NECESSIDADE DE CONEXÃO E DE PERTENCIMENTO

RECADOS DA CESALTINA ABREU

“O egoísmo traz a ilusão de que o individual é mais importante que o colectivo, quando, na verdade, só traz solidão e isolamento”.

Esta frase traduz a ideia de que embora o egoísmo possa ser entendido como uma forma de autopreservação, na verdade, ele cria uma falsa sensação de importância individual que, a longo prazo, é prejudicial tanto para o indivíduo quanto para o colectivo, levando à solidão e ao distanciamento. E isto ocorre porque a pessoa egoísta foca-se excessivamente em si, esquecendo que a sua própria existência e bem-estar estão interligados com os outros e com o grupo ao qual pertencem e relacionam-se. Na verdade, ao priorizar o individual em excesso, o egoísmo pode levar ao isolamento, à solidão e a um sentimento de não pertencimento. 

Importa lembrar que o egoísmo não é uma característica inata do ser humano. Muito pelo contrário, é uma distinção aprendida e reforçada pelo contexto em que se vive, e que começa nas nossas relações primárias, e se instala na teia social, tornando-se uma cultura “transparente” nos nossos relacionamentos. 

Várias são as causas apontadas como geradoras do egoísmo, cuja origem se observa desde as experiências de vida nos círculos afectivos primários (família nuclear ou estendida), até às características individuais formatadas nas macro-relações sociais (religião, escola, estado), ou nos mecanismos de defesa na teia social. Compreender essas causas pode ajudar na identificação e no enfrentamento do comportamento egoísta, tanto individualmente quanto social. Elas são várias, desde baixa auto-estima, experiências de infância, modelos de comportamentos, recompensas por comportamentos egoístas, falta de desenvolvimento de sentimentos como empatia, solidariedade, entre outros. 

O sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, abordou a questão do egoísmo em algumas das suas obras, como “O Amor Líquido”, a “Vida Líquida” e a “Modernidade Líquida”. Nessas obras, ele examinou o impacto do individualismo e do egoísmo nas relações humanas, e a consequente fragilidade dos laços sociais na sociedade contemporânea. Segundo ele, onde predominam comportamentos egoístas, os laços sociais tornam-se cada vez mais frágeis e transitórios, porque as pessoas estão centradas em si mesmas. O egoísmo é um dos principais promotores da fragilidade social, corroendo os alicerces da confiança e da cooperação mútua.

Na sua ‘teoria da hierarquia das necessidades humanas’, o psicólogo norte-americano Abraham Maslow sinalizou a importância do pertencimento e da conexão social para o bem-estar psíquico das pessoas, contrastando com o foco excessivo no ‘eu individual’, gerador de desarticulação. Ele destacou a importância da realização pessoal e da autorrealização, desde que associadas ao senso comunitário. Por isso, enfatizou a importância de se pertencer a um grupo e de se sentir parte de algo maior (senso de propósito), do que o ‘eu individual’. O egoísmo desenfreado mina essa necessidade de conexão e de pertencimento, prejudicando os ambientes de vida e as relações como um todo.

Boa 4.ª feira, com Saúde, Cuidados e Coragem, porque a jornada para nos tornarmos pessoas mais empáticas é contínua, e requer dedicação e esforço; contudo, produzirá benefícios, para nós e para aqueles com quem convivemos e partilhamos espaços e ambientes de vida. O futuro e a humanidade agradecem! 

Kandando daqui!

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

PROCURAR