Sobre comportamento pró-ambiente, pró-Vida

“Em vez de estarmos preocupados em deixar um ambiente melhor para os nossos filhos, devemos apostar em deixar filhos melhores para o ambiente”. Sérgio Cortella

Por Cesaltina Abreu*

Na fila do supermercado, o caixa diz a uma senhora idosa:

A senhora deveria trazer as suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigos do ambiente.

A senhora pediu desculpas e respondeu:

– Não havia essa onda verde no meu tempo.

O empregado retorquiu:

Esse é exactamente o nosso problema hoje, minha senhora. A sua geração não se preocupou o suficiente com o nosso ambiente.

Você está certo – respondeu a velha senhora – a nossa geração não se preocupou adequadamente com o ambiente.

Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.

Realmente não nos preocupamos com o ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até ao comércio, em vez de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência de cada vez que precisamos ir a dois quarteirões.

Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o ambiente. Até então, as fraldas dos bebés eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. A secagem da roupa era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas.

Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido dos seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.

Mas é verdade: não havia preocupação com o ambiente, naqueles dias. Naquela época só tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?

Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas eléctricas, que fazem tudo por nós.

Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico-bolha ou paletes de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar.

Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a relva, era utilizado um cortador de relva que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a electricidade.

Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o ambiente. Bebíamos directamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos, como retrata a foto tirada em Luanda, no embarcadouro para o Mussulo, e amplamente divulgada nas redes sociais

Canetas: recarregávamos com tinta sempre que necessário em vez de comprar esferográficas. Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos ‘descartáveis’ e poluentes só porque a lâmina ficou sem corte.

Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época.

Naqueles dias, as pessoas apanhavam o autocarro ou o eléctrico, e as meninas iam nas suas bicicletas ou a pé para a escola, em vez de usar a mãe como um serviço de ‘táxi 24 horas’.

Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizaria mais próxima.

Então, não é risível que a actual geração fale tanto em “meio ambiente”, se não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco mais simplesmente, como na minha época?

(Adaptação de Cesaltina Abreu de texto partilhado nas redes sociais, de autor desconhecido)

Este é um desabafo para partilharmos para tentar compreender o que está em causa. Penso que a colaboração intergeracional é necessária, mais uma vez. Este é texto para os que têm mais de 50 anos de idade e conhecem, porque viveram, o que está acima exposto; mas é, acima de tudo, para os jovens que têm tudo nas mãos – principalmente porque os seus pais lutaram para lhes dar mais do que receberam -, e só sabem criticar os mais velhos.

Pior, quando têm uma oportunidade real de fazer algo para mudar a actual situação de crise climática e ambiental, omitem-se quando seria a hora de denunciar e de agir, refugiando-se por detrás da super-actividade de uma vida tantas vezes ‘vazia’.

Por vezes, sentenciam soluções apressadas sem analisar as consequências. E razão tem Sérgio Cortella chamando a atenção para a essência do problema:

“Em vez de estarmos preocupados em deixar um ambiente melhor para os nossos filhos, devemos apostar em deixar filhos melhores para o ambiente”.

Palestra no Colégio Porto Seguro (unidade Morumbi), 16 Abril 2015

Sobre a autora: *Cesaltina Abreu é cientista social. Graduada em Agronomia, com Especialização em Botânica e Protecção de Plantas pelo IAC (International Agricultural Centre), Wageningen, Holanda (1975), detém vários títulos académicos com uma investigação conduzida na intersecção entre a Sociologia Política e Desenvolvimento Sustentável, na Universidade de Newcastle, no Reino Unido, com o tema “Contribuição das Ciências Sociais para os programas de doutoramento do CESSAF (Centro de Excelência em Ciências para a Sustentabilidade em África)”.Fez mestrado e doutoramento em Sociologia, pelo IUPERJ – Rio de Janeiro, Brasil.

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