Defesa e Segurança: Inteligência Econômica

Com a confluência e o entrosamento massivo de vários interesses econômicos convergentes e não convergentes entre os Estados e as grandes corporações ou multinacionais, “face aos desafios colocados pela crise económica global, têm vindo a ser detectadas actividades de espionagem económica e industrial, junto de sectores estratégicos e de áreas relacionadas com o conhecimento…”

POR LEONARDO QUARENTA*

O sistema internacional move-se por várias direcções geopolíticas, geoestratégicas e geoeconômicas, sobretudo este último, após a II Guerra Mundial tomou as rédeas dos interesses estatais. Portanto, hoje nas relações internacionais, as guerras fazem-se mais por motivos econômicos, do que propriamente por motivos políticos, diplomáticos, culturais ou ambições territoriais.

Na manutenção dos interesses nacionais e protecção das riquezas e recursos naturais e minerais do Estado, é fundamental a actuação da inteligência econômica. Neste quesito, os órgãos de defesa e segurança do Estado têm o dever de assegurar o andamento equilibrado e estável da economia nacional, de agir contra a espionagem econômica, espionagem corporativa ou industrial. 

No exercício da coleta e análise de dados no âmbito econômico, vale lembrar que “as primeiras formas de inteligência econômica começaram com as actividades comerciais. As viagens e as expedições comerciais foram a melhor forma de recolha de informação e transmissão para meios geográficos distintos e longínquos, pois passou a haver um levantamento e um registo de informação, que permitia à preparação e o desenho de novos investimentos, mais adequados aos objectivos pretendidos” pelos agentes econômicos, agentes governamentais e actores internacionais não estatais.

Portanto, a inteligência econômica “é uma acção coordenada e sistemática de recolha, tratamento e difusão da informação útil para os actores económicos com vista à sua exploração para fins estratégicos e operacionais”. Na mesma linha de análise a Escola de Guerra Econômica de Paris define a Inteligência Económica como “pesquisa e interpretação sistemática de informação acessível a todos, com o objectivo de apurar as intenções dos agentes e de conhecer as suas capacidades. E nela estão compreendidas as operações de vigilância, protecção e influência”. 

Em torno do factor econômico, «a inteligência e a espionagem» funcionam como uma coisa só, porque as acções um do outro complementam-se e representam ao mesmo tempo, um mecanismo estratégico para a manutenção dos interesses nacionais traçados pelos governos. A espionagem econômica ao lado da inteligência econômica, funciona como uma “acção que visa à obtenção de conhecimentos ou dados sigilosos, cujo acesso indevido ou não-autorizado possa implicar a obtenção de vantagens econômicas para determinado Estado, ou para empresas consideradas vitais para a economia interna ou o desenvolvimento nacional desse Estado”. 

Com a confluência e o entrosamento massivo de vários interesses econômicos convergentes e não convergentes entre os Estados e as grandes corporações ou multinacionais, “face aos desafios colocados pela crise económica global, têm vindo a ser detectadas actividades de espionagem económica e industrial, junto de sectores estratégicos e de áreas relacionadas com o conhecimento, nomeadamente aquelas que se encontram, associadas à inovação. Tudo isso releva a importância crítica desses sectores para os esforços no sentido da recuperação económica”. 

Com a evolução cada vez mais crescente da globalização, sobretudo, o avanço no campo da tecnologia, a unificação do comércio internacional e da economia global, a Inteligência econômica tornou-se um instrumento de luta entre os Estados e não só, na qual organizações governamentais, empresas públicas, empresas privadas nacionais e internacionais, competem entre si para obterem vantagens nas suas acções geoconômicas e geopolíticas, de modo a alavancarem os interesses industriais e empresariais dos seus respectivos países. 

A inteligência econômica obedece uma série de etapas, procedimentos, metodologias e dinâmicas, tais como: 

a) Pesquisa: Actividade de acompanhamento, recolha e investigação de informação. É feita a vigilância do desenvolvimento da actividade do sector pretendido e o levantamento e recolha da respectiva informação; 

b) Tratamento: Manutenção de base de dados e de conhecimento, administração de dados, análise e síntese da informação;

c) Formulação de estratégias: Inovação, gestão de projectos, antecipação e controlo de riscos, avaliação dos efeitos das decisões. 

d) Empreendimento de novas acções: Influência, acções correctivas, reposicionamento do projecto; 

e) Avaliação dos efeitos: Estudos de impacto e troca de experiências”.

A inteligência econômica faz muita diferença nas relações internacionais. Os Estados em base às suas estratégias governamentais, perseguem interesses econômico-comerciais, interesses corporativos e industriais. Nesse processo todo os serviços de defesa e segurança dos Estados (sobretudo as potências globais e regionais) procuram estar a dois passos a frente dos outros governos em termos estratégicos, mas quando os seus projectos geoeconómicos não se concretizam por via da negociação e cooperação, dão lugar às tensões e aos conflitos, para obterem resultados favoráveis em prol dos seus programas estatais, demonstrando claramente a verdadeira face da «geopolítica».

Fotografia: Zona de construção da Barragem de NDÚEO, no município do Cuvelai, Cunene, infra-estrutura que integra o Programa de Combate aos Efeitos da Seca no Sul de Angola (PCESSA). O empreendimento ficará concluído no segundo semestre de 2024 e vai beneficiar uma população estimada em aproximadamente 60 mil almas, bem como o gado da região (mais de 60 mil animais). Começou a ser construída em Março do ano passado.

*Leonardo Quarenta é: 

  • Ph.D. em Direito Constitucional e Internacional
  • Mestrado em Relações Internacionais: Diplomacia, Mediação e Gestão de Crises
  • Mestrado em Criminologia, Direito Penal e Políticas de Segurança
  • Formação em Conselheiro Civil e Militar
  • Formação em Geopolítica de África: O Papel da CPLP na Segurança Regional

Departamento Nacional de Políticas de Estado; Inteligência Econômica; Inteligência Militar; Diplomacia Militar; Planejamento Operacional Militar; Diplomacia e Economia; Diplomacia e Segurança; Diplomacia e Estratégias; Diplomacia e Relações Públicas; Diplomacia e Protocolos; Diplomacia e Comunicação; Diplomacia e Cooperação; Departamento Estratégico de Projectos Nacionais; Diplomacia Governamental; Diplomacia Presidencial; Conselheiro de Segurança Nacional; Competências Internacionais

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

PROCURAR