Mercados. Petróleo cai com incerteza em torno da OPEP+

Os preços do “ouro negro” seguem em terreno negativo, devido à incerteza em relação à produção futura da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (o chamado grupo OPEP+).

Em Londres, o contrato de Agosto do Brent do Mar do Norte, que é a referência para as importações europeias, segue a cair 1,59% para 114,41 dólares por barril.

Já o West Texas Intermediate (WTI), “benchmark” para os Estados Unidos, cede 3,62% para 105,81 dólares por barril.

A OPEP+ anunciou, após a reunião de ontem (quinta-feira 30), que irá aumentar a produção apenas em Agosto, tal como divulgou no início deste mês. Isto apesar da escassa oferta de crude face à procura.

O anúncio da OPEP+ deixou o mercado a questionar-se sobre a produção futura do grupo de produtores, já que não foram delineados planos para Setembro.

No início de Junho, os membros da OPEP+ surpreenderam os mercados ao abrirem ainda mais as torneiras – quando se esperava um status quo da quota que vigorava desde Agosto do ano passado e que passaria por um aumento de 432.000 barris por dia em Julho.

Mas não foi assim. A OPEP+ decidiu aumentar a oferta de crude em cerca de 50% nos meses de Julho e Agosto. O acordo alcançado constituiu uma cedência à pressão dos grandes consumidores de petróleo, nomeadamente os EUA, para aliviar a escalada dos preços energéticos e, consequentemente, a inflação.

Os ministros dos membros do cartel e seus aliados concordaram em reforçar em 648.000 barris de petróleo por dia a oferta em Julho e Agosto (em vez de definirem apenas as quotas de Julho, definiram logo também do mês seguinte).

No entanto, com muitos membros da OPEP+ a terem já atingido a sua capacidade de produção, estes aumentos de produção serão, na realidade, menores – e a capacidade adicional do grupo deverá continuar reduzida.

Agora, sem números relativamente a Setembro, o mercado ficou inseguro.

Primeiro mês negativo do ano. Segundo a Bloomberg, o mercado do petróleo foi afectado por dois conflitos no mês de Junho: o crescente medo de um abrandamento da economia enquanto as taxas de juro são duramente agravadas pelos bancos centrais. Ainda assim, o valor dos barris de petróleo valoriza, com os mercados a lutar para superar as limitações de fornecimento provocadas pelo conflito na Líbia e no Equador.

Os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados reuniram ontem (quinta-feira) para definir as quotas de produção de Setembro.

Ouro regista terceira queda mensal. Enquanto isso também o ouro regista a terceira queda mensal consecutiva, com os investidores a pesarem a subida das taxas de juro face aos receios de uma recessão global, numa altura em que os bancos centrais alertam para os efeitos a longo prazo de um choque inflacionista.

Nesta tendência de queda, o ouro segue a desvalorizar 0,56% para 1.807,60 dólares por onça e os restantes metais preciosos também seguem no vermelho: a prata já recuou 2,36% para 20,25 dólares por onça, a platina desceu2,35% para 897,55 dólares por onça, e o paládio, que disparou na quarta-feira, perdeu agora 3,48% para 1.898,10 dólares por onça.

O pior semestre para Wall Street nos últimos 50 anos. Wall Street abriu as negociações na quinta-feira em terreno negativo, a caminho do pior primeiro semestre em mais de 50 anos.

Os investidores estão a analisar dados das despesas de consumo da população norte-americana, o maior condutor da economia dos Estados Unidos, que mostram uma desaceleração – o que está a alimentar receios de uma recessão económica.

O índice de referência mundial, Standard & Poor’s 500, está a caminho do quarto dia consecutivo no vermelho e perde 1,55% para 3.758,13 pontos, dirigindo-se assim para o pior primeiro semestre desde 1962. Dos 11 sectores que compõem o “benchmark” mundial, todos negoceiam de forma negativa.

Já o índice industrial Dow Jones cai 1,64% para 30.521,70 pontos. Ao passo que o tecnológico Nasdaq Composite cede 2,62%, fixando-se nos 10.882,47 pontos.

As despesas de consumo dos norte-americanos registaram uma queda pela primeira vez em Maio deste ano, e apesar de terem sido mais baixas do que era esperado, os dados mostram que a procura não está a colapsar.

“Os mercados acionistas têm tido dificuldades, alcançando até o pior começo do ano em décadas, à medida que os investidores reapreciam as avaliações das empresas dados os riscos de inflação, geopolítica, política monetária e uma potencial recessão”, clarificou John Lynch, analista da Comerica, numa nota citada pela Bloomberg.

Europa em maré vermelha. As principais praças do Velho Continente negoceiam com perdas significativas e caminham assim para o pior semestre desde a crise financeira de 2008, com os investidores a pesarem as perspectivas económicas futuras, o aumento da inflação e a consequente possibilidade de uma recessão.

O índice de referência da Europa Ocidental, Stoxx 600, perde 1,85% para 405,83 pontos. Todos os setores do “benchmark” negoceiam em terreno negativo e os que registam as maiores quedas são o automóvel (-3,91%), seguido da tecnologia (-2,825%) e o retalho (-2,80%).

Nos principais movimentos de mercado está a Uniper, energética alemã, a maior compradora de gás à Rússia, que registou o maior tombo no mercado accionista em cinco anos, de -11,35%. Depois do Kremlin ter anunciado uma diminuição nas entregas de gás, a empresa reduziu as suas estimativas de resultados anuais e adiantou ainda que está em discussão com o governo alemão para um resgate financeiro.

Uma sensação de presságio está novamente a contagiar os mercados financeiros, com a ansiedade a aumentar e com receios de que ao atacar a inflação, os bancos possam enfraquecer as economias”, adiantou Susannah Streeter, analista da Hargreaves Lansdown à Bloomberg.

Entre os principais índices da Europa Ocidental, o alemão Dax cede 2,44%%, o francês CAC-40 desvaloriza 2,35%, o italiano FTSEMIB recua 2,3%, o britânico FTSE 100 perde 1,87% e o espanhol IBEX 35 cai 1,77%. Em Amesterdão, o AEX registou um decréscimo de 1,58%, ao passo que o lisboeta PSI é o que menos cai e perde apenas 1,29%.

Dólar a passo para o melhor trimestre desde 2016. Entretanto, o dólar está a desvalorizar ligeiramente em relação ao euro, mas ainda assim, a caminho para o melhor trimestre desde o final de 2016, motivado por uma política monetária mais agressiva por parte da Reserva Federal norte-americana.

Assim, o dólar cresceu 0,054% em relação ao euro e perdeu 0,079% face à libra esterlina. Já o par iene dólar ganhou0,29%. Contudo, a nota verde registou este trimestre uma valorização de 12% face à moeda japonesa e 18% este ano, o valor mais elevado desde 1998.

O índice do dólar da Bloomberg – que compara a força da moeda norte-americana com 10 divisas rivais – cresceu0,02% para 105,124 pontos.

Já a moeda russa atingiu ontem o valor mais forte desde 2015, estando a beneficiar dos preços elevados das “commodities”. Ainda assim, nesta altura, o rublo desvaloriza 0,047% face ao dólar e ganha 0,27% em relação à moeda única europeia.

Os investidores vão estar ainda atentos a partir de hoje aos dados da inflação nos Estados Unidos, que devem fornecer mais pistas sobre o estado da economia no país e a possibilidade de uma recessão.

In Jornal de Negócios

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