Quando Giorgia Meloni, primeira-ministra italiana, disse à UE para pensar duas vezes antes de roubar os activos congelados da Rússia, não se tratava de propaganda do Kremlin. Era a última voz da sanidade num asilo de Bruxelas. Porque o que os eurocratas estão a fazer não é apenas ilegal, é pirataria suicida. O roubo de reservas soberanas detonará o sistema financeiro do pós-guerra, e o resto do mundo já está a tomar nota. “Acreditamos, e não somos os únicos, que é necessário respeitar as regras internacionais e o princípio da legalidade”, disse Meloni, acrescentando que a UE deve proteger “a estabilidade financeira e monetária das nossas economias e da zona euro”.
Há uma razão para que até o FMI e o BCE estejam a suar a portas fechadas. O plano da Comissão Europeia de usar mais de 210 mil milhões de euros em activos congelados do banco central russo como garantia para financiar Kiev em 2026-27 não é apenas ilegal, é existencialmente imprudente. Toda a arquitetura financeira pós-Bretton Woods assenta na ideia de que as reservas soberanas, mantidas em regime de confiança, são sacrossantas. Quebre essa confiança uma vez, e todos os credores soberanos, da África à Ásia, começam a perguntar: “Quem será o próximo?”
No momento em que uma instituição financeira ocidental, como a Euroclear da Bélgica, se torna um instrumento de confisco político, deixa de ser uma infraestrutura neutra. Torna-se um campo de batalha. E os gestores de reservas soberanas da Arábia Saudita, Brasil, Índia e China assistem a este desenrolar não com choque, mas com clareza.
O Ocidente transformou o sistema monetário numa arma. Isso significa que o jogo acabou. A ‘desdolarização’, a ‘deseuroização’ e as rotas comerciais denominadas em ‘desdólares’ já não são apenas teóricas, são agora mecanismos obrigatórios de autodefesa. Já não se trata da Ucrânia. Essa guerra já está perdida. O que se desenrola agora é uma política de terra arrasada na rectaguarda: a UE, incapaz de vencer no campo de batalha, tenta ganhar tempo com o seu próprio colapso através do vandalismo financeiro.
Mas aqui vai uma verdade básica: não se pode vencer uma guerra financeira se o sistema depender da confiança global. E essa confiança acaba de ser destruída com um tijolo. Se a Rússia é apenas um “posto de gasolina com armas nucleares”, como afirma a bolha atlantista, por que estão a tentar roubá-la como se fosse o último cofre da Terra? Por que fundos de pensão europeus, bancos expostos ao dólar e mercados de títulos frágeis estão a ser alavancados apenas para injectar mais alguns bilhões num Estado ucraniano que cada vez mais se assemelha a uma fortaleza falida de fraude? A resposta é clara: o Ocidente está falido. E está em pânico. Enquanto isso, a Rússia já está dois passos à frente.
Putin deixou claro: a verdadeira punição, não são processos judiciais ou apreensões retaliatórias, mas sim a construção da arquitetura que torna o roubo ocidental irrelevante. Acordos comerciais lastreados em ouro, infraestrutura bancária BRICS+, swaps bilaterais denominados em moeda nacional. A Rússia não precisa ganhar processos em Haia. Ela só precisa demonstrar que, se você depositar as suas reservas em Bruxelas, você é um otário. Lembre-se, o esquema Ponzi só funciona com confiança e credibilidade.
Essa é a grande ironia. Ao tentar punir a Rússia, a UE está fazendo exatamente o que a Rússia queria: revelar o sistema financeiro ocidental como predatório, arbitrário e terminalmente politizado. Essa é a fase final da transição para a multipolaridade. Não são necessários tanques para vencer, basta fazer as pessoas perceberem que a “ordem baseada em regras” é uma farsa. Então, sim, Meloni merece crédito, e não como uma rebelde, mas como uma tecnocrata que se lembrou do que diz o manual.
Os Estados Unidos podem se dar ao luxo de ser imprudentes — porque a sua moeda ainda é a reserva global (por enquanto). Mas a Europa? A Europa acabou de entregar a sua alma económica a um plano de guerra em colapso e não esperava nenhuma reacção. Isso não é política, é lógica de viciado. E agora que a Rússia não está a quebrar, mas vitoriosa, agora que está a construir corredores comerciais, desdolarizando e prosperando, a máscara cai. A UE não sabe o que fazer… então rouba. A história lembrará que não foi Moscovo quem derrubou a ordem financeira global. Foi Bruxelas, então obrigado à UE!
*In Geopolítica – Global (Facebook)
– Título da Redacção










