TERMINOU A GOSTO

ZOOM DA TUNDAVALA

AIRES ALMEIDA

Quando chega A gosto, a cidade do Lubango ganha mais gosto, anima-se, enche-se de turistas que, atraídos pelas Festas da Senhora do Monte, que vêm lá de 1902, aportam a estas paragens por diversão, passeio, e até para integrar as diversas actividades que se realizam no âmbito das festividades. 

A cidade franqueia as suas portas, recebe os seus visitantes de braços abertos, como faz o Cristo Rei que, lá do alto, abraça toda a cidade e parece dizer: “Vejam como estou”, porque a cidade está indiferente a isso. 

Antes de entrar A gosto, a azáfama é sempre grande nos preparativos para as Festas, que se esperam sempre melhores que as do ano anterior. A correria é enorme. Os pedidos de patrocínios chovem, muitos dos quais nem sequer se concretizam porque patrocínio paga imposto, dizem os empresários, e ninguém está para pagar imposto por prestar ajuda, por colaborar. Só no esquema…

Quando entra A gosto, os temas das conversas convergem, quase sempre, para o turismo, para as potencialidades turísticas desta região e do que circunda a cidade, apontando quase sempre para a falta de acessos para vários deles, o que condiciona, e bastante, a visitação por parte dos turistas que vêm ao Lubango, sendo disso referências os acessos à Missão do Jau, quer se queira ir pela Palanca, quer pelo intransitável trecho da Huíla, como ainda é por fotografia que muitos conhecem a Cascata da Hungéria dadas as condições do acesso, entenda-se caminho. As grutas do Tchivinguiro, pouco exploradas e conhecidas, também não têm um acesso que satisfaça porque se aquilo que era uma estrada hoje parece mais um queijo suíço, e depois, deparar com aquele aspecto de abandono em que se encontra o que foi a única Escola de Regentes Agrícolas de Angola, é deprimente e, para isso, nem vale a pena lá ir.

Mas o Lubango tem jovens que, pela força do trabalho, mostram que é possível fazer diferente e melhor. Por isso ter sido gratificante conhecer a trajetória do comediante Michael, filho da Minhota, que por pouco não foi Jackson e acabou sendo Ângelo, e foi capaz de trazer para a leitura um livro que é bem o exemplo de que o trabalho transforma.

A romaria de 15 de Agosto, à Capela da Nossa Senhora do Monte, reúne sempre largas centenas de fiéis católicos que rumam em devoção à Padroeira da cidade e todos, na cidade, aproveitam o dia de descanso que é concedido, por ser de festa.

Lubango tem sempre as suas feiras: A do gado, organizada pela Cooperativa dos Criadores de Gado do Sul de Angola, uma mostra das potencialidades pecuárias da província e da região, cujo apogeu, é bom de recordar, foi a primeira FENAGRO (Feira Nacional Agro-Pecuária) realizada em 1987; A Expo Huíla, comercial, organizada pela prestigiada AAPCIL, que congrega no seu seio o empresariado de todos os sectores, é sempre uma montra da indústria e do comércio e uma oportunidade de negócios. Estes dois acontecimentos trazem sempre à cidade milhares de visitantes. Ambas também servem, no entanto, de barómetro da situação em que se encontra o empresariado, sendo visível, mesmo para quem não queria entender do assunto, que as dificuldades são inúmeras e imensas, que muitos marcam presença nessas feiras mais por teimosia. Porque a cidade pede que se façam as festas que são sempre A gosto.

Não falta no programa das festas, o concurso de beleza que elege a jovem mais bonita da Huíla que concorre ao título de Miss Angola. Espetáculo sempre recheado de beleza, cor, animação e música, que leva ao lugar do evento todos os que se interessam pelo concurso.

As festas culminam sempre A gosto com os 200 km da Huíla, prova de automobilismo realizada muito à custa da carolice de uns tantos aficcionados pela velocidade, mas que desperta para as muito frágeis questões de segurança, tanto dos pilotos como dos espectadores, motivo bastante para fazer pensar sobre o assunto. Fazer 200 km da Huíla não deve ser só fazer por fazer, para fazer constar do programa das festas. Deve-se ir mais além. 

A gosto, serviu também, mesmo com a festas a decorrer, para se efectuar a pintura da fachada de alguns edifícios, devolvendo uma aparência mais alegre, mais colorida, à  cidade, porque as festas são da cidade e não apenas da Senhora do Monte. Foi um trabalho certamente levado a cabo pela Administração do Município, que é meritório da devida nota.

Mas não devia ser necessário esperar para entrar A gosto para se embelezar a cidade que ficaria bem mais bonita, se as ruas mantivessem também a sinalização horizontal sempre “em dia”, se não se pintassem quatro passadeiras por ano para disfarçar. Seria bem mais interessante se a cidade recebesse os seus visitantes, o ano todo, sempre de cara lavada, alegre, sempre bem “maquilhada”. A gosto lembra também que é preciso muito trabalho no sentido de resgatar o espírito de cidadania de todos os seus habitantes porque eles, sim, fazem a cidade que é vista como acolhedora. Se cada um fizer a sua parte, o Governo fará a sua parte sem tanto “sacrifício” e não se estará sempre a bater palmas porque o Governo fez.

A gosto também deu para ver a hecatombe que vai pelo Cemitério da Mitcha e provavelmente noutros, e constatar que, quando a selvajaria e a barbárie chegam ao ponto de serem destruídas campas e jazigos, muitos com mais, muito mais de meio século, pelo simples acto bárbaro, selvagem e irracional de pilhar e destruir, e nem sequer os mortos serem respeitados, é porque a sociedade encalhou num abismo muito profundo. 

E foi A gosto que deu também para ver que várias partes da cidade se assemelham a cemitérios, dada a falta de iluminação pública que parece ser reposta apenas onde “inglês vê”, o que torna esses lugares propícios a tudo, fazendo com que os vivos os evitem à noite. 

A gosto voltará no próximo ano. E os lubanguenses terão certamente uma palavra a dizer para voltar a fazer A gosto, com gosto! Para mostrar que o assunto é sério e a cidade será sempre uma referência no turismo nacional!

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