22 Abril, Dia Mundial da Terra

Os oceanos enchem-se de plásticos e tornam-se mais ácidos. Calor extremo, incêndios florestais e inundações, bem como uma temporada recorde de furacões no Atlântico, afectaram milhões de pessoas. A Mãe Terra pede-nos para agirmos

Por Cesaltina Abreu*

Breve cronologia 

1970 – Gaylord Nelson, Senador Americano organizou um movimento com o objectivo de reflectir sobre as questões ambientais, depois de ter assistido a um derramamento de óleo na Califórnia. Procurou alinhá-lo com os movimentos juvenis e sociais de então. 

1990 – Líderes ambientalistas organizam um megaevento global, em 141 países e cerca de 200 milhões de pessoas participando em inúmeros eventos; um resultado desse movimento foi a ECO- 1992, no Rio de Janeiro (estive lá!!!). Nesta Cimeira foram aprovados A Carta da Terra (apenas ractificada em Haia, em 2000) e a Agenda 21. 

2009 – A Assembleia Geral da ONU institui o 22 de Abril como o Dia Mundial da Terra, clamando para a mudança da relação entre Humanidade e Ambiente no Planeta Terra. 

Até 2030, os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável serão referência, e se cumpridos efectiva e generalizadamente, poderão ser eliminados subsídios que dão suporte a explorações predadoras, à agricultura “insustentável” e à “sobrepesca” (porque impede a continuidade das espécies pescadas). Acções coordenadas, como estas, associadas a um movimento crescente de reciclagem e reutilização de matéria-prima, são as apostas para termos Futuro. E para termos a África que queremos, temos de alinhar com a Agenda 2063. 

Os Pilares da Sustentabilidade são, em síntese: 

  1. Vida próspera e asseguramento da subsistência humana (erradicar desigualdades sociais, eliminar a pobreza, acesso universal à educação, emprego, saúde e informação);
  2. Soberania e Segurança alimentar (fim da fome e da desnutrição, produção de alimentos culturalmente adequados e saudáveis, consumo e distribuição sustentáveis); 
  3. Garantia sustentável da água (acesso universal à água potável e ao saneamento básico; eficiência na gestão cooperativa dos recursos hídricos); 
  4. Energia limpa (buscar o acesso universal à energia limpa, reduzindo a poluição e o impacto à saúde no aquecimento global); 
  5. Ecossistemas produtivos e saudáveis (assegurar serviços ecossistémicos e da biodiversidade com melhor gestão, recuperação e conservação do ambiente); 
  6. Governação para sociedades sustentáveis (participação, transformação das instituições e concepção de políticas públicas para implementar as cinco metas acima referidas). 

Precisamos, para isso, criar o nosso Conselho Nacional de Desenvolvimento Sustentável no âmbito do Princípio 10 da Declaração do Rio, que salienta: 

As questões ambientais são melhor tratadas com a participação de todos os cidadãos interessados, ao nível apropriado. Os Estados deverão facilitar e incentivar a sensibilização e participação do público, disponibilizando amplamente as informações”…

E, no seguimento do capítulo 8.7 da Agenda 21, o parágrafo 24 do Programa para uma Melhor Implementação da Agenda 21 (Rio+5) refere que as estratégias de desenvolvimento sustentável são mecanismos importantes para aumentar e vincular a capacidade nacional, bem como induzir conjuntamente prioridades nas políticas sociais, económicas e ambientais e que todos os sectores da sociedade devem ser envolvidos no seu desenvolvimento e implementação.

Porque esta aposta no futuro pressupõe: 

  • Um sistema político que assegure a efectiva participação dos cidadãos no processo de decisão e gestão da “coisa” pública; 
  • Um sistema económico pós-capitalista, capaz de gerar excedentes (para redistribuição equitativa) e know-howtécnico em bases confiáveis e constantes; 
  • Um sistema social que possa resolver as tensões causadas pelo designado “desenvolvimento”, não-equilibrado, e reverter as desigualdades sociais; 
  • Um sistema de produção que respeite a preservação da base ecológica na criação de bem-estar e de uma Vida Melhor para Todos; 
  • Um sistema tecnológico que busque constantemente novas soluções; 
  • Um sistema administrativo flexível, despartidarizado e desburocratizado; 
  • Um sistema internacional que estimule padrões sustentáveis de comércio e de financiamento.

Porquê Desenvolvimento Sustentável? 

O desenvolvimento sustentável atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. Ele incorpora 2 conceitos-chave: 

     →o conceito de “necessidades”, sobretudo as necessidades essenciais dos grupos sociais mais pobres, que devem receber a máxima prioridade;

     →a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras;

Em sentido mais amplo, a estratégia de desenvolvimento sustentável visa promover a harmonia entre os seres humanos e entre a Humanidade e a Natureza. 

