ANGOLA E A TERCEIRA VIA – POLÍTICA E ESTRATÉGIAS

Se num dado momento a saturação popular passar do extremo para o “não dá mais e basta”, a coisa poderá “pegar fogo”. Literalmente, nessa hora, não se levará em consideração se o povo é ou não instruído… Nessa hora, valerá o uso da força popular. E nada é mais forte que o povo.

POR LEONARDO QUARENTA*

A Democracia sendo o poder das massas, representação popular, garantia dos direitos e das liberdades fundamentais, é normal fazer menção à disputa pelo poder de Estado por parte de várias forças políticas. Mas em Angola, todo jogo político e estratégico é dominado pelo MPLA e pela UNITA, e por não haver alterações significativas na Administração do Estado, praticamente a 50 anos, muito se tem falado sobre uma “Terceira Via”, o que é legítimo em Democracia, sobretudo nas democracias consolidadas, onde há vários partidos fortes concorrendo pelo poder político.

Entretanto, me atrevo a dizer que jamais haverá uma “Terceira Via” em Angola, nem mesmo daqui a 10 ou 20 anos, caso não tenhamos antes de tudo, uma sociedade civil organizada, bem instruída e com capacidade crítica profunda das coisas; uma sociedade que faça as suas reivindicações não simplesmente por causa da fome ou por falta de emprego, mas que o faça porque está consciente de que  os seus dirigentes têm a obrigação de proporcionar e demonstrar desenvolvimento econômico-social no País. 

Em Angola o povo não reclama necessariamente por falta de desenvolvimento. Uma sociedade civil intelectual reclamaria por isso. Em Angola, o povo reclama por falta de comida. No tempo de José Eduardo dos Santos, o povo reclamava e protestava menos porque muitos ainda conseguiam comer (mas já havia muita fome, muito sofrimento e instabilidade social), a moeda estava razoável (hoje o kwanza nem burro está, está outra coisa), mas isso não significa dizer que o País estava bom.

O País sempre esteve mal, agora a situação só piorou ainda mais, e é aqui onde está o problema. Um povo intelectual reclamaria por desenvolvimento, por estabilidade estrutural econômico-financeira, por boa governação e independência dos órgãos de soberania, porque tenho certeza de que, se nesse preciso momento houvesse um certo poder de compra de bens e serviços por parte da população, muitos diriam e pensariam que o País está bom; se o Kwanza estivesse a 10 mil por cada 100 dólares, muitos diriam e pensariam que o País tem estabilidade, mesmo não tendo. Nessa hora, poucos iriam protestar e se manifestar.

Terceira Via em Angola exigirá intelectualidade, estratégias, diplomacia, lobby e poder econômico. Fora disso, é tudo perca de tempo. O meu povo não está preparado pra isso, porque ainda dão mais lugar ao emocional do que ao racional. E em política isso é muito perigoso, porque nada é preto no branco, nem branco no preto. Em política as coisas são extremamente complexas. E poucos conseguem entender esta complexidade, e mesmo grande parte dos nossos políticos não têm noção disso. Por isso falam uma coisa e fazem outra, prometem uma coisa e fazem outra. Procedem desse jeito não necessariamente por falta de vontade, mas, simplesmente, porque não entendem a dinâmica que a política impõe. Logicamente que isso não é pra todos. Mas o pragmatismo político não é mesmo pra todos, e assim vai o País na desordem e na instabilidade total, onde os verdadeiros intelectuais são ignorados e postos de lado, onde quem comanda um Departamento ou um Ministéro nem sequer tem programa de mandato, não tem projecto institucional. Você vai às embaixadas e aos consulados angolanos a coisa é alarmante, é um “desastre”, não apenas desastre intelectual ou diplomático, mas sim um desastre conjuntural. Em vez de crescermos estamos a regredir.

A concretização de uma “Terceira Via” em Angola não será assim tão fácil. O primeiro obstâculo são os partidos tradicionais que, estrategicamente, não querem alterações no status quo, ou alterações no formato das forças político-partidárias em termos de influência e domínio estatal:

MPLA em primeiro lugar e UNITA em segundo lugal… outro obstâculo e o mais grave ao meu ver, é a falta de inteligência e de estratégia por parte da sociedade civil. A nossa sociedade civil é ainda desorganizada, não sabem coordenar os seus programas, se é que existe um programa. É uma sociedade civil sem um líder, e em tudo se requer uma liderança. Mesmo a própria revolução popular não se faz de qualquer maneira. Repito: é necessário inteligência, estratégias, liderança, apoio econômico e coordenação das coisas. Fora disso, é tudo perca de tempo. 

Em política valem os resultados, e um político é avaliado pelos seus resultados, caso contrário é tudo inútil. Em Angola verifica-se isso. Não existe um sector sequer que demonstre grandes resultados em termos de Gestão Pública. E em vez de buscarem os cidadãos intelectuais, preferem manter as coisas do jeito que está. Se uma coisa não  funciona, é preciso mudar de estratégias, fazer alterações pontuais, não permanecer no erro. Insirindo cidadãos competentes no aparelho do Estado no final obtêm-se bons resultados.

Contudo, independentemente de tudo quanto foi referido aqui sobre a sociedade civil angolana, vale realçar mais uma vez a complexidade da política: se num dado momento a saturação popular passar do extremo para o “não dá mais e basta”, a coisa poderá “pegar fogo”. Literalmente, nessa hora, não se levará em consideração se o povo é ou não instruído, se o povo reivindica ou não por desenvolvimento. Nessa hora valerá o uso da força popular. E nada é mais forte que o povo. Um exército não pode nada contra o povo… e ter o povo como inimigo é fatal pra qualquer um. O povo é sempre o mais forte dentro de um Estado. Mas em Angola e em África, os dirigentes não fazem leitura disso. E quando despertarem será tarde demais e a humilhação será do tamanho do Mundo.

A Política é o que Eu sou!

*Post-Doc Reseacher. O Jurista e o Direito, Política e Diplomacia, Defesa e Segurança

One Comment
  1. Oxala que o cancro se metastaseie e o libertacao nos venha de dentro do proprio Ogro, qie nos mantem sob cativeiro ha 50 anos, ja.. Ca fora as hostes vivem amnesiadas de tantas burlas recambolescas e pseudoFraccionismos sob protecao da tal de Comunidade Intercriminosa, ou seja Internacional de um ocidente decadente e voraz. Ate insistem e comploteam em Programas mundiais de Reducao Populacional.
    Entre nos ainda ha quem sonhe acordado. Espera do uma hipotetica mao salvadora vinda dos mesmos que nos puseram e nos mantem onde estamos…

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