PARA QUANDO A BANDEIRA DE UMA ANGOLA VERDADEIRAMENTE DESPARTIDARIZADA?

POR JOSÉ LUÍS MENDONÇA

Em artigo publicado na revista AUSTRAL, nº 50, em 5 de Agosto de 2010, Dario de Melo apresenta “O traço enigmático das gravuras rupestres de Tchitundo-hulo” onde refere que o Tchitundo-hulo Mulume deve ter cerca de duas mil gravuras, quase todas de tipo geométrico. Associações de circunferências e de traços rectilíneos constituem figuras verdadeiramente labirínticas e de interpretação bastante difícil. (…) A carta étnica de Angola de José Redinha, editada em 1975, referencia o Tchitundo-hulo como pertencendo à zona de ocupação dos Cuíssis, com os Cuvales a oriente, estendendo-se até aos contrafortes da serra da Chela. Dario de Melo refere ainda que, segundo parecer do ilustre reverendo Carlos Estermann “hulo pode significar último, derradeiro, e acrescenta que, por exemplo, ondjila hulo quer dizer caminho último, fim de caminho, ou ainda caminho terminado.” 

Dario de Melo cita também a conclusão do professor Santos Júnior: “Como o fim do caminho da vida do homem é a morte, fim último, pode, pois, emitir-se a hipótese de ser aquele monte local de especial veneração entre os naturais da região, por ali terem realizado as cerimónias dos ritos de passagem e mesmo práticas rituais em manifestações fúnebres de culto pelos mortos.” (…) Que gravuras encontraremos ali, nos dias de hoje, em perigo de desaparecerem, vandalizadas impunemente por quem ignora o seu valor?

O professor Santos Júnior apresenta várias razões para defender a antiguidade destas gravuras, sendo uma delas o seu grande número, o que “deve corresponder a um largo período de utilização daquele monte para a prática de quaisquer cerimónias, nas quais a execução de gravuras no chão de pedra fizesse parte integrante do respectivo ritual.”

No já citado artigo do escritor Dario de Melo, lê-se que nas pinturas rupestres de Tchitundu-hulo contam-se “…grande número de símbolos astrais, círculos e desenhos abstractos (…)”. 

Em 28 de Agosto de 2003, ainda na vigência do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), e já sob o calar das armas, uma Comissão Constitucional da Assembleia Nacional apresentou um projecto de bandeira com uma faixa vermelha na parte central e duas pequenas listras brancas e azuis nas extremidades superior e inferior. A característica mais distintiva dessa bandeira é o sol amarelo localizado na parte central: um sol amarelo com 15 raios em forma de espiral foi gerado. Isso seria inspirado nas pinturas rupestres de Tchitundo-Hulu, na província angolana do Namibe. O sol representava riqueza e identidade histórica e cultural. 

Esta questão da identidade histórica e cultural num país em cujo peito pulsam os corações de 11 etno-nações, com as respectivas línguas e visões do mundo, faria assim justiça aos primeiros habitantes do território que hoje se denomina Angola, com a inserção numa nova bandeira desses elementos pictográficos do Tchitundu-hulo. Pensou-se que este projeto de bandeira seria aprovado após as eleições de 2005. No entanto, as eleições só se realizaram em 2008 e com elas se extinguiu o GURN e a ideia de uma bandeira de consenso para uma Angola independente verdadeiramente despartidarizada.

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