QUANDO UM ROTUNDO FRACASSO SIGNIFICA UMA OPORTUNIDADE

(Muito a propósito da eliminação do APL na disputa de acesso à CAF Champions League 2024/2025)

Enfim, que haja coragem, para as devidas e ponderadas alterações de cenário nas hostes do Clube do Catetão, de modo que, no próximo retorno às Afro Taças, seja para devolver a respeitabilidade já alcançada em todos os quadrantes de África, onde o Tricolor deixou boas impressões e, com isso, quem muito beneficia é o nome e a imagem do futebol angolano!

POR: FREDERICO BATALHA

O Atlético Petróleos de Luanda, ao ter sido incapaz de, no último sábado, 21.09.2024, superar a derrota de 2 a 1 consentida na casa do AS Maniema da RDC, pois não foi além do empate a 0 (zero) no jogo da segunda mão em Luanda, desperdiçou a soberana circunstância de seguir fazendo história. Ou seja, em caso de passagem na eliminatória, o Petro de Luanda entraria pela sexta vez consecutiva na fase de grupos da CAF Champions League!

Mas, como a agremiação Tricolor, dessa vez, não conseguiu manter a necessária consistência de conjunto, que normalmente é resultado de uma sinergia entre a equipa técnica e os jogadores mobilizados para cada desafio, tendo como foco o objectivo delineado pela Direcção do Clube, em que, seguramente, não consta perder jogos a eliminar, nem jogos em fases de grupo. Dizíamos, ao falhar na arregimentação de um conjunto vitorioso, o APL acabou por atrapalhar/embaciar a sua própria trajectória de sucesso, que o guindou ao honroso Top 10 de Clubes de África, e disso só se pode queixar de si mesmo.

Vejamos alguns indicadores que podiam prenunciar a vinda futura do fracasso, que, infelizmente para a Nação Petroatleticana, chegou já no passado sábado:

  1. Não obstante os êxitos que a equipa foi tendo, sob comando de Alexandre Santos, nunca houve um consenso alargado, na base de apoio do Clube, de que se tinha um bom plantel e um tipo de jogo convincente. Sempre se contestou a fonte de pesquisa de jogadores para reforçar o Clube, que virou regra ser Portugal, e a forma como o referido treinador fazia os alinhamentos. Mas, como os resultados positivos lá estavam, o treinador saiu bem no retrato, a ponto de ter tido opções de escolha para assumir outros clubes no nosso continente. Estando presentemente na Tunísia.
  2. A confirmar que os bons resultados conseguidos, no tempo de Alexandre Santos, não agradaram suficientemente a Direcção do Clube, se registou o acordo entre as partes e o técnico teve uma saída pacífica. Permitindo, assim, que cada uma delas seguisse o seu caminho.
  3. Eis que, por uma incompreensível obsessão, a escolha do novo coach recaiu novamente para o mercado português, bem como, para a preparação da época 2024/2025, o local de estágio também seguiu sendo Portugal e idem a fonte de contratação de novos jogadores.
  4. Dizemos incompreensível obsessão, mas, em boa verdade, até sabemos que a recorrente orientação para o mercado luso vem do Responsável para o Futebol do Clube, Buno Vicente, que, por estar no esteio dos sucessos anteriores, se engradece, até à soberba, do seu trabalho e dita as regras de contratação de treinadores e jogadores segundo a sua real gana. Só que, agora, chegou a má nova: toda a estratégia de Bruno Vicente, suportada totalmente pela Direcção do Clube, fracassou!
  5. E como um fracasso nem sempre significa o fim de tudo, tem o Clube Petrolífero a oportunidade, que precisava, para a mudança de quadro, redesenhando o seu Projecto Futebol, isto é, há que se alterar as opções que vêm sendo empreendidas e seguidas até aqui, se o que se pretende é manter o nome do APL na fina flor dos clubes africanos e almejar a conquista de título continental num futuro próximo. 
  6. Pelo que, as medidas a tomar podem passar por:
  7. Mudar o Responsável para o Futebol do Clube ou diminuição do seu amplo espectro de competências, para permitir a adopção de uma nova forma de abordar o Projecto Futebol, incluindo a exploração de outros mercados para a contratação de técnicos e atletas;
  8. Como o novo treinador, Ricardo Chéu, ainda não foi testado o suficiente, para se aferir devidamente das suas capacidades técnico-tácticas, faz sentido dar a ele algum tempo, salvo se, aquando da sua contratação, já estivesse equacionado nomes alternativos para assumir o comando da equipa, se o objectivo chegar à fase de grupos fosse falhado como foi;
  9. Em relação ao plantel actual, é importante preservar as dinâmicas existentes e já consolidadas, para que a perspectiva do Clube de vencer em todas as competições de época, em que se envolve, se mantenha intacta no que resta do período competitivo 2024/2025;
  10. Mas, essa preservação de dinâmicas, não deve impedir a introdução de mais valias, que se afigurarem pertinentes ao plantel, quer a partir de jogadores recém-chegados ao Clube, como a partir das camadas de base, muito bem lapidadas por Flávio Amado e outros treinadores, que ainda lá estão; 
  11. E também não deve significar que, por mais de três consecutivos anos, o único que sabe defender a baliza do APL seja o Hugo Marques. Aliás, mesmo estando integrado nos êxitos anteriores vários são os dissabores e sustos que já causou e continua a causar, principalmente quando é chamado ou ele se atreve a jogar com os pés;
  12. Relativamente aos questionamentos, que se fazem, sobre o baixo número de jogos a doer realizados, o início algo tardio do Girabola e a não participação no torneio do Wiliete de Benguela com a sua equipa principal, em função de experiências já vivenciadas, não nos parece que tenham sido determinantes para o actual desaire, porque, noutros momentos, com o mesmo quadro circunstancial a safra foi amplamente positiva. Claro está que se tiver de mudar alguma coisa, que se mude, mas não estará aí a varinha de condão, já que esta, conforme dissemos acima, está nas opções de contratação, no espírito de compromisso de treinadores e atletas com os objectivos do Clube e na permanente galhardia exibida dentro dos recintos de jogos.

Enfim, que haja coragem, para as devidas e ponderadas alterações de cenário nas hostes do Clube do Catetão, de modo que, no próximo retorno às Afro Taças, seja para devolver a respeitabilidade já alcançada em todos os quadrantes de África, onde o Tricolor deixou boas impressões e, com isso, quem muito beneficia é o nome e a imagem do futebol angolano!

Quanto às palavras do Presidente do Clube, Tomás Faria, em relação ao destino de um treinador que falha em levar a equipa à fase de grupos, devem ser analisadas dentro do devido contexto, porquanto, aquela afirmação serve para valorizar o emblema Petro de Luanda e o peso específico que o Clube vem conquistando, ano após ano, na alta roda do futebol continental. Porém, essa valorização do emblema deve ser sempre acompanhada, no início de cada época, pela criação optimizada de condições humanas e de trabalho, para que o Clube esteja em permanência na mó de cima. A pergunta necessária é: terá a Direcção do Clube, no arranque da época, proporcionado ao plantel a melhor preparação possível e proporcionado ao novo treinador o melhor plantel possível, face aos objectivos traçados?! Fica a questão para a reflexão… 

Temos dito!

23.09.2024.

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