JAcQUEs TOU AQUI!

Ponto Prévio: O 4 de Abril de há 23 anos, permitiu que pudesse escrever hoje o que segue adiante. Por isso, lanço o meu grito: Camaradas, obrigado. Que vivam a Paz, a Liberdade e a Reconciliação Nacional!
Ponto Um – Há uns anos, seis pelo menos, talvez mais um ou dois, lembro-me de ter falado ao telefone com o Senhor Ministro da Energia e Águas, Engenheiro João Baptista Borges. Foi a primeira e única vez que falamos. Já não tenho tanta certeza de como se estabeleceu a conversa, só sei que a iniciativa não partiu de mim. O Ministro lamentou o teor de uma crónica publicada no Jornal de Angola. Outro facto que obriga a repetir-me. Foi mesmo há um bom tempo! Nesse texto eu lamentava pela enésima vez, a carência de água e luz no país, particularmente a que ocorria em Luanda. Porque, também eu sentia os malditos efeitos dessa ausência. Glosei então a situação, recordando Paulo Afonso, o “velho engenheiro” brasileiro que, no país de Lula, fez muito sucesso no campo da Energia. De tal modo, que até teve direito a música:
Paulo Afonso
Que coisa louca
Uma cachoeira rouca
De gritar aos engenheiros do país…
Encerramos a nossa civilizada conversa com promessas de que as coisas iam muito brevemente melhorar. Não melhoraram, como todos sabemos. Foi em face desse desconseguimento que, após ter apreciado um curto vídeo que há dias me chegou às mãos, através das redes sociais, decidi ser hora de voltar a chatear o Ministro – talvez o termo seja inadequado ao clima de paz que se respira – achando, por isso, ser pertinente fazê-lo aqui e agora.
As imagens – que não têm nada de artificial – mostram o Ministro Borges a ser entrevistado pelo jornalista Francisco Mendes, actual Presidente do Conselho de Administração da TPA, e esclarecem-me sobre um flagrante. Foram registadas há bastante tempo. Francisco Mendes estaria ainda, muito provavelmente, em funções na Zimbo. Explico o porquê desta asserção. O Francisco Mendes da actualidade, exercendo o alto cargo que tem, não gozaria, é o termo, com o poderoso Ministro, como acabou por gozar – a expressão do seu rosto e as suas palavras são bem elucidativas – ao chamar-lhe a atenção para o ruído de um gerador que trabalhava nas redondezas, no preciso momento em que o entrevistado Baptista Borges afiançava que os problemas da sua área – água e luz, portanto – estavam resolvidos a “quase cem por cento”. Apetece perguntar, há quantos anos Franscisco Mendes saiu da Zimbo e depois rir com a cena e dizer, brincadeira tem hora, meus senhores!
Ponto dois – O Ministro de Estado José de Lima Massano, participou recentemente num programa televisivo com o título “Conversas Economia 100 Makas”. Do pouco que me foi dado apreciar, reconheci o economista e jornalista Carlos Rosado de Carvalho no papel de entrevistador e, naturalmente, o Ministro de Estado em causa. Descontraidamente, o alto dirigente, abria-se sobre os festejos dos 50 anos da Independência Nacional. Explicava-se sobre a aquisição de bandeiras para embelezarem o evento. O seu custo, suscitou a dúvida do Rosado. Vinte milhões, senhor Ministro? Perguntou, espantado com a verba anunciada. É que não eram kwanzas, senhores, eram dólares, vinte milhões para bandeiras! Também fiquei espantado quando o ouvi a confirmar o número e dizer que o único problema que se colocava, residia no local da produção das bandeiras. Se fossem feitas em Angola, estava tudo bem, havia garantia de emprego para angolanos. Essa não! Não passaria nunca pela minha cabeça!
Para mim, tal como pareceu ser para o Rosado, o problema são os vinte milhões de dólares para gastar em bandeiras! Que absurdo! Se me fosse permitida opinião, não tenho dúvidas iria, para outra solução. Encaminharia essa parte do dinheiro da festa, para acções mais específicas. Fiz contas rápidas e envolvi-me na seguinte equação: 40 milhões de habitantes, 45% de crianças. Possivelmente nem todas passam aquela fome de verdade. Passam outras dificuldades. Então, apostaria em 10/15 milhões de crianças, com as mais novas, a beneficiar. Com um presente diferente no dia dos 50 anos da Independência. Uma xandula de ovo, salsicha ou chouriço, com ou sem manteiga, mais um copo de sumo ou gasosa, não custariam mais de dois dólares ou duzentos kwanzas, portanto, com cabimento no orçamento de vinte milhões de dólares. Desde que não houvesse pelo meio, os habituais desviadores de verbas.
Mas, afinal de contas, o que são vinte milhões de dólares? Parece não ser nada para quem desbarata dinheiro como vemos fazer amiúde, seja retirado da caixa-forte, seja dos empréstimos que se contraem, pouco importa, estoira-se sem justificação em coisas que não fazem sentido. Será acertado pensar-se em gastar tanto dinheiro em bandeiras neste tempo de dificuldades extremas que vivemos?
A minha proposta é muito mais objectiva e de um maior alcance social. Pelo menos e no meu modesto entender, adormeceria momentaneamente os estômagos famintos da criançada marginalizada e, ao invés dos degradantes espectáculos do quotidiano, teríamos no nosso dia, uma visão mais positiva sobre os famintos que estamos com eles. E em relação às bandeiras, como fazer? Haveria de se perguntar, e eu já sei como responderia.
Que se orientassem todos os organismos do Estado, em todos os bairros e municípios, para no dia da Dipanda hastearem a Bandeira Nacional nos seus edifícios mais representativos. Seria ali, diante do símbolo maior e ao som do Avante Angola, que a garotada faria o seu lanche com a barriga mas cheia do que habitualmente! Não tenho dúvidas que obrigaria a momentos de reflexão e, entre eles, coisas como pensar nas crianças, o futuro do Nação. Obrigaria certamente a pensar no verdadeiro rumo que se pretende dar ao nosso país.
Pois é meus amigos, a paz, a liberdade e a reconciliação, fazem de nós pessoas diferentes, por vezes, até estranhas aos olhos dos que sobre estes valores estão completamente nas tintas. Vêm-se, inclusivamente, perante situações absurdas, a sonhar com coisas difíceis, certos impossíveis. Será com essa ilusão que escrevo este texto. Como é também com este sentimento que me despeço dos amigos e dos estimados leitores. Vai daqui o meu abraço e a estima de sempre. Bom dia e até ao próximo domingo, à hora do matabicho.
Lisboa, 6 de Abril de 2025