Restaurar a nossa Terra 

A Mãe Terra pede-nos para agirmos. Os oceanos enchem-se de plásticos e tornam-se mais ácidos. Calor extremo, incêndios florestais e inundações, bem como uma temporada recorde de furacões no Atlântico, afectaram milhões de pessoas. Ainda não vencemos a COVID-19, uma pandemia com uma forte relação com a saúde do nosso ecossistema-mãe. 

Mudanças climáticas, mudanças na natureza provocadas pelo homem, bem como crimes que afectam a biodiversidade, como desmatamento, mudanças no uso da terra, produção agrícola e pecuária intensiva ou o crescente comércio ilegal de animais selvagens, podem aumentar o contacto e a transmissão de doenças infecciosas de animais para humanos (doenças zoonóticas). 

De acordo com o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), uma nova doença infecciosa surge em humanos a cada 4 meses. Dessas doenças, 75% vêm de animais. Isso mostra as relações estreitas entre a saúde humana, animal e ambiental. 

Os ecossistemas suportam todas as formas de vida na Terra. A saúde do nosso planeta e dos seus habitantes depende directamente da saúde dos nossos ecossistemas. Restaurar os nossos ecossistemas danificados ajudará a acabar com a pobreza, a combater as mudanças climáticas e a prevenir a extinção em massa. A Década das Nações Unidas para a Restauração do Ecossistema (2021-2030) visa prevenir, deter e reverter a degradação dos ecossistemas em todos os continentes e oceanos. Mas só terá sucesso se todos, e cada um, fizer a sua parte. 

Que seja lembrada neste Dia Mundial da Mãe Terra a urgência de uma mudança para uma economia sustentável que funcione para as pessoas e para o planeta. É preciso promover a harmonia com a natureza e com a Terra. Junte-se ao movimento mundial para restaurar a Mãe Terra! 

A importância da biodiversidade para os humanos 

O surto de coronavírus representa um grande risco para a saúde pública e a economia global, mas também para a biodiversidade. No entanto, a biodiversidade pode ser parte da solução, pois a diversidade de espécies torna difícil para os patógenos espalharem-se rapidamente. 

Da mesma forma, o seu impacto na saúde humana está a tornar-se cada vez mais evidente. Mudanças na biodiversidade afectam o funcionamento dos ecossistemas e podem causar alterações significativas nos bens e serviços que fornecem. Ligações específicas entre saúde e biodiversidade incluem impactos potenciais sobre nutrição, pesquisa em saúde e medicina tradicional, a geração de novas doenças infecciosas e mudanças significativas na distribuição de plantas, patógenos, animais e até mesmo assentamentos humanos, algo que pode ser encorajado devido às mudanças climáticas. 

Apesar dos esforços actuais, a biodiversidade está em perda em todo o mundo a uma taxa sem precedentes na história da humanidade. Estima-se que cerca de um milhão de espécies animais e vegetais estejam em perigo de extinção. Embora a prevalência da pandemia imponha como prioridade imediata a prevenção da disseminação do COVID-19, a longo prazo é preciso abordar a perda de habitat e da biodiversidade. 

Nessa luta junto com a Mãe Terra, quando pensarmos que “economia” pretendemos, lembremo-nos dos 2 opostos: a economia do desperdício e a economia da sobrevivência. 

Em minha opinião, o UBUNTU é uma inspiração para Reinventar a PolíticaOrganizar a Economia, e Recriar a Vida em Sociedade, orientando: 

–  a Política participativa pela União e o Bem-Público;

–  a Economia Solidária pela cooperação;

–  a Sociedade inclusiva pelo Bem-Comum e a Solidariedade;

–  a Liderança Colectiva em todos os domínios da vida. 

Vamos tentar? 

Sobre a autora:

*Cesaltina Abreu é cientista social. Graduada em Agronomia, com Especialização em Botânica e Protecção de Plantas pelo IAC (International Agricultural Centre), Wageningen, Holanda (1975), detém vários títulos académicos com uma investigação conduzida na intersecção entre a Sociologia Política e o Desenvolvimento Sustentável, na Universidade de Newcastle, no Reino Unido, com o tema “Contribuição das Ciências Sociais para os programas de doutoramento do CESSAF (Centro de Excelência em Ciências para a Sustentabilidade em África)”.Fez mestrado e doutoramento em Sociologia, pelo IUPERJ – Rio de Janeiro, Brasil.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

PROCURAR