O Grupo Carrinho poderá assumir-se como pivô no fortalecimento da estratégia global de diversificação da cadeia de produção, armazenamento e distribuição de suprimentos alimentares neste eixo regional ligado pelo Caminho de Ferro de Benguela, já que, para além da due diligence que convenceu os americanos, dispõe da maior estrutura de armazenamento do país, com uma capacidade de 100 mil toneladas de cereais e 55 mil m3 de tanques para produtos oleaginosos, bem como, para transportar mais de 1.4 milhões de toneladas de produtos.
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O Grupo dos 7 (G7) países mais industrializados do Mundo, (que inclui a Alemanha, Canadá, Estados Unidos da América, França, Itália, Japão e Reino Unido) reafirmou na sua plenária realizada a 14 de Junho, em Itália, no âmbito de uma iniciativa dos Estados Unidos da América, a pretensão de continuar a mobilizar financiamentos na ordem dos USD 600 bilhões, num período de cinco anos, para investimentos globais em infra-estruturas. O objectivo é que elas façam a diferença na vida das pessoas ao redor do mundo, fortaleçam e diversifiquem cadeias de suprimentos e promovam interesses compartilhados de segurança nacional.
O financiamento, no âmbito dessa Parceria de Investimento Global (PGI) estratégica promovida pelos EUA, é orientado por valores de alto padrão em países de baixa e média renda e ganhou maior consistência, em grande medida, por influência da guerra entre a Rússia e Ucrânia e do impacto nas economias dependentes de reservas energéticas e de produção de alimentos. Para além de contemplar Angola, nos domínios do desenvolvimento e exploração do Corredor do Lobito, essa estratégia agrega também o Corredor Económico de Luzon (que dará suporte à conectividade entre Subic Bay, Clark, Manila e Batangas nas Filipinas no quadro económico indo-pacífico), e o Corredor Médio Económico Índia – Médio Oriente – Europa (um projecto de infra-estruturas que se estenderá da Índia à Europa, conectando países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Itália, Alemanha e França).
Para o caso concreto de Angola, da concertação dos líderes do G7 neste conclave, resultou a garantia de disponibilização de USD 320 milhões assegurados para o Corredor do Lobito. O financiamento contemplará infra-estruturas de geração e distribuição de energia eléctrica, a melhoria da rede de telefonia móvel e expansão da conexão em 5G, a construção de 180 pontes, mas, fundamentalmente, o apoio ao desenvolvimento de Angola como principal eixo alimentar da região, mediante o suporte da construção e aquisição de infra-estruturas para a produção (agrícola e industrial) de bens alimentares e o seu armazenamento.
Este último domínio da estratégia será desenvolvido em parceria com o Grupo Carrinho, a maior plataforma nacional privada de logística e de produção de alimentos, instalada em Benguela, na zona da Taka, à escassos metros da linha do corredor ferroviário do Lobito, ao qual o Parque Industrial já está conectado por via de ramal próprio, construído de raiz nos últimos anos.
Internacionalização de uma marca de referência nacional
O objectivo desse Complexo Industrial, inaugurado em 2019, é a introdução de 1 milhão de toneladas de produtos diversos que integram a cesta básica no mercado do comércio de bens alimentares, mas também, estimular o aumento da produção nacional de milho, trigo, cana-de-açúcar, soja, feijão, arroz, entre outros, e, concomitantemente, reduzir, até 90%, a importação de produtos acabados nesse domínio.
O Parque Industrial da Carrinho que assegura já o emprego de 3 600 colaboradores e tem funcionado como impulsionador do Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações do Executivo angolano, está em fase de ampliação com a instalação de uma fábrica de extracção de 4 mil toneladas de soja ou 2 mil toneladas de girassol por dia, uma refinaria de açúcar com capacidade de 3 mil toneladas por dia de açúcar, uma fábrica de glucose com uma capacidade de 500 toneladas dia, uma central de silos com capacidade para 300 mil toneladas e um centro de distribuição com 50 mil metros quadrados.
