JAcQUEs TOU AQUI!

Esta crónica é especial, porque surge a meio da semana. Não vai alterar no futuro, o carácter semanal das que normalmente ofereço aos leitores nos domingos. Esta tem a sua razão de ser, por aquilo que tentarei justificar na matéria que segue abaixo. Desculpem-me por qualquer coisinha menos certa.
1 – Era uma vez um país que, comparado aos mais carentes, é um país sem grandes carências. Pelo menos no primordial. É um país onde a luz nunca faltou, em apagão tão prolongado como o de segunda-feira passada, eram praí oito e picos, nove e coisa, dez e tal. Enquanto corria a cena houve preocupação. Aguentou-se a situação desconhecida como se pôde, de país todo às escuras, até próximo da meia-noite. O que teria acontecido? Simplesmente, o maior apagão da sua história. Atenção, cuidado, são os russos! Não faziam a coisa por menos, carago! Paizinho é a Terceira Guerra Mundial, alertavam os mais agitados. Disseram que o Primeiro-Ministro ia falar, mas sem rádio e televisão, como iríamos escutar a mensagem do doutor Montenegro? Esperar pelo dia seguinte se houver luz.
Depois, pela voz de vários líderes políticos, e entre críticas a estes e aqueloutros, ficou-se a magicar sobre a privatização de empresas estratégicas, caso da REN, com ligações directas à luz e à falta dela. Podem constituir erros fatais, acusaram. Um aviso a todos quanto pensam em privatizar por privatizar.
Sobre os angolanos na Tuga pairou um certo pânico. Como nos vamos safar se acaso o enorme corte de energia eléctrica é da mesma constância dos nossos? Perguntou-se receosamente. Os portugueses sabem lá o que é falta de luz a sério! Mas uma coisa, eles sabem. Exigir explicações, normalizar as coisas, apontar culpados e responsabilizá-los seriamente. Métodos menos usados na Ngimbi. Pedir desculpa a quem é prejudicado. Na nossa terra, dá a sensação de que se louvam os reincidentes e pedem-se desculpas sem jeito nenhum. Entretanto, a luz veio, mas a água nem por isso, e as medidas deveras e cautelosas, estão a ser tomadas.
Não me apercebi ainda da montagem de geradores ou de nenhum desfile de bidons para acumular combustível, mas já vi umas bichas para água. E o salário?! Oh, vejo em muitos cidadãos aquele gesto do professor Raimundo da Escolinha do Chico Anísio da Globo!

2 – De repente, temos grande acontecimento na União dos Escritores Angolanos. No próximo dia 10 de Maio, a primeira Associação Cultural da Angola Independente, da qual me orgulho de ser membro, vai a votos, precisamente neste ano em que completa 50 anos de vida. Através do seu site, os três candidatos (um homem, duas mulheres), mostram ao que vão. Activos na divulgação dos seus projectos e intenções, com um interessante espírito de unidade e democracia a girar em torno das suas ideias. Um pormenor que não me deixou indiferente foi o facto de os três candidatos se saudarem em mensagens civilizadas. Um princípio que garante, à partida, que os interesses da União dos Escritores Angolanos e a elevação da Literatura do nosso país prevalecerão. Estarão acima de quaisquer outros propósitos e objectivos. Espero que sim.
Contudo, não há bela sem senão e, a menos que me tenha enganado, não vislumbrei em nenhuma das candidaturas qualquer observação acerca das contas da UEA. Sou de parecer que para termos uma Associação credível e acima de qualquer suspeita, é necessário que todos os valores representativos do Activo e Passivo da instituição estejam claros no Relatório e Contas a apresentar aos membros. As receitas arrecadadas pela UEA, sejam pela quotização dos seus membros, quer em doações do Estado, quer ainda de verbas recolhidas de outras entidades estatais ou particulares, sejam ainda receitas provenientes de outra origem ou rendimento, devem estar claros para o associado que pretenda verificar a situação patrimonial, económica e financeira da entidade a que está vinculado.
Assim como devem estar os compromissos assumidos perante terceiros, como todos os gastos que deverão estar, como é óbvio, também devidamente justificados através de métodos e princípios que sejam perceptíveis e claros para todos os escritores. Este é o momento ideal para se mostrar como a instituição se comportou e se vai reger no futuro.
Ora, nenhuma referência a este aspecto particular da vida associativa, foi posta em evidência em nenhuma das candidaturas. Repito, a menos que me tenha escapado na leitura feita à motivação dos confrades candidatos. Nestes termos, e para que se parta de um caminho sem dúvidas, penso que ainda se está a tempo de se assumir um compromisso, não apenas com os livros, mas também com a clareza das contas e quiçá, porque não, da promessa da apresentação de uma auditoria especial ou forense, tenha o nome que tiver, às contas de exercícios anteriores, de modo a estarmos descansados e tranquilos quanto ao futuro da União. Dez dias são suficientes para introduzir esta questão essencial e de todo útil à agremiação, no capítulo da confiança que se pretende venha a presidir os destinos da União dos Escritores Angolanos.
Com os melhores cumprimentos aos meus leitores e particularmente aos meus confrades, despeço-me com um abraço e o desejo do melhor para o futuro de Angola e da Literatura Angolana.
Lisboa, 30 de Abril de 2025