Audição parlamentar incompleta ou a intenção foi só ajudar a limpar a nódoa?

Ramiro Aleixo

O ministro do Interior, Eugénio Laborinho, foi ontem convidado para uma audição parlamentar, a fim de prestar esclarecimentos sobre questões do seu eventual envolvimento e de altas patentes da Polícia Nacional e dos Serviços de Investigação Criminal no tráfico de drogas, de órgãos e no contrabando de combustíveis.

De acordo com a lei, até que se prove qualquer crime, há presunção de inocência. Por isso, não pretendo sequer questionar a competência e o papel desempenhado pelos deputados. Mas, se o objectivo é chegar a verdade, tenho que, a tal comissão não se deve ficar só por ouvir o ministro Laborinho e quem ele escolheu para o acompanhar. Porque há inúmeras denúncias, que por sinal não não recentes, mas elas tornaram-se virais nos últimos dias, porque, finalmente, alguém teve a coragem de dar a cara porque sentiu que ele e família podiam ser apagados. E o que disse, não nos pareceu que tenha sido efeitos da nganza depois de passar por um charuto de liamba ou de uma snifada de pó branco. Antes pelo contrário, todos os que tivemos acesso aos áudios e videos, ficamos quase que com a certeza de que ele viu, participou e sabe muita coisa. Portanto, é pela audição dessa personalidade que se deveria começar, porque o denunciante tem rosto e os denunciados também. E a Assembleia Nacional tem recursos que sobram e forma para chegar até ele, ouvi-lo e solicitar a sua protecção. Ainda que ele se encontre já fora do país.

O que fizeram com essa audição (da pimpa), pareceu uma daquelas sessões da Escolinha do Professor Raimundo transmitidas pela Tv Globo. Ou estavam à espera que o ministro Laborinho e seus colaboradores chegassem a audiência de braços abertos confirmando: “Sim ilustres deputados nós somos traficantes”! Aliás, depois de tudo o que se ouviu por aí, algumas dessas patentes já deveriam ter sido chamadas e ouvidas por um orgão da Justiça (que também está de tangas, com credibilidade muito baixa e eu particularmente não deposito nela qualquer confiança e segurança), sem qualquer subordinação ao ministro do interior ou até mesmo ao Presidente da República. Porque esse caso é por demais, grave. E a ser verdade mesmo, até porque há no mundo polícia especializada em seguir o rasto da droga, com toda essa cobertura institucional, o poder angolano colocou-se debaixo de uma manta curta, porque transmite uma imagem de conivência que pode ser resultado do envolvimento de figuras mais altas da hierarquia.

Como cidadão, até posso acreditar na inocência do ministro Laborinho e dos demais visados. Mas, como jornalista, não tenho dificuldade em afirmar que “esse cadáver foi mal enterrado e ainda vai deitar cheiro”. Espero é que não demore muito, porque a cada passo, a vida ensina-nos que pode-se “comer ginguba no fundo da piscina, mas as cascas flutuam sempre”. Não tarda, cá dentro ou lá fora, se envolvido mesmo, será agarrado.

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