O fundamentalismo hoje não é apenas religioso. É também cultural, científico, político, económico e até mesmo artístico, e muitas das vezes, os fundamentalistas se apresentam como os únicos portadores exclusivos da verdade e de soluções únicas para os problemas. E o mundo hoje vive sobre o império feroz de vários fundamentalismos. Tanta gente a morrer de fome, mas a prioridade das grandes potências continua a ser a produção de armas para matança em maior escala
Por Joca Tonet
Para o tema em questão, a abordagem de um inegável estudo de relevância social suscita em nós, o interesse bastante oportuno, e quase desconhecido por não se saber as verdadeiras causas. Aqui, somente fruto do árduo trabalho e grande interesse pelo tema, que constitui um dos grandes conflitos da actualidade mundial, nos remete à análise profunda do fenómeno social sobre o qual, quase ou nada sabemos.
Segundo Leonardo Boff, o primeiro e o mais visível do fundamentalismo, é o da ideologia política do neoliberalismo, de modo de produção capitalista e de sua melhor expressão o mercado mundial integrado. Apresenta-se como a solução exclusiva para todos os países e para todas as carências da humanidade, cuja sede está nos EUA – FMI, e todo mundo Ocidental. A lógica interna desse sistema, é criador de grandes desigualdades e injustiças, explorador da força de trabalho e destruidor da natureza. É apenas competitivo e nada cooperativo. Politicamente é democrático, economicamente é ditatorial. Dessa forma, a economia capitalista destrói sucessivamente a democracia participativa. Onde se implanta, a cultura capitalista cria uma visão materialista, individualista arrogante e prepotente, quando se está em causa os interesses do mundo capitalista e o seu modo de vida.
Este é o pensamento imperante da ditadura da globalização e um caso concreto, foi o bombardeamento consecutivo sobre as cidades de Tripoli, Sirte, e outras da Líbia, com vista o afastamento e a consequente morte de seu líder Muahammar Al Khadaffi. Podemos afirmar, que a crise mundial matou o líder líbio Muhammar Al Khadafi, com o pretexto de se impor a democracia e salvar o povo líbio da longa ditadura Khadafista. A tudo isto, Boff considerou essa etapa como a idade de ferro da globalização, hegemonizada pelas potências ocidentais tendo a testa os EUA.
A globalização é outro fenómeno que representa uma conquista ímpar da humanidade, com características e funções fortemente ambivalentes: por um lado, engrandece a comunidade humana mediante avanços tecnológicos e de incidentes multifárias já mais vista e, por outro, expõe a mesma comunidade a perigosa crise de identidade, ameaçando especialmente a periferia (os pobres do planeta, africanos, sul americanos, sul da Ásia). Consequentemente, criou-se o mercado transnacional do saber; criaram-se autenticas auto-estradas de informação alimentadas pelo poder e para a extensão do poder, suscitando simultaneamente descentralização e imperialismo, diversificação e homogeneização, interactividade e monopólio; nasceram os fenómenos paralelos como a persuasão e a manipulação, a competição selvagem, a selecção e a exclusão a estandardização a todo nível, onde a transferência de tecnologias passou a ser uma espécie de invasão estrutural e cultural.
A guerra da Líbia, com o fito de combater a ditadura longivenal de Muhammar Khadafi, foi uma clara demonstração de força, por parte do Ocidente, e do poderio financeiro e tecnológico, quanto se trata de explorar novas áreas e proteger os seus interesses imperialistas. Kadhafi, não teve outro recurso ante o poderio económico, financeiro e tecnológico, para contrapor a invasão do seu território da investida da NATO, que bombardeava sucessivamente as principais cidades líbias, num verdadeiro festival de maldade, injustiças e humilhação até a consequente captura e morte barbara e exposição de forma vil do seu corpo, sem direito a julgamento aceitável e justo, uma vez que foi capturado vivo em situação de guerra.
Na liderança dessa campanha esteve a França com os seus poderosos Mirrage de última gama da tecnologia. Mongo Beti, intelectual camaronês, já tinha escrito no seu livro a “França contra a África”, e a prova vem-nos da Líbia, com a potência Gaulesa a liderar os sucessivos bombardeamentos sobre as cidades.
No Canada, realizou-se um foro sobre a Líbia, onde se encontrava o último chefe de estado da antiga União Soviética, Mikhail Gorbathov, que repudiava a comemoração daquele evento em grande pompa! Por exemplo, no Médio Oriente, alguns emiratos árabes nem sequer têm constituição e parlamento em razão da garantia do suprimento do petróleo. A política externa do EUA há muito que é injusta com as nações árabes, apoiando regimes despóticos e totalitários. E a actuação norte-americana no conflito entre Israel e a Palestina é unilateral, tolerando ataques devastadores da máquina de guerra israelita contra a população palestiniana, sucessivamente entre as várias administrações, decorrente de processos de eleições.
A Arábia Saudita tem no seu solo, uma poderosa base militar norte-americana, no território sagrado do Islamismo, onde se situam as duas cidades santas do mundo Islâmico, Meca e Medina. Tal facto é para a fé islâmica, escandaloso e repugnante, quanto um católico tolerar a Máfia no governo do Vaticano. Esses procedimentos acumulam amargura, ressentimento revolta e vontade de revide. O novo tipo de imperialismo, aliada a globalização económica financeira e tecnológica, está em toda a parte do mundo. Isto é um processo feito em relações de interdependência, mas, na verdade, de dependência dos grandes conglomerados globais e dos capitais especulativos que dominam as economias periféricas, desestabilizando-as em razão dos seus interesses sedentos em explorar novas áreas de interesses (Líbia uma carta fora do baralho). E o próximo alvo será o Irão, que há muito está na alça de mira do Ocidente, mantendo uma política intransigente com o seu programa nuclear que irrita, de que maneira, as potencias ocidentais detentoras do alto poderio tecnológico, e que se servem dela, quando e bem entenderem. Pelo menos foi sempre assim que demonstraram sem se preocuparem com o bem-estar dos povos e a sustentabilidade do planeta criando milhões de excluídos.
A nova ordem mundial, surgida após a implosão do mundo socialista tendo a testa a antiga União Soviética, fracassada por sucessivas décadas de crises económicas internas, não melhorou a estabilidade do mundo. Ao contrário, os países da periferia, África, sul da Ásia, América Latina, mergulhados em crises internas, dependentes a todos os níveis, abandonados a sua sorte, tiveram que seguir os seus rumos sozinhos. O fosso entre ricos e pobres aumentou. O estado da terra é crítico e a medida que a situação vai se agudizando, as organizações continentais dos países da periferia tornam-se mais fracas e incapazes de saírem em defesa dos seus próprios interesses, constantemente ameaçados pelas potências ocidentais detentoras de instrumentos e organizações. E o mundo vai assistir mais uma novela com o patrocínio da Organização das Nações Unidas (ONU), com a subida de tom de ambos os lados, e ao menor pretexto, levantar-se-á o machado de guerra que desejamos que não venha acontecer. Porque o mundo está farto de guerras, porque arrastam consigo a miséria e a pobreza, quando há tarefas mais importantes para resolver: o problema da SIDA, que ameaça dizimar metade da população mundial, especialmente os países pobres da periferia, a fome, que é outro fenómeno que afecta metade da população mundial, especialmente africanos. Assistimos impávidos, a morte de milhares de seres humanos (Corno de África) Somália, enquanto se gasta bilhões de dólares na indústria armamentista.
A conclusão a que se pode chegar é que o humano atingiu o cúmulo da demência e que está cada vez mais sedento do vil metal e do lucro do capital.
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