AS NOSSAS DOENÇAS

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Angola é um país propenso a emergências e desastres naturais, tais como secas ou inundações, crises alimentares e surtos de doenças graves como a cólera, o sarampo e a malária. O impacto destas emergências é agravado pela capacidade limitada de resposta dos serviços públicos, comunidades e famílias.

JACQUES ARLINDO DOS SANTOS    

Há quanto tempo o nosso país é referenciado nestes termos dramáticos por importantes entidades internacionais, do peso e credibilidade da Unicef, por exemplo?

A partir da análise do Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Angola, garantido pela Lei de Base de 1992, a saúde tem como princípios ser universal, tendencialmente gratuita, prestar atendimento integral e garantir a equidade no acesso dos utentes, com gestão descentralizada e participativa.

Há quanto tempo anda o povo angolano a ser afectado não apenas pela tragédia das doenças, mas também por esta autêntica falácia? São necessárias explicações?

A diferença entre promoção e prevenção de saúde é que a prevenção são os esforços específicos feitos para reduzir o desenvolvimento de doenças e a promoção de saúde são as mudanças de hábito para diminuir o risco de doenças.

Estes princípios e os cuidados inerentes são tidos em consideração pelas autoridades sanitárias do nosso país? Sabemos perfeitamente que não são.

Outras questões poderiam ser aqui colocadas. Mas não preciso de ir mais longe. Bastará ver com olhos de ver o que, nesta matéria, se passa diariamente connosco. A taxa de mortalidade registada, principalmente em crianças, alarma. Para não fugir à regra, mais um surto de cólera, veio juntar-se ao constante aumento de casos de paludismo e de febre tifóide, em contraste com a flagrante falta de resposta do sistema.

Existe uma tese segundo a qual se defende que a saúde é o espelho de um país. No nosso caso, o espelho vem mostrando há muitos anos uma terrível imagem do nosso. Uma imagem que todos os hospitais, incluindo os recentemente inaugurados, não conseguem ofuscar. O espelho é duma enorme crueldade ao mostrar-nos para lá do drama, a realidade de um país com recursos mais que suficientes para alterar essa imagem. Não por meio de cosméticos, mas de recursos próprios, palpáveis e adequados. Milongos para curas definitivas ou próximas. Que devem e podem ser ministrados pela via da correcção, próprias para estas ocasiões. Medidas que passam pela colocação de pessoas certas em certos lugares, pela eliminação dos focos de lixo da nossa vergonha e da muita sujeira acumulada na prestação de determinados chefes e responsáveis. Que passarão também, provavelmente, por uma mais correcta aplicação dos milhões movimentados nas famosas autorizações de ajustes directos e simplificados, utilizados em variadíssimas situações menos delicadas do que as da saúde. É necessário que se convenha, meus senhores, que a saúde deve ter prioridade sobre todo o resto.  

A tarefa de escolher sempre foi difícil. Escolher os melhores, seja qual for o métier, custa muito, chega a magoar. Mas na saúde não deviam ser permitidas hesitações, devem necessariamente ser escolhidos os melhores.

Falando de saúde pública, não quero deixar de fazer um reparo para uma doença que anda aí e se vai espalhando. Corre riscos de se tornar contagiosa, apesar de não ser nova. Essa, de que falo, é uma doença que ataca pessoas que se dedicam a detestar as críticas contra o Governo e os governantes, por mais justas que sejam. Que ficam com uma certa azia quando ouvem queixas contra o desempenho dos amigos e padrinhos que os sustentam em lugares privilegiados. É uma doença estranha que deve ser combatida, tal como a febre tifóide, a cólera e a malária. Não conheço o seu nome científico, mas deve ser eliminada como todas as de carácter nocivo.

Com os habituais cumprimentos envio o meu abraço aos amigos, companheiros e fiéis leitores. Até ao próximo domingo, à hora do matabicho.

Lisboa, 26 de Janeiro de 2025

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