A opressão é diária. Constante. Sem tréguas. A ausência de qualidade de vida da maioria dos angolanos é o postal social. O salário irreal. Que não garante nenhuma dignidade. A água que nunca foi para todos. Os que têm menos são os que mais pagam. A opressão é diabólica.
Angola vive um momento trágico. O lado sombrio das nossas lideranças não tem conhecido limites e é responsável pela tortura física e emocional de milhões de cidadãos desde 1975. As cicatrizes destas governações são visíveis e algumas são fraturantes. Transformaram o país no seu quintal. Tornaram-se impunes. O séquito que os aplaude não tem qualquer consistência. É volátil. Vive de esmolas. Não cria laços de fraternidade. Não afunda com o navio. Tem o comportamento dos ratos. Desaparece de cena, descendo de forma traiçoeira pelos cabos até ao convés, a cada mudança de ciclo.
Desde 1975 o povo encolheu. Perdeu cidadania. Direitos Constitucionais. Futuro. Identidade. Hoje não cabe em nenhuma definição. Perdeu o seu próprio país. Tal como a fome também ele se tornou relativo. A única mais-valia que possui é a sua qualidade de eleitor, pois embora as eleições sejam livres, elas nunca foram justas e desta forma têm mantido o sistema apodrecido.
A autocracia é inegável. O “governo de si próprio”. O “governo por um só”. Em todos os momentos. Uma governação em que todos os níveis estão subordinados a um único centro de poder. O culto da personalidade, a centralização do poder, ausência de participação de outros grupos sociais são algumas das suas características. A intolerância à crítica. Impunidade absoluta sobre o excesso de poder. Manipulação da informação e do sistema político. Ausência de liberdade de manifestação da opinião pública e fraca participação popular. Perseguição dos opositores. Nacionalismo encoberto pelo autoritarismo exacerbado. Elitismo que protege uma minúscula burguesia enriquecida de forma instantânea e sem mérito.
Este sistema tem sido autor de verdadeiros crimes contra a Humanidade. Violação constante de Direitos Humanos. Tortura. Prisões arbitrárias. Execuções. A inação e a falência de políticas sociais que promovam o Estado de Bem Estar Social são regra. Corrupção generalizada garantida pela falta de mecanismos de controle e transparência, tem campo aberto para prosperar. Ausência de desenvolvimento económico tendo em conta que as decisões são frequentemente tomadas com base em interesses pessoais ou de um pequeno grupo, em detrimento das prioridades da população.
Onde está a Angola sonhada? Aquela que iria ser magnânima? Aquela que seria para todos? Angola da liberdade? Aquela onde ninguém ficaria para trás? Onde esta? Um sítio onde todos teriam os mesmos direitos? Onde nenhum angolano seria superior ao outro? Onde enterraram este sonho? Vocês os que sabem tudo? Enciclopédicos? Que nunca pediram desculpa pelas perdas das vidas de inocentes?
A opressão é diária. Constante. Sem tréguas. A ausência de qualidade de vida da maioria dos angolanos é o postal social. O salário irreal. Que não garante nenhuma dignidade. A água que nunca foi para todos. Os que têm menos são os que mais pagam. A opressão é diabólica. Analfabeto não é apenas aquele que não sabe ler. Analfabeto é também aquele que consegue ler, mas não entende o que lê. A “glória” de um sistema educativo parado no tempo que não serve sequer o presente, será deprimente para o futuro que já é um desafio.
Somos um povo faminto em todos os sentidos. Descalços. Sem um teto digno. Com passado cheio de sangue. Mostrem a lógica da vossa longeva governação? Sim, vocês do partido único em democracia. Que se tornaram isentos de patriotismo. De empatia. De amor pelo próximo. O povo reinventa-se todos os dias e ainda assim lhe roubam as bacias? Para governar com decência é imperativo que exista integridade. A integridade é uma qualidade interior. Não basta, por isso mudarem, apenas o nome das moscas…
A lei da destruição dos bens públicos devia ser a vossa cartilha. 49 anos a degradarem o país? O bem-estar social é um bem público. O mais importante bem público. A “Teoria do Buraco Grande”, tão bem explicada pelo lúcido jornalista Reginaldo Silva, é o vosso calcanhar de Aquiles. Não foram capazes de resolver um ÚNICO PROBLEMA BÁSICO. Quantos anos de cadeia merecem a inação, a negligência ou a maldade governativa? A corrupção institucional? Um povo sem cédula. Cédula??? Não tentem ressuscitar o passado com a “lenga, lenga” de que todos os que discordam “querem atentar contra o mandato do líder”. São os erros reiterados da vossa governação que vos tornou indesejáveis para milhões de angolanos. Hoje a culpa não é de nenhum “outro”.
* No Novo Jornal (01.09.2024)