À esse potencial, será agregado outro, na sequência de um acordo que o Grupo Carrinho rubricou com a Inalca/Angola (subsidiária italiana da Inalca SpA, líder europeia do sector bovino e parte da primeira empresa italiana do sector alimentar, o Grupo Cremonini), para a construção de uma unidade de produção de carne enlatada em Luanda, com capacidade de 10.000 toneladas/ano, que vai gerar mais cerca de 500 postos de trabalho.
O projecto de parceria, que tem como principal objectivo aumentar a produção local e valorizar o sector agropecuário em Angola, contará com um investimento superior a 15 milhões de euros. O empreendimento será construído no espaço que foi a Frescangol, situada no Cazenga e propriedade da Inalca Angola, para valorizar a antiga localização dessa unidade e devolver o seu antigo esplendor industrial, criando empregos que possam contribuir para a estabilidade de inúmeras famílias desse populoso município da cidade de Luanda.
De acordo com o comunicado distribuído a 29 de Abril, “essa joint venture pretende iniciar actividades focando-se numa fase inicial, na produção de carnes enlatadas (bovina e suína), dedicando-se posteriormente ao processamento industrial e à transformação de carnes”.
A unidade fabril, segundo ainda o comunicado, será “concebida para potenciar e impulsionar a produção local de carne, e esta parceria destaca o compromisso de ambas as empresas com o crescimento económico, o desenvolvimento sustentável e o emprego para os angolanos”.
Além de liderar o maior programa privado de fomento agrário, de apoio à agricultura familiar, e o maior programa de responsabilidade e generosidade social, com distribuição diária de cerca de 25 mil merendas e refeições por escolas primárias de várias regiões do país, o Grupo Carrinho tem um histórico de 15 anos de auditoria e de relações estreitas com as BIG Four (as quatro maiores redes de serviços profissionais do mundo: Deloitte, EY, KPMG e PwC) e com a International Finance Corporation (IFC) do Banco Mundial, factores que ressaltam a sua solidez e reputação no cenário global, que no fundo, serviram de base na due diligence efectuada pelas instituições americanas e parceiras do G7.
Estas razões, de acordo com a sua direcção, pesaram favoravelmente na opção da administração norte-americana para o estabelecimento da parceria estratégica com a Carrinho, assente, como se sabe, num rigor e exigências extremamente apertadas, quando se trata, particularmente, de financiamentos com recursos dos contribuintes americanos.
O convite dos EUA, com carácter excepcional, foi efectivado pelo secretário de Estado americano Antony Blinken, no decorrer da visita que efectuou a Angola, em Janeiro do corrente ano, que teve a Carrinho como a única empresa angolana incluída na sua agenda de contactos.
Decisão do G7 deve orgulhar o país
Para além da visita e do encontro entre o secretário de Estado americano e o CEO do Grupo, Nelson Carrinho, as instalações fabris na zona da Taka foram, noutra ocasião, inspeccionadas por uma equipa técnica do Escritório do Coordenador dos EUA para a Parceria para Infra-estrutura e Investimento Global. Ao pormenor, analisaram equipamentos, procedimentos, qualidade e segurança na fábrica de bolachas, na produção de cereais para pequeno almoço e misturas, na moagem de milho, no processamento de carne, de óleo de soja, de girassol, na fábrica de óleo de palma, de leite condensado, entre outras, mas, igualmente, nos campos de produção com intervenção da divisão da Carrinho Agri, situados na comuna do Dombe Grande, município da Baía Farta.
A aprovação do financiamento de 320 milhões de USD para o desenvolvimento do Corredor do Lobito, celebrado no meeting do G7 em Itália, mereceu, por isso mesmo, o rigozijo da direcção do Grupo Carrinho, expresso num comunicado divulgado neste final de semana. “Esta decisão do G7 é um motivo de muito orgulho e satisfação para o nosso país e, em particular, para a nossa organização, que está empenhada em alinhar a sua actividade com a visão do G7, promovendo os pequenos agricultores e garantir a segurança alimentar em paralelo com a inclusão social e financeira” – refere.
