SOBRE A EVENTUAL VISITA DO PRESIDENTE AMERICANO A ANGOLA

Temos de fazer um bom trabalho para que nos tornem a vender novamente os dólares directamente. É possível, se fizermos bem o trabalho de casa, negociando e pedindo perdão abertamente pela corrupção, sem ter de esconder “o lixo por debaixo da mesa”.

MARIA LUÍSA ABRANTES

A propósito do anúncio pela comunicação social angolana sobre a visita do Presidente Biden a Angola, tem-me colocado a questão e a minha reflexão é a seguinte:

O Presidente Biden tem adiado uma visita à África, onde, desde o tempo do Presidente Trump, o Executivo angolano pretendia que fosse incluída Angola. Mas o Presidente Biden preconizou efectuar o périplo apenas se ganhasse as eleições, (o que pode ser entendido que não seria prioridade). 

Sempre entendi, que Angola não é JLO, não era JES, nem terá outro nome, a não ser mesmo “Angola”. Sempre pensei grande, contrariamente a maioria dos angolanos, que pensa pequeno (eu em primeiro lugar). O trabalho como co-fundadora de um Centro para África (e não apenas Angola), na Câmara Americana do Comércio americano, foi para fazer passar a mensagem directa, escrita e falada à Casa Branca e ao Senado, sobre África em geral e no caso particular de Angola, que sendo ligada pela fronteira com a RDC e a Zâmbia e pelo papel que o Corredor do Lobito já tinha no tempo dos portugueses, era de extrema importância. 

O Corredor do Lobito sempre foi uma das “bandeiras” pela qual valia a pena lutar, pela sua localização, assim como pela importância estratégica e geológica inegável, num país como Angola, pacificada pelo Presidente JES, que é uma placa giratória (palavra que hoje todos repetem) na região, que tem potencial máximo para se criar uma plataforma de negócios. Expliquei, que mesmo que só pretendessem vender (para criar mais empregos para os americanos), para além de venderem equipamentos e serviços, também poderiam adicionar valor com a montagem e formação aos angolanos no trabalho, e seria excelente para eles e bom para nós. 

Por outro lado, como tinham outras prioridades e não queriam correr riscos, para além de precisarem de mobilizar fundos para emprestar a Angola, eles poderiam, como no passado, recorrer à engenharia financeira (mobilização de financiamentos conjuntamente com bancos de outros países), não despendendo muito do seu capital interno (que pagariam com juros acrescidos e pelo comprador). 

A maior recompensa, é que seriam só eles a ganhar com a venda dos produtos e serviços de produção nacional (só deles) por ajuste directo. Isso resultou e o Chefe do Executivo ainda aumentou a encomenda, referindo o interesse na compra adicional de mais aviões e de equipamento militar.

Nessa base, as Administrações dos EUA (não apenas a presente) aventaram as hipóteses, da possibilidade de usarem a linha de crédito chinesa a Angola (que não resultou), assim como as linhas de crédito alemã e canadiana ao nosso país. 

Sempre repeti, que a política económica tem com finalidade fazer negócios e não fazer amigos políticos. Vejamos, que a China tem sido o maior credor (financiador) dos EUA. Olhemos para o exemplo da solicitação dos Estados Unidos à Rússia, para resgatar uma nave espacial americana, apesar do embargo a Rússia a pedido da Administração americana. De referir, que sempre existiram acordos de cooperação de pesquisa científica entre os EUA e a Rússia e entre os EUA e Cuba, (intercâmbio para estudo de questões ligadas a medicina). 

Todavia, ainda temos de fazer um bom trabalho para que nos tornem a vender novamente os dólares directamente. É possível, se fizermos bem o trabalho de casa negociando e pedindo perdão abertamente pela corrupção, sem ter de esconder “o lixo por debaixo da mesa”.

Legenda: O Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Angola nos Estados Unidos da América, Agostinho Van-Dúnem, entregando as cartas credenciais ao Presidente dos EUA, Joe Biden

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