião por um período de tempo, para negociar exclusivamente com o representante russo (na altura ainda URSS).
Quando retomamos os trabalhos, para nosso espanto, o representante da URSS (em plena guerra fria), apoiou a proposta dos Estados Unidos de chumbar a aprovação de tal verba. A troco de quê? Não sei!
Fiquei atônita.
Foi o que estudei e aprendi, não só no meu Doutoramento em Direito Económico, como durante o meu Mestrado (com o Professor de Relações Internacionais), no meu pós-graduação em Finança Internacional, mas, sobretudo pela longa experiência de trabalho e de vida. Nas relações entre estados, faz-se a defesa de interesses e não de sentimentos que possam resultar do aparente bom relacionamentos entre políticos e/ou tecnocratas envolvidos na governação ou negociação.
A força da razão, nem sempre justifica a tomada de decisão. Infelizmente, os governantes angolanos são facilmente levados por emoções quando tratam de questões de Estado.
