Guerra na Ucrânia: Fuga de documentos comprometem envolvimento dos EUA

Um lote de documentos sigilosos vazados do Pentágono na última sexta-feira (7), tem causado algum desgaste sobre a imagem de Washington e seu envolvimento no conflito ucraniano. Para compreender a extensão desse dano, a Sputnik ouviu o especialista em informação e estudos estratégicos, Gregory Copley. 

Na última sexta-feira, surgiu na Internet um novo lote de documentos secretos norte-americanos, que dizem respeito à Ucrânia, ao Oriente Médio e à China, bem como sobre a luta contra o terrorismo, segundo o The New York Times. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos disse que iniciou uma investigação e está em contacto com o Pentágono sobre a questão.

De acordo com o jornal, mais de 100 documentos foram publicados no Twitter e em outras redes sociais. Um deles é datado de 23 de Fevereiro e está marcado com um carimbo confidencial — significa que os dados contidos lá não se destinam à transmissão para outros países.

De acordo com funcionários e analistas entrevistados pelo jornal, a escala do vazamento de informações confidenciais pode causar “grandes danos”. 

Para o presidente da Associação Internacional de Estudos Estratégicos e fundador do Serviço de Inteligência Global Information System, Gregory Copley, os vazamentos são prejudiciais ao governo Biden simplesmente porque “destacam o grau de realidade, do que agora está se tornando disponível para o público em todo o mundo”.

“O governo Biden tentou retratar isso (o conflito ucraniano) como uma guerra que a Ucrânia poderia vencer com apenas uma pequena ajuda de Washington e dos (Estados) europeus. Isso claramente não é mais o caso. Certamente, o governo Biden tentou retratar a posição russa como sendo de uma grande perda. Portanto, seria insustentável e invencível para Moscovo. Isso não é mais visto como o caso”, afirma o especialista.

Para o especialista, desde o início da operação militar especial de Moscovo, em muitos campos da segurança Ocidental, indivíduos ou instituições relacionadas à inteligência sentiram que a insistência do governo Biden em apoiar a Ucrânia estava a ser feita às custas de mostrar uma face forte e resoluta a Pequim, na tentativa de impedir que Pequim avance para um possível ataque a Taiwan.

Ao mesmo tempo, Copley acredita que a reação da Bloomberg sobre o vazamento por em risco o apoio dos EUA ao regime de Kiev um exagero.

“Porque acho que o apoio de Washington à Ucrânia já estava a ruir. Sim, a Casa Branca de Biden e o Departamento de Estado continuam muito fortes no apoio ao presidente Zelensky e à Ucrânia. Mas grande parte do restante do governo, incluindo o Departamento de Defesa e assim por diante, tem algumas reservas sobre o que isso está a fazer com a prontidão norte-americana e, é claro, também com o custo de apoiar a Ucrânia, especialmente quando ficou evidente que há oportunidades para procurarum fim negociado para o conflito”, disse ele.

Para Copley, há um apoio cada vez menor para continuar o conflito na Ucrânia. “O apoio vem apenas da Casa Branca e do Departamento de Estado”, pontualizou ele, salientando que dar muito apoio à Ucrânia implica sacrificar a prontidão militar frente à ameaça que a China representa para os EUA na Ásia-Pacífico, mais precisamente na questão de Taiwan.

Mesmo sem conseguir determinar quem teria vazado tais documentos, Gregory Copley afirma que o desgaste da postura norte-americana não é apenas por conta da China, mas também porque os militares dos Estados Unidos estão cientes de que, ao longo de muitas décadas, a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para o Leste e particularmente para incluir a Ucrânia, iria atrair uma resposta inevitável de Moscovo para impedir isso.

“E uma das coisas que continuei a deixar claro para o público militar norte-americano é que a guerra é algo para o qual a Ucrânia não tem profundidade estratégica e, francamente, não tem a mesma necessidade existencial de continuar como Moscovo”.

A tese defendida no Ocidente é que a Rússia precisa de manter o seu acesso através de seus territórios tradicionais até o Mar Negro, bem como para o mar Báltico através dos territórios russos do Extremo Oriente, se quiser permanecer uma potência global unificada. A Rússia não pode se dar ao luxo de perder esta guerra. Portanto, lançará todos os recursos precisos pelo tempo que for necessário para garantir que prevaleça nesta guerra contra Kiev”, argumentou.

Apesar de reconhecer que o Pentágono não possa falar muito do assunto sem a autorização de Biden, o especialista acredita que o vazamento representa uma mudança de paradigmas na alta cúpula das Forças Armadas dos EUA e que a intenção por trás dele possa ser despertar “uma discussão muito mais detalhada, complexa e equilibrada” do conflito no Ocidente “sobre a importância ou sua importância relativa”.

“Todos os poderes envolvidos precisam encontrar maneiras de recuar sem perder prestígio ou as aparências. Isso inclui Moscou e Kiev, assim como Washington e Paris, Berlim e Londres. Todos os jogadores precisam encontrar uma maneira de buscar uma solução que lhes permita reter algo. O presidente Zelensky está ciente de que, se não conseguir uma solução que mantenha as aparências, sua vida e sua posição estarão em grande perigo”, concluiu.

Adaptado do Sputnik-Brasil

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