No dia 1 de abril de 2024, aviões israelitas bombardearam o Consulado (e residência do Embaixador) do Irão na Síria, acto que causou a morte imediata de vários oficiais de alta patente do exército iraniano.
Essa acção, perpetrada a mando do governo sionista de Israel, é a mais grave provocação, das várias que o Estado hebraico tem dirigido contra o país persa nas últimas décadas. Nos últimos anos, os ataques contra entidades iranianas têm sido praticados tanto pelo governo sionista, como pelos EUA, tal como ocorreu em 2020 com o assassinato do General Qassem Soleimani, um dos melhores estrategas militares deste primeiro quarto do século XXI.
Foi também nesse período que as autoridades iranianas, mesmo sob sanções das potências ocidentais, conseguiram implementar um processo de desenvolvimento económico e científico que, aliado à parceria estratégica com a China, Rússia e Coreia do Norte, elevou o Estado persa a um patamar tecnológico nunca antes visto na região.
Cientes das hostilidades permanentes de que o seu país tem sido alvo desde a Revolução de 1979, o governo do Irão desenvolveu um sistema de defesa moderno e temível, cujo exemplo recente ficou demonstrado com o lançamento de mísseis de alta precisão contra jihadistas em território paquistanês, em Janeiro do corrente ano, em resposta a um atentado terrorista, que vitimou mais de uma centena de cidadãos iranianos.
O Irão, que, em 2022, surpreendeu o mundo com o fornecimento de Drones Geran que ajudaram a Rússia a consolidar o curso dos seus avanços na Ucrânia, voltou a preocupar os seus inimigos com a precisão, velocidade e alcance dos mísseis balísticos lançados sobre o Baluchistão do Paquistão e outros alvos.
Perante este cenário, desde o ataque do governo sionista contra o consulado do país persa na Síria, o quotidiano em Israel nunca mais foi o mesmo. Mergulhado numa impopularidade externa e interna sem precedentes (em virtude dos assassinatos de civis e crianças em Gaza, do fracasso do plano de extinguir o Hamas e da não libertação de todos os reféns, seis meses depois dos ataques do seu exército contra os palestinos), o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu vê na continuidade da guerra a sua “última salvação”.
A impopularidade internacional do genocídio (televisionado) de que os palestinos têm sido vítima deteriorou a campanha eleitoral de Joe Biden, assim como afetou drasticamente a imagem da maioria dos governos ocidentais que são apoiantes “devotos” do regime sionista. Nas últimas semanas, foram noticiados diversos sinais de suposta ruptura entre Biden e Netanyahu, bem como críticas “mansinhas” de alguns governos europeus, tendo gerado uma situação de impasse para Israel, que foi forçado a não expandir o seu rasto de sangue sobre Rafah, e até mesmo a retirar de Gaza alguns batalhões das IDF.
Num dos momentos mais críticos da fracassada estratégia sionista em Gaza, o ataque criminoso contra o consulado do Irão na Síria era tudo o que necessitavam Netanyahu e seu círculo de horrores. Ao apostar numa das medidas mais graves do direito internacional (acto criminoso, que por sinal não foi e nem será condenado pelo Ocidente nem pela ONU), o primeiro-ministro de Israel esperava uma resposta iraniana que gerasse uma guerra total, que obrigasse à entrada dos EUA no conflito, visto que, em boa verdade, a “expertise” do Estado sionista resulta, em grande medida, mais de um processo de propaganda mediática, do que de uma capacidade real de confrontação com exércitos regulares de outros países. Em todos os momentos decisivos, Israel nunca enfrentou os seus adversários sem a participação norte-americana.
No caso de um ataque total do irão contra Israel, Biden seria obrigado a suspender o “braço de ferro” com Netanyahu (em virtude do sequestro da elite política norte-americana e europeia pelo lobby judeu) e, mais uma vez na história, as armas da maior potência militar do mundo atacariam um país soberano no Médio Oriente, para glória dos sionistas.
As autoridades iranianas vivem um verdadeiro dilema. Ao não responderem à gravíssima agressão contra a soberania do seu país, ficaria uma mancha irreversível na reputação do Estado persa, o que elevaria o ânimo dos seus inimigos na região e afetaria gravemente a popularidade do governo e do próprio Ayatollah. Por outro lado, uma retaliação do Irão directamente contra o território de Israel poderia originar um cenário perigoso, com consequências imprevisíveis para Israel, para o Irão e para a região.
As horas que antecedem a esperada resposta do Irão têm sido de pânico para Israel e para os EUA. Resta-nos saber, se as autoridades iranianas irão cair na jogada de Netanyahu, que pretende uma guerra regional que destrua o exitoso processo de desenvolvimento do país persa, ou, se optarão por uma resposta controlada e circunscrita, que repare a sua dignidade ferida, sem atiçar os desesperados senhores do inferno para o seu almejado culto à morte.
*Especialista em Relações Internacionais
12.04.2024