O MPLA continua igual a si mesmo

Depois de tantos ‘assassinatos’, incluindo de um 4×4, o poder descobriu agora uma nova vítima para Luanda. Um (Super) Homem que aceitou primeiro usar o fato do pior titular da pasta da comunicação social de todos os tempos e agora, o lado oposto, de reformador dessa complicadíssima província.

Ramiro Aleixo

Com a nomeação de um novo governador para a província de Luanda, o MPLA, partido derrotado nessa circunscrição, procederá ao reajuste da sua direcção no seu Comité Provincial. Assim, Bento Bento, o bailarino cooptado em regime de excepção eleitorialista que agora terá como palco de dança a Assembleia Nacional, será substituído por Manuel Homem, a tal figura que simboliza a triste memória que se tem da comunicação social na sua relação com a sociedade. Para lá de governador, o nosso Homem passa agora a “camarada primeiro secretário”.

Porque entendo que fica difícil levar dois ossos na boca, faço parte do grupo de cidadãos que defende que, as águas da governação e da gestão partidária, mesmo ao nível de presidência, deviam ser separadas. Mas, também sou daqueles que se está nas tintas para o que se passa nos partidos políticos, porque a minha filiação militante é com Angola. E neste caso, concordo que compete aos militantes do MPLA entenderem se devem ou não, reflectir sobre a continuidade desse modelo de dois ossos, se acham que tem produzido mais vantagens que desvantagens. A maka é deles… E se os resultados eleitorais continuam a dizer-lhes nada, então é porque tudo está bem. E se está, não devem alterar o seu modelo, a sua postura, a forma de funcionamento das suas estruturas nem o desempenho dos seus órgãos de direcção. Continuem…

No entanto, há algumas práticas que por serem recorrentes e por demais desajustadas, mesmo ao nível de partidos, deixá-las passar sem comentar constitui um atentado à nossa interpretação da lógica das coisas e dos factos, e ao discernimento que nos permite distinguir as fronteiras entre a ética, a moral, o que está bem e o que está mal, o bom do mau, o correcto do incorrecto ou o branco do preto. Digam-nos por exemplo, como é que se elege alguém que já foi indicado pela sua direcção, que não tem concorrência porque não se conhece quem teve a ‘petulância’ ou ousadia de manifestar o desejo de concorrer ou contrariar essa indicação? Que partido é esse, onde os seus militantes, nestes tempos, não têm ainda a liberdade de sequer concorrer para um cargo de direcção secundário? Pelos vistos, tudo segue igual como era antes.

Continuo a não entender, como é que esse partido que acaba de viver uma experiência dolorosa, não consegue apresentar sinais, ainda que ténues, de evolução política, sinais de que conseguirá dirigir com estabilidade nos próximos cinco anos, uma nação que exige mudanças e dinâmicas de um Estado democrático e de direito, que tem os seus alicerces assentes no que é básico, fundamental, que é a liberdade dos cidadãos escolherem ou de participarem na tomada de decisão em tudo o que possa ter reflexos na sua vida (política, económica, social, cultural, desportiva, etc…)? E é aí que entramos num campo em que a maka deixa de ser só deles (militantes do MPLA). Passa a ser também nossa, porque de forma directa ou indirecta, quer militantes quer não militantes, acabamos afectados por esse espírito ditatorial de exercício e concentração do poder unilateral, que por arrasto condiciona o funcionamento das instituições do Estado, com particular incidência sobre a Justiça, entenda-se, tribunais, e a supressão dos nossos direitos e liberdade.

Os resultados eleitorais (com uma vitória ainda envolta em dúvidas) espelham exactamente tudo isso. Que é a insistência e a continuidade de práticas erradas, decorridos quase 47 anos após a tomada do poder – apesar da complexidade, da especificidade de cada uma das províncias e do número incalculável de problemas que se multiplicam e eternizam – continua a fazer o país e os angolanos definhar.

Depois de tantos ‘assassinatos’, incluindo de um 4×4, o poder descobriu agora uma nova vítima para Luanda. Um (Super) Homem que aceitou primeiro usar o fato do pior titular da pasta da comunicação social de todos os tempos e agora, o lado oposto, de reformador dessa complicadíssima província. O que conseguirá mudar, se tudo continua igual e se a falta de desenvolvimento no interior, continua a atrair os pobres das outras regiões? Nada se alterou, tudo continua igual ao que era antes, e por esse andar, chegaremos a 2025, que está já aí, e veremos a repetição do filme de 2022: “Ninguém prometeu a realização de eleições autárquicas até 2027”. Recordam-se?

Insistência ou ingenuidade nossa, não sei o que nos leva a pensar mesmo que agora tudo será diferente, quando o circo nem sequer mudou as cores do cenário, os actores, coreógrafos e ajudantes de arranjos são, exctamente, os de ontem? É claro, não pode dar certo, porque para mudar é preciso ter atitude. E é isso que tem faltado ao poder. A diferença talvez resida no facto de continuarmos a acreditar que sim, é possível “corrigir o que está mal” mantendo viva essa esperança adiada, de ver Angola liberta desse modelo descaracterizado e unipessoal de gestão, que acelerou a degradação do Estado.

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