Contributo à discussão do tema
ZOOM DA TUNDAVALA
É preciso mudar mentalidades e entender, de vez, que a força dos contrários é um princípio universal que ajuda a compreender a natureza da mudança, do equilíbrio e da harmonia no mundo. É o encontro entre essas forças que gera evolução e nos desafia a encontrar sentido nas diferenças.
As conversas informais, geralmente entre amigos ou em grupos mais ou menos alargados, são sempre interessantes porque o verbo flui, não existe a “pressão” de se ter de olhar para o lado para ver quem está a “escutar”, e se fazem análises, comentários e observações sobre os assuntos da actualidade, sobre as diversas realidades que se vivem, tecem-se considerações sobre o que era expectável e seria desejável, e muitas vezes antecipam-se cenários para as situações em presença.
São conversas que, em grande medida, fazem despertar a consciência dos intervenientes, para uma série de situações do quotidiano, sendo lícitas, e por isso admissíveis e pacíficas, as divergências de opinião, que contribuem também para a formação de correntes de opinião sobre determinados assuntos. Respeitam-se as diferenças de opinião por se entender que elas resultam, até, da liberdade de pensamento e de expressão de cada um, e, porque não, também, da liberdade de reunião, e não há essa de que eu é que sei, nem se faz da palavra de alguém a regra a seguir por todos, ao estilo de nós é que sabemos. Busca-se o consenso, sem ferir nem ameaçar ninguém e sem que alguém se sinta superior ou mais inteligente que os demais. Liberdade e respeito acima de tudo!
As correntes de opinião são, assim, a expressão do pensamento de um grupo ou de uma colectividade relativamente a determinado assunto ou situação, seja ela de natureza política, económica, social ou até mesmo cultural, em consequência de algum acontecimento ou preocupação comum.
A sua propagação ocorre das mais diversas formas e, na actualidade, assumem grande relevância as redes sociais, como veículo para a sua divulgação, para além da disseminação através do contacto entre as pessoas. A comunicação social joga também um papel importante no processo de disseminação de correntes de opinião. Porém, no contexto angolano, caracterizado por um domínio quase absoluto da política dominante sobre a comunicação social, esse papel encontra-se consideravelmente reduzido ou mesmo eliminado, salvo as devidas excepções.
As correntes de opinião não têm necessariamente de ser convergentes com a vontade ou com os interesses dos políticos ou da classe dominante da sociedade nem têm, obrigatoriamente, de satisfazer vontades ou interesses.
Elas refletem a opinião pública resultante de factos ou circunstâncias que as motivam, sem que isso deva ser tido como estar a fazer oposição, ou estar contra, seja em que sentido for. Aliás, é preciso mudar mentalidades e entender, de vez, que a força dos contrários é um princípio universal que ajuda a compreender a natureza da mudança, do equilíbrio e da harmonia no mundo. É o encontro entre essas forças que gera evolução e nos desafia a encontrar sentido nas diferenças.
As manifestações contrárias expressas através de correntes de opinião, não podem ser a motivação simples para esgrimir argumentos muitas vezes arrogantes e prepotentes contra tais manifestações, e muito menos são sinónimo de falta de patriotismo. Aliás, falta de patriotismo será não haver manifestação contrária alguma quando, visivelmente, algo não está bem, ou dizer “amem” a tudo, apenas para agradar mostrar fidelidade.
As correntes de opinião devem, sim, ser vistas como manifestações do direito de não estar de acordo com alguma coisa, por se entender que ninguém é obrigado a estar de acordo com tudo o que se lhe ponha à frente.
Nas correntes de opinião podem ser encontrados os designados objectores de opinião, que são pessoas que discordam ou questionam uma visão, ideia ou opinião, defendendo uma perspectiva ou alternativa contrária. São pessoas que exercem o direito ao contraditório, frequentemente desafiando normas sociais, políticas ou culturais em nome de valores como liberdade de expressão, de reunião ou de manifestação, justiça ou verdade e, ao trazerem novas ideias e perspectivas, sendo críticos, sem que tal represente que estejam errados, dão importantes contributos para mudanças económicas, sociais ou culturais, contribuindo igualmente para a mudança do pensamento colectivo. Não estão com isso, nem por isso, a buscar formas para derrubar governos.
As correntes de opinião desempenham, pois, um papel importante na política e na governação, ao influenciarem a tomada de decisões, e a implementação de políticas públicas mais consentâneas com os interesses da sociedade. Em sociedades mais desenvolvidas, e com sistemas democráticos consolidados, as correntes de opinião, ou o que geralmente também se designa opinião pública, têm muita importância e são muito levadas em conta na tomada de decisões por vezes fulcrais, como acontece em diversos países da Europa ou nos Estados Unidos, havendo mesmo exemplos de decisões políticas importantes que foram, ou não foram tomadas, em função da opinião pública sobre tais assuntos.
Temas como governação inclusiva deveriam, pois, significar que os governantes deviam, também, explorar mais as correntes de opinião para entenderem melhor o que a população valoriza, contribuindo para decisões que melhor reflitam os interesses colectivos, e para a exigência de mais transparência e prestação de contas, sobretudo quando se trate de assuntos “quentes”, como corrupção, má gestão pública, e tantos outros.
As correntes de opinião têm, naturalmente, riscos associados, sendo a manipulação um desses riscos, pois, certos líderes de grupos, podem usá-las no sentido de obterem dividendos políticos ou económicos, desviados dos interesses da sociedade ou, usando da distorção de factos, conduzir à tomada de medidas repressivas ou de controle que sejam indesejáveis.
As correntes de opinião são ferramentas que, bem exploradas, e exploradas no sentido do bem, podem contribuir para orientar a política e a governação, sendo imprescindível, porém, que se cultive mais a cidadania activa e informada, para que ela possa ser positivamente participativa.
Isso exigirá, em última instância, políticos e governantes competentes e capazes de ouvir essas correntes de opinião, e que tenham a capacidade de absorver o que mais interessa à sociedade, de forma que sejam tomadas decisões que atendam não só às necessidades imediatas, mas também aos interesses colectivos de longo prazo.