A negação, as gripes e a partilha de informação

Por Carlos Ribeiro

A questão, não se resume às vacinas ou a qualidade destas, mas, ao excesso de informação disponível, a rapidez com essa informação se “espalha”, o aproveitamento por quem detém poder político, económico, religioso ou empírico e, a forma como a utiliza, em benefício próprio ou do seu grupo.

É facto assente que, o sistema imunológico humano, as gripes e a informação têm andado descompassados, mas, sempre “houve” tratamento! Aliás, as evidências históricas assim o demonstram…

Desde a chamada “gripe espanhola” que a ciência médica, passou a se preocupar mais, fazendo mais pesquisa e vacinando periodicamente as pessoas, contra o que é actualmente chamado de “influenza” (palavra espanhola que, deriva da gripe de 1918 e que matou mais 50 mil pessoas, “apenas” porque naquela altura, as pessoas não viajavam ou se cruzavam tanto como agora)!

E, neste mundo globalizado e assoberbado por diversos factores, como às alterações climáticas; o estilo de vida; os alimentos adulterados e cada vez menos naturais que consumimos; os medicamentos de elevados efeitos secundários resulta, do ponto de vista da saúde humana, em um sistema imunológico desequilibrado e variável entre baixo, alto, médio ou nulo. 

Tudo isso conjugado e de “bandeja” dá, ao vírus da gripe, uma melhor resistência (a exemplo do que acontece, com as bactérias resistentes aos antibióticos) na medida em que se altera, para melhor se adaptar ao ambiente humano e melhor se defender, reproduzindo-se de forma eficaz, com infecções mais prolongadas e que em última análise, conduzem á morte do infectado!

Naturalmente que, as características agressivas de sobrevivência do vírus da gripe, que encontra no desequilibrado sistema imunológico humano condições propícias para se disseminar, leva a ciência médica a desenvolver formas de tratamento (também elas agressivas), para melhor protecção da espécie humana.

Recordando que por altura de 1918, a ciência não tinha pressa até porque, as tecnologias eram rudimentares! Por conseguinte, as descobertas médicas, passavam por um processo “dolorosamente” lento de triagem da informação médica (e nem se falava ainda, sobre a bio-ética), para partilha, certificação e distribuição do remédio em tempo oportuno. 

Não podemos, pois, hoje, aplicar os mesmos conceitos de pesquisa e avaliação (embora a ética, desempenha um papel mais activo), para se questionar a eficácia das vacinas porque, o avanço tecnológico contribuiu de forma rápida e segura, para que, em menos tempo os testes, a triagem da informação médica e o medicamento, estejam acessíveis e disponíveis para todos.

Hoje por hoje, já não é a lentidão no acesso e avaliação mas sim é, o interesse político e económico que, define e condiciona o acesso ao medicamento, a exemplo do que está a acontecer com as vacinas da Rússia, (a Sputnik V e Sputnik Light) que de forma premeditada, a OMS e por extensão a AMA de África, a FDA/CDC dos Estados Unidos e a EMA da Europa, por alegada escassez de informação, (que não impediu a aprovação da Novavax e do genérico da AstraZeneca) dificulta o processo de inclusão dessas vacinas, na lista das vacinas mundiais sob controlo do organismo mundial da saúde.

Aparte as questões subjectivas, a verdade é que uma das formas disponíveis (por enquanto), para a preservação da vida humana hoje, perante o vírus da gripe e suas “intermináveis” variantes é, a vacina! Mas, ela é apenas um paliativo que retarda o óbvio, isto é, a interrupção do círculo da reinfecção (numa altura em que se designa como, a “onda da infecção dos não-vacinados” devido a percentagem na diferença entre vacinados reinfectados e não-vacinados infectados acamados nas UTI’s) e que coloca em risco de colapsar todo processo de vacinação, em função da resistência á vacinação.

O que vemos hoje, com o surgimento das variantes, não é apenas a forma atabalhoada, como os Estados criam e aplicam as medidas de biossegurança mas também, a  instabilidade das reservas vacinais que, propicia à corrupção e o frágil processo de vacinação assim como, a não observação das medidas de contenção individual que, aliada a recusa consciente e voluntária das pessoas que, na plenitude da carga infecciosa que carregam, alargam o ciclo de contágio até o dia em que, o próprio sistema imunológico já debilitado desiste (terminando em morte) porque, a comorbilidade é agressiva, perante um sistema imunológico debilitado ou nulo!

Daí que, o objectivo actual de contenção do vírus passa, necessariamente, pelo aumento do número de vacinados de forma a sairmos todos do ciclo pandémico, para o endémico (embora não estejamos livres de em alguns períodos, vivermos fases de influxo dos níveis de endemia de qualquer estirpe), a exemplo do que acontece com o HIV-Sida, a malária, tuberculose, febre amarela ou o sarampo…

Tal só é possível, se observarmos as medidas de distanciamento e de higiene, a par da “reeducação” vacinal (porque, provavelmente, muitos foram vacinados enquanto crianças e tiveram um crescimento saudável, com ajuda de vacinas) dos que a rejeitam, com medidas de inclusão que salvaguardem, não só os direitos fundamentais destes mas que, não coloquem em risco a vida dos vacinados, numa “colação” ao que se faz com os objectores de consciência, onde lhes é vetado o exercício de direitos decorrentes do cumprimento do serviço militar obrigatório.

Com os negacionistas, os direitos reservados aos vacinados (autorização de viagem, assistência médica gratuita em caso de reinfecção, comparticipação nos custos de testes, para viagem ou de rotina, acesso a locais públicos e eventos desportivos, acesso a vagas de emprego, etc.), não devem ser partilhados pelos não vacinados, devendo estes, assumir os custos financeiros dos serviços médicos requisitados, em caso de infecção ou de internamento por Covid.

Tais medidas soam à retaliação mas, a realidade dos factos é que, a negação consciente implica, aceitação voluntária da responsabilização jurídica e constitucional, na medida em que, essa “negação” coloca em risco a segurança e estabilidade dos sistemas de assistência do Estado até porque (e está provado) que, quanto maior for o número de vacinados, menor o número de infectados ou de reinfectados e por conseguinte, menor é o risco de insegurança e de instabilidade dos sistemas de assistência do Estado!

É, portanto, impensável que o Estado, venha adoptar uma postura leniente a favor dos que, de forma voluntária e consciente, se recusam a ser vacinados em detrimento dos que, de forma consciente e voluntária, tomaram a vacina.

Daí que, não se pode deixar que, o número dos que se recusam a ser vacinados se sobreponha ao número de vacinados o que, claramente, colocaria em risco a estabilidade e segurança de tais sistemas de apoio do Estado e, consequentemente, a protecção e preservação da vida humana que, como sabemos, é a principal obrigação de qualquer Estado.

NR: Leia, comente AQUI, partilhe e participe no debate livre de ideias em prol de uma Angola inclusiva. Contribua para o aprofundamento do exercício de cidadania.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

PROCURAR