Recordamos que, desde o lançamento da PGI, os EUA mobilizaram mais de USD 60 bilhões em subsídios, empréstimos e investimentos para projectos infra-estruturais, com uma meta de alcançar USD 200 bilhões até 2027, e USD 600 bilhões em colaboração com o G7 que dá assim o primeiro passo com essa injecção de 320 milhões. Em Outubro de 2023, o governo dos EUA assinou um memorando de entendimento de sete partes com os governos de Angola, República Democrática do Congo, Zâmbia e Comissão Europeia, juntamente com o Banco Africano de Desenvolvimento e a Africa Finance Corporation (AFC), para desenvolver o Corredor do Lobito, incluindo investimentos importantes em infra-estruturas ferroviárias em todos os três países africanos. A cerimónia de assinatura que decorreu em Dallas, foi tida como um exemplo importante da abordagem holística de investimento do PGI, onde o financiamento público do G7 e a redução de risco de projectos em vários sectores, simultaneamente podem desbloquear o crescimento económico e as oportunidades, ao mesmo tempo em que apoiam práticas empresariais responsáveis.
A visita de Antony Blinken e os encontros que manteve com as empresas que terão envolvimento directo no PGI em Angola (Africell – telecomunicações, Lobito Atlantic Railway – operadora do corredor, Sun-Africa – painéis solares, Acrow – construtora de pontes e outras infra-estruturas), simbolizaram para as autoridades angolanas, “uma importante etapa na consolidação das relações comerciais e diplomáticas entre os dois Estados”, reflectindo “um reconhecimento mútuo das oportunidades de investimento e colaboração, e uma aposta no futuro económico promissor de Angola no contexto africano e mundial”.
Angola não tem projecto para beneficiar de fundos do Plano Mattei para África
A margem da Cimeira de Líderes do G7 de 2024, a Presidente do Conselho de Ministros da Itália e Presidente do G7, Giorgia Meloni, reuniu-se com destacadas figuras representando os sectores financeiro, energético e de tecnologia digital, com quem analisou a execução do “Plano Mattei para África (MPA)” e as suas ligações com a Parceria Global para Infra-estruturas e Investimento (PGII) do G7.
O Plano Mattei para África lançou novos instrumentos financeiros em colaboração com o Banco Africano de Desenvolvimento, abertos às contribuições de parceiros internacionais. De acordo com fonte do www.Kesongo.com baseada em Itália, o Plano Mattei é um Programa Estratégico Italiano, aprovado em 2023 pelo Governo Italiano liderado pela Primeira Ministra Giorgia Meloni (Presidente do Conselho).
Esse Plano prevê a disponibilização de 5.5 biliões de euros para investimento em África. Os objectivos são vários, mas, na generalidade, a Itália pretende contribuir para a erradicação da fome em África, para a educação, paz, segurança e cooperação para o fomento do desenvolvimento.
Para a nossa fonte, na verdade, “o que está em pauta em torno desse Plano, é a aproximação dos países africanos para a influência italiana, por causa da nova conjuntura das relações internacionais, onde vários actores (China, Rússia, China, EUA, França, entre outros) olham para o continente africano como uma zona geoestratégica e geoeconómica relevante, e a Itália pra não ficar para trás, lançou esse projecto”.
A nossa fonte assegurou que “o dinheiro já está disponível, mas as intervenções (atribuição dos valores pra cada país) dependem da apresentação de projectos”. Questionado se tinha conhecimento de algum projecto apresentado pelas autoridades angolanas ou se terão mostrado conhecimento e interesse, reiterou que, “na base do que foi delineado pelo Estado promotor, precisa elaborar um Projecto concreto para receber a sua parte dos 5.5 biliões disponíveis. Pelo que sei, Angola ainda não apresentou nenhum, assim como a grande maioria dos países africanos”.