Um país que sabe o quer, mesmo olhando para o retrovisor, de quando em vez, é para a frente que caminha.
Dezasseis anos depois da morte de Holden Roberto, 21 anos depois da de Jonas Savimbi e 44 anos depois do desaparecimento físico de Agostinho Neto, os pais da Independência de Angola, insistir na homenagem a um em detrimento dos outros pode ser acolado a tudo, menos ao espírito de reconciliação nacional, permanentemente presente no discurso dos políticos e estranhamente ausente nas suas atitudes.
No sentido em que a palavra reconciliação significa perdão recíproco entre cidadãos da mesma pátria que a dada altura se digladiaram, com espada em mão, por uma ou outra divergência, este significante só tem significado quando remete para a obliteração das falhas que conduziram ao conflito.
É vergonhoso para uns e doloroso para outros, incluindo para muitos – atrevo-me a admitir – dos que, por conveniências políticas ou materiais, ainda defendem a redução da tríade de heróis nacionais a uma só pessoa: Agostinho Neto.
Se isso se justificava até um dado período (monopartidarismo) da nossa incipiente História como país independente, hoje não faz nenhum sentido insistir na publicitação de erros de percurso de uns e na exaltação das virtudes de outros.
A História não sabe se desfazer de registos de acontecimentos marcantes na vida dos povos. Por isso mesmo, o morticínio do 27 de Maio, as queimadas de pessoas vivas na Jamba e os massacres da FNLA no Norte de Angola, chegarão inevitavelmente ao conhecimento das gerações vindouras mais longínquas de angolanos, com um ou outro ponto a mais ou a menos. Mas não permitamos que, qualquer que seja versão, lhes chegue com cargas tribais, ideológicas ou outros vícios com potencial para alimentar conflitos étnicos.
Já não será à volta da fogueira, como cantou Rui Mingas, mas através de smartphones que se aperceberão que, como humanos, tanto Agostinho Neto, quanto Holden Roberto ou Jonas Savimbi, em determinados momentos do percurso na defesa da pátria incorreram em erros.
Já não para aprender como se ganha uma bandeira ou o que custou a liberdade, parafraseando ainda Rui Mingas, mas para perceber que os erros individuais e coletivos dos nossos heróis não suplantam a sua entrega na luta pela pátria.
O 15 de Janeiro de 1975, dia em que os três líderes se sentaram na mesma mesa para assinatura dos Acordos de Alvor, em Portugal, pode ser uma data consensual. Que tal?
É minha convicção de que vamos a tempo de, em sede da Assembleia Nacional, ouvidas as associações da sociedade civil, aprovar uma lei que consagre os líderes dos três movimentos de libertação Nacional de Angola como heróis nacionais.
A vergonha setembrina, que apovora a não poucos angolanos em Setembro de cada ano em que celebram os feitos de um em detrimento de outros heróis nacionais não é uma fatalidade. Um país que sabe o quer, mesmo olhando para o retrovisor, de quando em vez, é para a frente que caminha.