Detectada na África do Sul no dia 22 de Novembro na província de Gauteng, Joannesburgo, acumula mais de 30 mutações e é a nova versão do vírus, que recebeu a identificação de B.1.1.529 e já foi baptizada pela Organização Mundial da Saúde com o nome de Omicron. Estudos confirmam que apresenta alterações que trazem maior capacidade de contágio e de contornar as defesas humanas.
A nova variante do coronavírus é “muito preocupante”, segundo o director do Centro de Resposta a Epidemias de Espanha, Túlio de Oliveira, citado pelo El País. Esta perturbadora versão do vírus, “parece espalhar-se muito rapidamente e em menos de duas semanas dominará todas as infecções”, avisou.
O coronavírus é composto por um genoma de 30.000 letras, com instruções suficientes para entrar numa célula humana, assumir o comando e fabricar milhares de cópias de si mesmo. Mas esta variante, também chamada de ni, é preocupante porque possui mais de 30 mutações na proteína espícula, a chave do vírus para abrir a “fechadura” da célula humana.
Algumas dessas mutações já haviam sido observadas em versões anteriores – como a Alfa, identificada no Reino Unido, e Delta, registada na Índia – e estão associadas a maior transmissibilidade e certa capacidade de escapar das defesas do corpo humano, ambas naturais, como os gerados por vacinas.
A variante surge quando quase já não havia casos de Covid, e numa população com baixo índice de vacinação, o que poderia causar uma miragem. “Tudo torna a sua transmissibilidade aparente muito alta, mas não é um resultado definitivo”, sustentou González Candelas, professor da Universidade de Valência. A pesquisadora alerta, no entanto, para uma possível ameaça, mas acredita que é necessário evitar “agir como se já fosse real”.
O biólogo Iñaki Comas, do Instituto Valenciano de Biomedicina (CSIC), lembra o caso da variante Beta ou B.1.351, que também foi detectada na África do Sul e disparou alarmes há um ano. “Achava-se que seria parecida e acabou sendo um fenômeno bem local”, enfatizou Comas. “A nova variante carrega uma série de mutações que já foram vistas, mas não combinadas. Vê-los juntos é o que o eleva a ser uma variante sob vigilância. Não tanto porque há dados de que é realmente mais transmissível ou coloca o sistema imunológico em risco, mas porque pode ter potencial para isso. Agora temos que provar”, diz a bióloga.
Ontem (sexta-feira 26), os 27 Estados-membros da União Europeia (UE) concordaram aplicar restrições às viagens de sete países da África Austral, nomeadamente Botswana, Eswatini, Lesotho, Moçambique, Namíbia, África do Sul e Zimbabwe. Contudo, o bloco reforça que a decisão recai sobre cada país, num momento em que a Bélgica se tornou o primeiro país europeu a anunciar o registo de um caso da nova variante.
A partir de hoje (sábado 27), também o Reino Unido adiciona seis países africanos à ‘lista vermelha’ da Covid-19, proibindo temporariamente os seus voos, devido ao risco associado à nova variante. São eles a África do Sul, Namíbia, Lesotho, Botswana, Eswatini e Zimbabwe. Além da Bélgica, a Omicron encontra-se já em Israel, Hong Kong e no Botswana, podendo ser detetada nos testes de PCR.
Entretanto, a epidemiologista britânica Susan Hopkins disse na sexta-feira (26) em declarações à estação BBC Rádio 4, que a nova variante é “a mais preocupante” até o momento. O bioquímico americano Jesse Bloom publicou análises preliminares afirmando que a variante B.1.1.529 será, em relação a evitar anticorpos, a “mais bem-sucedida do que qualquer coisa que vimos até agora”. Bloom, do Centro de Pesquisas Fred Hutchinson, sublinhou nas redes sociais que isso “não significa que a variante escapará completamente dos anticorpos gerados pela vacina ou por uma infecção anterior”, já que para isso são necessárias “muitas mutações” e porque, além disso, as defesas humanas possuem outras armas, como os linfócitos T, glóbulos brancos que destroem as células infectadas pelo coronavírus. Como enfatiza Comas, “a resposta imunológica é mais complexa do que os anticorpos”.
Fontes: Com El País