DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO

POR CESALTINA ABREU

Comemora-se desde 1981, numa iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), com o objectivo de chamar a atenção para a importância da nutrição e da alimentação. 

A falta de alimentos para uma nutrição adequada, particularmente nos primeiros anos de vida, compromete o desenvolvimento cognitivo e do capital humano enquanto jovens e adultos. Em finais de Julho deste ano, o UNICEF chamava a atenção para o aumento de casos de desnutrição crónica em crianças, uma das principais causas da mortalidade infantil: “Nós temos 38% das crianças sofrendo de desnutrição crónica e das crianças menores de 5 anos, 5% padecem de desnutrição aguda”. Segundo dados do MINSA, durante o primeiro trimestre deste ano, foram registados no país cerca de 45 mil casos de desnutrição(1)

Lembrando que, em 2022, Angola figurava na 98ª posição da classificação do Índice Global da Fome, com 25,9 pontos, uma situação considerada Grave(2). Esta situação já se agravou com as subidas registadas nos preços da cesta básica: em Junho, após o aumento dos combustíveis num espaço de três semanas, registou-se um aumento de cerca de 50% nos produtos da cesta básica, tendência de alta que se vem mantendo(3). A situação pode ser agravada ainda mais pela crise da dívida (4). E, também, e principalmente, pelas recém-recomendadas medidas de austeridade que Angola deverá seguir nos próximos anos5. 

As consequências desta situação são o ‘comprometimento do Futuro’: 

Subalimentação: percentagem da população subalimentada, refletindo uma ingestão calórica insuficiente;

Atraso no crescimento infantil: percentagem de crianças com menos de cinco anos consideradas raquíticas (baixa estatura para a sua idade), refletindo subnutrição crónica;

Emaciação infantil: percentagem de crianças com menos de cinco anos de idade que são emaciadas (baixo peso para a sua altura), refletindo a subnutrição aguda;

Mortalidade infantil: a taxa de mortalidade de crianças com menos de cinco anos de idade. 

Não precisando mais do que visitar alguns mercados – e isto, em todo o país – descobre-se que devido à situação de empobrecimento crescente da maior parte da população, agravada pelo desemprego, muitas famílias para quem nem a “estratégia da sócia” está a dar(6), porque não têm como arranjar o dinheiro para pagar a sua parte, estão a recorrer ao que já são produtos muito procurados nos mercados: 

Para muitos, contudo, nem estas mini-doses, cabeças de peixe, patas de galinha, carçacas, e por aí, estão ao alcance. E o recurso é mesmo catar restos no contentor ou mendigar comida nas ruas. 

Para um país com o potencial agro-pecuário, piscícola e silvícola de Angola esta é uma situação humanamente inadmissível, demonstrando sem necessidade de grandes estudos, apenas recorrendo à observação, que continua a não haver seriedade da parte dos poderes instituídos em promover a produção nacional nos sectores primários e a sua transformação de maneira não só a gerar um valor acrescentado para os produtores, mas também a gerar emprego e a ampliar a oferta de produtos nacionais no mercado angolano, bem como a garantir merenda escolar – culturalmente adequada – para todas as crianças. 

16 Outubro de 2023

1 https://www.rfi.fr/pt/angola/20230727-mortes-por-m%C3%A1-nutri%C3%A7%C3%A3o- cr%C3%B3nica-de-crian%C3%A7as-disparam-em-angola

2 Índice Global da Fome (IGF) Os resultados do IGF são calculados com base numa fórmula que combina quatro indicadores que, em conjunto, captam a natureza multidimensional da fome. Os dados utilizados para calcular as pontuações de IGF provêm de fontes publicadas da ONU (FAO, OMS, UNICEF, e o Grupo Interagências para a Estimativa da Mortalidade Infantil), do Banco Mundial, e do Programa de Inquéritos Demográficos e de Saúde.

3 https://expansao.co.ao/angola/interior/precos-da-cesta-basica-cresceram-mais-de-50-em- tres-semanas-113728.html 

4 Agência da ONU investe em sistemas alimentares mais sustentáveis na África, ONU News, 02 fevereiro 2023 

5 https://www.lusa.pt/lusofonia/article/2023-10-15/41677534/fmi-considera-que-angola-tem- de-voltar-%C3%A0-austeridade-neste-e-no-pr%C3%B3ximo-ano 

6 https://www.angola24horas.com/sociedade/item/28026-socia-ou-como-os-angolanos-estao-um- passo-a-frente-nas-estrategias-para-poupar 

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