Dormir em paz e sossego.
Ter casa própria. De preferência com quintal, horta e jardim.
Ter água e luz 24 horas por dia.
Comprar pão quente logo de manhã.
Reunir toda a família na mesa do jantar.
Molhar um pedaço de pão com manteiga numa caneca de café quente.
Receber visitas com um chá de caxinde, cola e gengibre ou doce de coco.
Ir a uma festa e dançar até ficar todo suado.
Viver num bairro arborizado, sem lixo, nem poças de água suja.
Apanhar um transporte veloz, tipo comboio, para se deslocar a qualquer sítio.
Ter um banco com sombra onde se sentar e ler um jornal, um livro ou conversar com alguém, algures na cidade, a meio de uma caminhada.
Levar a família no fim de semana a visitar o jardim botânico ou o zoológico. Levar as crianças ao circo, ao cinema, ao carrossel ou à piscina.
Conduzir na via pública sem medo dos homens uniformizados.
Ter um emprego e receber no fim do mês o salário que dê para pagar a água, a luz, o IVA, a comida, a escola dos dependentes, os transportes, os medicamentos e as férias anuais.
Conhecer e poder falar com quem governa o bairro ou o município.
Não ter de se meter na política para singrar na carreira profissional.
Ter uma escola, um posto médico, um centro recreativo com cinema, um campo de futebol a uma distância razoável de casa.
Escutar os filhos falar da sabedoria ensinada na escola e não ouvi-los dizer apenas fococas.
Comprar um livro que não custe um quinto do salário mínimo.
Ir ao hospital público e receber um bom tratamento.
Ir a uma repartição do Estado e ser bem atendido.
Não ter de pagar gasosa para lidar com a burocracia.
A cada ano, gozar umas férias merecidas, de preferência aqui mesmo em Angola.
Saber prevenir a malária com tratamentos tradicionais do tempo do Rei Ngola Kiluanji (quando os invasores europeus não nos vendiam medicamentos).
Ver na televisão:
1. um programa semanal sobre a História de Angola;
2. uma vez por mês, uma emissão sobre a História da África;
3. um programa mensal de Cultura, que nos leve até à Zâmbia, aos Congos, à Namíbia, à África inteira, e que nos fale da música, da dança, do cinema, da literatura, das línguas e das tradições do nosso continente;
4. um programa mensal contra a violência doméstica, o “bullying” na escola e a protecção das crianças contra o tráfico internacional de pessoas;
5. um programa que aborde os temas mais candentes da Saúde em Angola e no Mundo;
6. um programa que ensine aos nossos alunos a verdadeira arte de estudar.
Conhecer um dijei que, além do kuduru, ponha também outras músicas a tocar nas festas das crianças.
Poder sair de Luanda e encontrar emprego no interior.
Ser respeitado e amado pelo trabalho que se faz e não pelo dinheiro que (não) temos.
Ter onde comer um bom frango kabiri com jindungo ou um bom carapau grelhado, a caminho de Malanje, do Bié ou do Namibe.
Saber para onde vai o dinheiro do petróleo e dos diamantes, do ouro, do ferro e de toda a produção nacional exportada.
Saber se o preço que o Estado paga por uma ponte é mesmo o preço dessa ponte.
Ter um Chefe de Estado ciente do seu tempo de governar e que não tenha medo de ser reformado.
Ver os ministros, governadores, directores e outros chefes aparecer na televisão só quando tiverem algo já feito e não para prometer coisas que nunca se concretizam.
Coisas simples do dia-a-dia de um país normal.
Coisas feitas de palavras comuns: trabalho, amor, casa, pão, água, luz, saúde, educação e liberdade.
Pequenas coisas da vida.
De fazer Angola um grande país.
[…] PEQUENAS COISAS DA VIDA […]