UM PAÍS DE MEDÍOCRES?

A mediocridade é a arte de não ter inimigos”.

Luís Felipe Angell de Lama (Sofocleto) 

(escritor, poeta e humorista peruano)

JACQUES ARLINDO DOS SANTOS

O escritor e psicólogo português António Lobo Antunes é um nome firmado na literatura e na sociedade portuguesa. Apesar disso, nunca o li, nem sequer me passou pelas mãos o seu famoso “Cus de Judas”. Dele já ouvi dizer muita coisa, mas desconhecia que tinha da mediocridade uma ideia tão singular. Segundo ele, “a sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão os princípios fundamentais e eles aí estão: dirigem os países, as grandes empresas, os ministérios, etc.”. Assim, sem tirar nem pôr, tudo dito numa entrevista concedida, não fixei a que órgão privilegiado. A certa altura da fala perguntou aos portugueses: ”Quem leu Camões, por exemplo, quem sabe alguma coisa sobre Afonso de Albuquerque?”. Depois, foi peremptório na afirmação: “Gostamos dos idiotas porque não nos colocam em causaQuanto às pessoas de alto nível a sociedade descobriu uma forma espantosa de as neutralizar: adoptou-asFez de Garrett e Camilo viscondes, como a Inglaterra adoptou Dickens. E pronto, ei-los na ordem, com alguns desvios que a gente perdoa, porque são assim meio esquisitos, sabes como ele é, coitado, mas, apesar disso, tem qualidades”.

Ao ler isto vieram-me à ideia mil e uma coisas. Imaginei Angola, como é bom de ver. Fiz-lhe o retrato e vi-me na pele de alguém que faz parte de uma sociedade medíocre. Por outro lado e por arrasto, não deixei de pensar na legião de adoptados existentes na sociedade angolana. Pessoas de alto nível. Alguns chegam a meter dó. E é assim que, e de acordo com Lobo Antunes, me obrigo por questão de coerência, a oferecer hoje aos meus leitores, para sua apreciação, a delicada questão da mediocridade na nossa sociedade. Sinceramente, gostaria de saber deles o que pensam sobre Angola nesta matéria. Dos medíocres e das pessoas de nível adoptadas, um bom número de angolanos bem acomodados nos vários segmentos do sistema, que só vêm bem-estar e felicidade para eles e para os seus.

Que fazer? Nada. Assim sendo, nada mais me resta que continuar aescrever umas medíocres larachas sobre o nosso quotidiano, não me incomodando – absolutamente nada – com as críticas dos que se mostram ofendidos e hostis, porque não gostam mesmo nada de medíocres como eu, segundo eles, uns tipos que têm coragem, moral e bom senso para criticar. Para que saibam e no que a mim diz respeito, continuarei a pensar que criticar actos de arrogância, injustiça e má governação, deve ser obrigação de todos os cidadãos. É um gesto patriótico que deve ser praticado sempre que seja oportuno fazê-lo, Quem o faz com esta nobre intenção não critica, não senhor, por tudo e por nada, como se pretende fazer crer. Fá-lo por tudo o que observa, limitando-se a tentar corrigir o que está mal, julgando incorrectas as muitas práticas que se tornaram hábito.

Incomodar-me-iam se as chamadas de atenção partissem de gente sofredora, dos desgraçados que passam fome, dos que não têm emprego e não vislumbram escola e futuro para os seus filhos. Vindas de onde vêm, com um cheirinho a comunicação social manhosa, só me animam cada dia mais a dizer o que me vai na alma. E isso significa afirmar que, no que a mim respeita, só deixarei de trilhar esta rota de crítica social quando tiver notícias agradáveis, entre muitas que espero de vários sectores, por exemplo, sobre a contenção da despesa pública, o desperdício da nossa riqueza, e em consequência delas, quando me chegarem novas sobre questões que, uma a uma, fazem a melhoria de vida dos milhões de concidadãos desfavorecidos. E sabem que mais? Não estou disposto a ser mais um medíocre, muito menos um adoptado por esta sociedade esquisita, inqualificável, oportunista, que vigora entre nós.

Meus amigos e caros leitores, dando continuidade às nossas conversas, aguardo por vós, para a semana que vem. Até domingo, à hora do matabicho. 

Lisboa, 19 de Novembro de 2023

Obs: Ilustração sem autoria, retirada das redes sociais. Ao autor, as nossas felicitações pela qualidade.

2 Comments
  1. Bem… Li e reli, o artigo do querido senhor Jacques dos Santos, o meu ler e reler, é serve sempre para apreciar a forma sabia como este senhor escreve. Bem mas indo direta ao que quero escrever, sem sombra de dúvidas que a sociedade elitica, eu prefiro usar está palavra, de Angola se torna cada vez mais sem espaço, digo… Contornada cada vez mais por quem nada tem , de ginástica em ginástica para sobreviverem com nada, os que conseguem a custo emigram para sabe-se lá aonde, pelo menos terem algum trabalhado e com dignidade se proporcionarem o direito a viverem com algum conforto. Também sou das pessoas que cansei, reclamo pelos que lá estão com a esperança de melhores dias.

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